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ENERGIA NUCLEAR
Artigo da "Science" pede uma inspeção cuidadosa da AIEA em Resende; governo repudia atitude da revista
Brasil poderá fazer seis ogivas por ano, diz ONG dos EUA
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A usina de enriquecimento de
urânio instalada em Resende (RJ),
caso fosse configurada apropriadamente, poderia produzir combustível para várias bombas atômicas. O alerta, que adiciona desconfiança sobre as pretensões nucleares do país na comunidade internacional, foi dado por dois pesquisadores num artigo publicado
ontem na prestigiosa revista científica norte-americana "Science"
(www.sciencemag.org).
Segundo Liz Palmer e Gary Milhollin, ambos da ONG americana
Projeto Wisconsin para Controle
de Armas Nucleares, voltada para
o cumprimento dos acordos de
não-proliferação da tecnologia da
bomba atômica, a instalação de
Resende em sua configuração
atual poderia produzir urânio
enriquecido suficiente para seis
ogivas a cada ano. Segundo as
projeções de expansão da usina,
em 2010 esse número poderia aumentar para 26 a 31 ogivas anuais;
em 2014, para 53 a 63.
A dupla usa os números para
justificar a necessidade de uma
inspeção cuidadosa por parte da
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica), a fim de se certificar de que a usina será usada
somente para os fins declarados
pelo governo brasileiro -a produção de urânio enriquecido para
o abastecimento das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2.
Os inspetores da AIEA já terminaram seus trabalhos na instalação, mas não tiveram acesso às
centrífugas -peças centrais usadas para obter maiores concentrações de urânio-235 (a versão
mais instável da substância, usada
para produção de energia nuclear) nas amostras, processo chamado de enriquecimento.
Boas intenções
Os pesquisadores dizem não ter
razão para duvidar das boas intenções do país, pelo menos no
momento ("há pouca evidência
de que o Brasil realmente queira
se tornar uma potência com armas nucleares", eles escrevem),
mas temem que uma posição menos rígida da AIEA em relação ao
país acabe abrindo um precedente para que outros países, menos
confiáveis, exijam as mesmas
condições para as inspeções de
suas instalações nucleares.
As afirmações da dupla causaram reações no governo brasileiro. Por meio de nota, o Ministério
da Ciência e Tecnologia repudiou
a atitude da revista "Science" de
abrigar o artigo, que afirma ser
"de autores que desconhecem a
planta e a tecnologia brasileiras e
desconhecem o andamento das
negociações com a AIEA".
"A fragilidade da argumentação
e leviandade das afirmações só
podem ser devidas a uma grande
desinformação ou a interesses escusos, ambos motivos incompatíveis com uma revista científica do
prestígio e tradição da "Science'".
Segundo a nota, "afirmar que
"se algum dia o Brasil mudar de
idéia (sobre seus princípios de
não-proliferação), seu urânio
enriquecido a 3,5% já terá recebido mais da metade do trabalho
necessário para obter material para bomba" (tradução nossa) equivale a dizer que nenhum país pode ter acesso à tecnologia nuclear.
Mais ainda, significa partir do
princípio que os objetivos do país
são escusos", declarou o MCT.
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