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São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

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Integrantes do Fórum Social percorreram ontem as ruas do centro de Porto Alegre e criticaram ações dos EUA contra o Iraque

Marcha reúne 70 mil contra Alca e guerra

PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Cerca de 70 mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar, promoveram uma marcha pelo centro de Porto Alegre, ontem, com muitas palavras de ordem contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), contra a provável guerra ao Iraque e contra o conflito no Oriente Médio.
"Lula/Eu quero ver/Um plebiscito contra a Alca acontecer" e "O palestino é meu amigo/Mexeu com ele, mexeu comigo" eram alguns dos gritos dos manifestantes, em meio a bandeiras brasileiras, venezuelanas, cubanas, argentinas, palestinas, iraquianas, do PT e do PSTU.
Cartazes com dizeres como "Bush, go to hell. Leave Amazonas, Alcântara [Bush, vá para o inferno. Saia do Amazonas e de Alcântara"", "Bush, tire as mãos do Brasil" e "Não derrame sangue por causa de petróleo e água" eram empunhados por manifestantes que gritavam "Brasil, Venezuela, Argentina/Fora imperialismo da América Latina".
"Vim contra todo tipo de violência, principalmente a guerra. O império anglo-americano diz que ninguém pode desenvolver armas, mas é lógico que ele tem o direito, e é isso que vai levar a um conflito armado", diz o comerciante José Azeredo Vianna, 65, de São Francisco de Paula (RS).
Ele carregava um cartaz que dizia "Fórum de Davos contabiliza lucros e aumenta a opreção [sic]".
O estudante de fisioterapia Mazen Hassan Baja, 21, participava da marcha com uma camiseta em que se lia, em português, inglês e francês, "Parem o monstro Sharon [Ariel Sharon, premiê de Israel]". Filho de palestinos, Baja diz que "Sharon piorou muito a situação no Oriente Médio. Inocentes estão morrendo na Palestina, e o mundo tem de fazer algo. Esperamos que os protestos tenham repercussão internacional para acabar com os massacres".
Segundo o estudante, uma representante palestina que viria para participar do fórum foi barrada no aeroporto de Tel Aviv (Israel), e ele espera que o Brasil ajude a pôr fim ao conflito. "O PT sempre ajudou a causa palestina, pois sabe que é uma causa justa."
Durante a marcha de abertura do 3º Fórum Social Mundial, houve críticas ao governo petista. "Esse governo começou mal, tem um banqueiro no Planalto Central", começou a gritar um homem em cima de um carro de som.
Em princípio, parte dos manifestantes vaiou. A pessoa que gritava insistiu no refrão e, pouco depois, simpatizantes do PSTU aderiram ao grito. Havia, porém, diversos cartazes de apoio ao governo e com a frase "A esperança venceu o medo".
Entre gritos de "Ianques, fora daqui/Abaixo a Alca e o FMI" e "Dívida externa/Não pago não/ Quero dinheiro para saúde e educação", a estudante sergipana Rosileide da Silva Vieira, 20, argumenta que "há muitas reivindicações nesta marcha pela paz, mas o importante é que todos cremos em um outro mundo".
Vieira integrava um grupo de 42 pessoas de Sergipe, Alagoas e Pernambuco que vestiam camisetas com a bandeira palestina e protestavam contra a Alca. Compareceram também representantes iraquianos que protestavam contra a provável guerra ao Iraque, como o professor Saad Kassem.
A maioria dos cartazes, em português, espanhol, francês, italiano, inglês e alemão, repudiava a provável ação militar no Iraque.
À noite, cerca de 110 mil pessoas se reuniram no Anfiteatro do Pôr do Sol, área aberta de Porto Alegre onde foram realizadas apresentações de capoeira e shows de música de diversos países latino-americanos.
"Como se espera de um país como o Brasil, só a música para amenizar as revoltas", defende a colombiana Maria Georges.


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