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PORTO ALEGRE
Stedile afirma que taxa não deve baixar para que 'câmbio não desande'; Ivan Valente acha que governo começou mal
MST já defende alta dos juros, criticada pela esquerda do PT
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O líder do MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) João Pedro Stedile disse
ontem que, como economista,
entende a necessidade de não baixar a taxa de juros para que "o
câmbio não desande", enquanto
o deputado federal Ivan Valente
(SP), da esquerda petista, não só
criticou o aumento dos juros como quer chamar o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para
dar explicações à bancada do PT.
Anteontem, o Banco Central
elevou a taxa básica de juros de
25% para 25,5% ao ano.
Segundo João Pedro Stedile,
"baixar juros agora não significa
atingir os objetivos, porque o governo tem de desatar outros nós.
Como economista, posso fazer a
seguinte reflexão: se o governo
baixa os juros imediatamente, o
que é o desejo de todos, imediatamente a taxa de câmbio desanda,
porque os capitalistas especuladores que ainda estão no governo
transferem seu capital para dólar,
a taxa de câmbio vai a R$ 4 ou R$
5, e o povo paga na gasolina".
Apesar de se referir ao presidente do BC, Henrique Meirelles, como um "representante claro" do
capital no governo, Stedile reafirmou sua confiança no compromisso do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva com as mudanças.
"Ao seu tempo elas virão. Mudar o modelo econômico significa
manter BC sob custódia do presidente da República, baixar os juros, reorganizar nossa economia
para o mercado interno, distribuir renda. Nessas primeiras semanas, não estamos vendo mudança nenhuma, mas isso não significa que não virão", declarou.
Com um discurso predominantemente moderado, Stedile criticou porém a ida do presidente ao
Fórum Econômico Mundial, de
Davos: "Como presidente, Lula
tem suas avaliações. Como militantes sociais, dissemos: não vá,
porque é uma reunião de banqueiros que são os responsáveis
pelo Terceiro Mundo. Ele diz que
fará o mesmo discurso [de Porto
Alegre" em Davos. Na minha opinião, é jogar pérolas aos porcos,
porque as mudanças da sociedade não dependem do convencimento de banqueiros, dependem
de mobilização social."
O deputado federal Ivan Valente (SP), um dos líderes da esquerda petista, disse ontem que pretende solicitar que o ministro Antonio Palocci Filho seja convidado
para dar explicações sobre a alta
dos juros na reunião da bancada
no dia 31: "O aumento de juros vai
na contramão das propostas do
PT. Ninguém pode querer o tempo todo responder às expectativas
do mercado, que é irascível".
Segundo ele, que avalia que o
governo teve um "mau começo"
na área econômica, os cerca de 30
parlamentares ligados à esquerda
deverão se reunir antes do dia 31
para "preparar uma intervenção
organizada" junto à bancada.
Além do aumento dos juros,
Valente promete questionar Palocci sobre as discussões sobre a
independência do BC, sobre um
eventual aumento do superávit
primário e sobre o enfoque dado
até aqui à reforma da Previdência.
Colaborou a Reportagem Local
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