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RECEITA PETISTA
Presidente procura justificar aumento da taxa com metáfora médica e pede "paciência" para mudanças
Juro alto é remédio necessário, diz Lula
LEILA SUWWAN
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva utilizou ontem uma analogia
médica para justificar a decisão de
elevar a taxa dos juros, anunciada
anteontem pelo Banco Central.
Lula também pediu paciência em
relação às mudanças prometidas.
"É como se nós tivéssemos um
filho com febre e quiséssemos
mudar de médico e de medicamento. E, entre um médico e outro, esse filho tivesse febre. Você, talvez, tivesse que dar o mesmo
medicamento que foi a razão pela
qual você tirou a criança do médico", disse, em discurso durante a
posse do novo diretor-geral da
empresa Itaipu Binacional, Jorge
Samek, em Curitiba (PR).
A decisão do BC de elevar a taxa
básica anual de juros de 25% para
25,5% foi criticada por sindicatos
e entidades empresariais. O governo foi acusado de incoerência,
uma vez que criticava ações semelhantes do governo anterior.
A analogia com a febre foi feita
num momento do discurso de
Lula em que ele diz que a população está "otimista" e mantém a
"paciência" com o governo.
"Todas as pessoas sabem que há
um tempo [para as mudanças].
Nós precisamos apenas ter paciência", disse Lula.
Apesar de reafirmar que os
avanços começarão a surgir ainda
em 2003, lembrou que um "bom
técnico de futebol" não começa
ganhando, termina ganhando.
"Nós poderemos até cometer alguns erros, mas eu posso olhar na
cara de cada um de vocês e dizer
que não cometeremos o erro de
negar nenhum dos ideais que foi a
razão pela nós chegamos à Presidência da República", disse.
Segundo Lula, "chegou a hora
de o presidente da República (...)
provar se seremos capazes de fazer aquilo que a gente queria que
os outros fizessem quando nós
não estávamos no governo."
"Não adianta dar desculpas: "Eu
não fiz porque o outro não deixou", "eu não fiz porque a coisa está ruim". Se isso fosse verdade, nós nem concorreríamos porque nós
já conhecíamos a realidade."
Dirigindo-se aos ministros presentes -José Dirceu (Casa Civil),
Cristovam Buarque (Educação),
Dilma Rousseff (Minas e Energia)
e Samuel Pinheiro (interino das
Relações Exteriores)-, o presidente afirmou que não sacrificará
os investimentos sociais.
"Os ministros sabem que o orçamento está apertado. Mas cada
ministro sabe também que, se tivermos que cortar alguma verba
do Orçamento, nós não cortaremos verbas da área social", disse.
No evento, Lula levou várias vezes a mão ao ombro direito e contorceu o rosto, indicando sentir
dores causadas pela bursite (inflamação). Porém, não deixou de
cumprimentar a população que o
aguardava. De Curitiba, seguiu
para Porto Alegre, onde participa
hoje do Fórum Social Mundial.
Liderança regional
Lula disse que já teve encontros
com os presidentes de Argentina,
Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile,
Equador, Venezuela e Colômbia e
que todos têm demonstrado expectativa de que o Brasil assuma
uma liderança regional. "É impressionante como todos esses
países quase estão a exigir que o
Brasil lidere a América do Sul."
Afirmou ainda que "o Mercosul
nunca fracassou. O que fracassou
foram as políticas econômicas
brasileira e argentina, na medida
em que esses dois países trabalharam com uma moeda irreal, sobrevalorizada".
"Estou convencido de que o
nosso país, se quisesse, poderia
ter exercido de fato e de direito a
responsabilidade de uma política
afinada com toda a América do
Sul. Lamentavelmente, fomos colonizados por um país europeu",
afirmou o presidente.
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