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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

O sentido político

Com pequena diferença de palavras, o ministro Antonio Palocci reiterou, a propósito do aumento de juros pelo governo que prometia baixá-los, a sua concepção de que as decisões do Banco Central têm natureza meramente técnica, não pertencendo, pois, à política. Nem ao menos se sujeitam a análise de sentido político, já disse Palocci.
É possível que tal concepção explique certos atos e palavras de Palocci desde sua tarefa na transição e venham a explicar outros. Mas não vai além disso, no confronto com a concepção imposta pela experiência histórica, segundo a qual todo passo, toda palavra, todo espirro do governo -qualquer governo- tem sentido político.
Mesmo que não o perceba, Antonio Palocci é o principal ministro político do governo, como seria um outro que ocupasse o "cargo técnico" de ministro da Fazenda. O desgaste que o continuísmo da política econômica está causando a Luiz Inácio Lula da Silva não é técnico, é político. E muito mais expressivo do que parece à primeira vista, resultando da incomum convergência de opiniões opostas.
Entre eleitores de Lula, o desgaste advém da inversão prática dos conceitos e compromissos do candidato e, desde muito antes, do seu partido. Vai mais longe, porém, o significado do aplauso unânime dos segmentos conservadores à política econômico-financeira do governo: ele desmoraliza o PT e os compromissos do candidato Lula. É compreensível que tantos não poupem o tom de escárnio no aplauso a atos e palavras do governo, como nos comentários a petistas notórios e seus saltos mortais, das convicções e da própria biografia para a constrangida defesa de teses e decisões que sempre repeliram.
Não há decisão meramente técnica na Fazenda nem no Banco Central. E a suposição de que haja é muito perigosa para o governo. É, por certo, um dos componentes da decisão de aumentar os juros de 25% para 25,5%. Meio por cento que de nada serve contra a inflação, ou seja, não se justifica tecnicamente mais do que a permanência dos 25%, e provoca um desgaste político imenso.


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