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DAVOS
Economistas na Suíça elogiam alta dos juros no Brasil e enfatizam necessidade de manter a ortodoxia nas políticas fiscal e monetária
Lula e Davos já falam a mesma língua
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O encontro anual 2003 do Fórum Econômico Mundial nem
havia começado ainda, quando o
empresário Roberto Teixeira da
Costa (Banco Sul América), quinto ano em Davos, soube do aumento de juros adotado na véspera no Brasil. "É o que Davos gostaria de ouvir", comentou.
Tem razão. Todos os comentários dos frequentadores habituais
de Davos enfatizam a necessidade
de o Brasil manter a ortodoxia na
política fiscal (o governo gastar
bem menos do que arrecada) e o
aperto monetário (juros altos).
"O governo Lula tem que agradar mais Davos que Porto Alegre,
por causa do elevado endividamento que herdou, sob pena de ir
ao calote, que seria o desastre",
sintetiza, por exemplo, Martin
Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico "Financial Times" e, como tal, uma espécie de grande oráculo de Davos e
da comunidade de negócios.
Para Wolf, "a questão central é
se o governo Lula pode sustentar
disciplina fiscal e política monetária apertada este ano. Se puder,
será um ano duro, mas dentro de
dois ou três anos estarão dadas as
condições para um prolongado
período de crescimento sustentado". Mesmo uma economista
menos ortodoxa louva o fato de
que o governo do PT está anunciando a manutenção (no mínimo) do superávit fiscal acertado
pelo governo anterior com o Fundo Monetário Internacional.
Prudência fiscal
"Prudência fiscal é a melhor forma de contrato social", diz Nancy
Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global
(EUA), depois de ter trabalhado
vários anos no Banco Mundial,
como especialista em programas
de combate à pobreza, a outra
prioridade do PT.
Nancy Birdsall vê profundas
consequências políticas no sucesso de um governo como o de Lula.
"Se ele conseguir a reforma social
com prudência fiscal, será a morte
do populismo", atreve-se a prever
a economista, pós-graduada pela
legendária Universidade Yale.
Outro heterodoxo, Dani Rodrik
(Harvard), crítico frequente do
fanatismo pelo livre comércio,
acha que Lula não precisa "estourar as contas públicas" para fazer
as reformas sociais que prometeu
na campanha. É mais uma questão de eficiência do que de recursos, acha Rodrik.
Mas é óbvio que o pensamento
ortodoxo em Davos eleva os
aplausos a Lula à mais alta sonoridade. "Lula está criando um imagem mundial muito forte e positiva", acredita Gail Fosler, vice-presidente e economista-chefe da
"Conference Board", um conglomerado de pesquisa sobre negócios que reúne 3.000 corporações
em 67 países e, nos Estados Unidos, mede a confiança do consumidor, um indicador crítico.
Imagem positiva
É claro que a "imagem positiva"
vem do fato de que, na visão de
Fosler, "o novo ministro da Fazenda fez todos os movimentos
corretos". Ou seja, fez todos os
movimentos que Porto Alegre
critica mas que Davos aplaude.
Por isso, Moisés Naím, ex-ministro venezuelano e hoje editor
da publicação trimestral "Foreign
Policy", exagera: "Lula entregou a
política econômica a Wall Street e
a política externa ao PT". É uma
alusão às gestões de Lula na crise
da Venezuela, vistas como favoráveis ao presidente Hugo Chávez,
do qual Naím é feroz crítico.
A economista Gail Fosler disse
também que estava "impressionada" com o início do governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil tem em relação à
América Latina, um papel similar
dos Estados Unidos em relação a
economia global", disse Gail, que
está participando do 33º Fórum
Econômico nesta cidade.
"O governo de Lula está dando
sinais de que promoverá uma política sólida para tentar resolver o
problema da dívida pública, com
a manutenção de uma firme política fiscal e adoção de reformas. O
País está indo na direção certa",
afirmou.
Brasil e China
Segundo Gail, o Brasil é um país
com características semelhantes
às da China, país que vem alcançando avanços significativos na
área econômica. "Como a China,
o Brasil tem uma grande população, uma economia dinâmica e
produtiva e poderá através de reformas que criem estruturas econômicas sólidas, obter avanços
importantes nas próximas décadas", afirmou.
A economista salientou que a situação da América Latina ainda é
determinada pela política. "Por
isso é fundamental a criação de
estruturas econômicas sustentáveis na região e que sejam imunes
às mudanças de caráter político".
Gail também elogiou o fato de o
presidente Lula participar do Fórum Econômico e isto poderá reforçar ainda mais o sentimento
positivo no exterior em relação ao
novo governo federal.
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