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HERZOG - 30 ANOS
Ex-secretário de Segurança diz que "subversivos" eram "lobos em pele de cordeiro" e faz defesa "seletiva" da tortura
Erasmo Dias sustenta "suicídio" até hoje
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo aos 81 anos, o coronel
reformado Erasmo Dias fala com
voz firme e postura militar, seus
olhos claros a mirar o infinito como se estivesse reinvestido momentaneamente do cargo de secretário de Segurança Pública de
São Paulo, que ocupou de 1974 a
1979.
Quando se refere aos acontecimentos que levaram à morte do
jornalista Vladimir Herzog, Erasmo não hesita em defender a repressão contra o que ele chama de
ameaça comunista.
"Todos eles tinham cara de santo, mas não passavam de lobos
em pele de cordeiro", afirma Dias,
e Vladimir Herzog seria um deles.
Antes de ser nomeado para dirigir
o jornalismo da TV Cultura, Herzog teve sua vida esquadrinhada
pelo Serviço Nacional de Informações. Nada se encontrou, mas
Erasmo Dias insiste que ele era
um "agitador marxista".
O coronel diz que tinha apenas
papel auxiliar na repressão aos
grupos clandestinos, pois a tarefa
era centralizada nos organismos
de informação das Forças Armadas. Dessa maneira, afirma, não
esteve envolvido diretamente na
operação que resultou na morte
do jornalista. Mas sustenta até hoje, sem pestanejar, a versão do Inquérito Policial Militar que traz
um laudo que a Justiça considerou imprestável como prova de
que Herzog teria se matado. Não
faz o mesmo, no entanto, em relação à morte do operário Manuel
Fiel Filho, em janeiro de 1976.
Erasmo Dias conta que foi chamado pelo general Ferreira Marques, chefe do Estado Maior do 2º
Exército e responsável pelos organismos de repressão em São Paulo: "Erasmo, morreu outro cara lá,
dá para você ver isso para mim?".
O coronel afirma ter sido o primeiro a entrar na cela onde estava
o metalúrgico, acompanhado de
um legista. Viu um cadáver estirado no chão com meias, ou lenços,
não lembra ao certo, amarradas
no pescoço com um nó na frente.
Então perguntou ao médico qual
a probabilidade de ter havido um
suicídio. Teve como resposta que
havia essa possibilidade, embora
muito remota.
A versão de suicídio prevaleceu
por conveniência militar, mas
não impediu a demissão sumária
do comandante do 2º Exército,
Ednardo D'Ávila Mello.
Talvez com um atraso de três
décadas, o coronel afirma ter sido
sempre contra agressões a presos.
Hoje ele exibe uma visão seletiva
da tortura. "Para bandido vagabundo, desses que merecem até
pena de morte, você pode recorrer às vezes a certos expedientes,
mas institucionalizar a tortura, isso é estupidez." Dias considera
sobretudo perda de tempo: "Não
leva a nada porque, quando chega
em juízo, o sujeito nega tudo".
Embora partidário da repressão
aos adversários do regime militar,
o ex-secretário afirma que o DOI-Codi exagerou na dose e superestimou o potencial da subversão.
"Queriam mostrar serviço", diz.
Para ilustrar, rememora o cerco
a uma reunião do Partido Comunista do Brasil realizada na Lapa,
em 1976, em São Paulo. "Na sede
do PC do B, eu acho que a arma
maior que tinha lá devia ser um
lápis." Na manhã daquele 16 de
dezembro, o Exército montou
uma operação de guerra em que
morreram metralhados dois dirigentes do partido e pelo menos
um devido a torturas.
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