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Custo por paciente de Aids caiu de US$ 4.700 para US$ 2.500 no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando José Serra assumiu o
Ministério da Saúde, em março de
1998, a lei que garante a distribuição dos remédios aos pacientes de
Aids já tinha quatro anos. O coquetel com drogas de última geração estava na rede pública desde
1997. A política para Aids, no Brasil, vinha sendo construída desde
o meio da década de 80.
O desafio de Serra foi o alto custo dos remédios. Foi na sua gestão
que surgiram algumas das drogas
mais promissoras, já protegidas
pela lei de patentes, e por isso
mesmo muito mais caras.
A lei de patentes, aprovada em
maio de 1996, estabeleceu que as
drogas registradas a partir daquela data teriam seus direitos de
propriedade protegidos. As outras -que já estavam no mercado- poderiam ser copiadas, como, aliás, já vinham sendo.
Dos 14 medicamentos contra o
HIV na rede pública, três estão
protegidos pela lei de patentes.
São justamente os mais caros.
Só em 2000, duas dessas drogas
(o nelfinavir e o efavirenz) consumiram 39% dos US$ 303 milhões
gastos com o coquetel inteiro. Os
custos saltariam ainda mais com a
compra do Kaletra, o último remédio da lista do ministério.
O custo dessas drogas poderia
inviabilizar o programa de Aids.
Serra então valeu-se de um artigo
da lei de patentes que permite um
"licenciamento compulsório" (a
quebra temporária de uma patente) em caso de urgência nacional
ou questão de saúde pública. Os
remédios para Aids estavam nessa situação, pois significavam a vida ou morte dos pacientes.
O ministro teve de enfrentar
dois adversários ao mesmo tempo, os laboratórios multinacionais e o governo americano. Os
EUA levaram a questão para o tribunal máximo: a Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Avalizado pelo governo e com o
apoio da sociedade civil, Serra ganhou os dois rounds. Os EUA retiraram sua queixa na OMC e os
laboratórios -ameaçados de terem suas patentes quebradas pelo
ministro- reduziram os preços
dos remédios mais caros. As reduções variaram de 46% a 87,6%.
A vitória na OMC inaugurou o
conceito de que os laboratórios
não podem extrair lucro igual de
povos com posses tão diferentes,
como são americanos, brasileiros
ou senegaleses. O argumento é
defendido por ONGs do mundo
todo, mas dessa vez o embate se
dava entre governos.
O custo por paciente de Aids
caiu no Brasil de US$ 4.700 em
2000 para US$ 2.500 em 2002. É
um quinto do que pagam os americanos. A estratégia de exigir o
acesso a todos os medicamentos
-posição cobrada pelas ONGs e
assumida pela Coordenação Nacional de Aids- resultou numa
queda de 50% na taxa de mortalidade entre 1995 e 1999. Entre 1997
e 2000, os remédios evitaram 234
mil internações, uma economia
de US$ 677 milhões.
É bastante, mas cerca de cem
pacientes continuam morrendo
por mês, apenas em São Paulo, e
os investimentos em prevenção
não cresceram. Nos países vizinhos, a epidemia vem aumentando, e os governos não têm políticas próprias. As ONGs estão defendendo que o Brasil assuma a liderança no continente.
"Ao produzir a maioria dos medicamentos e podendo quebrar a
patente de outros, o Brasil assumiria um papel de solidariedade
único, exportando os remédios a
preços mais baratos", defende
Mario Scheffer, ativista do movimento Aids e membro do Conselho Nacional de Saúde.
(AB)
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