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Para especialistas, José Serra colocou o vício como questão de saúde pública, mas privilegiou as medidas de efeito
Gestão buscou impacto contra o fumo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
José Serra foi o ministro dos sonhos dos que consideram o cigarro o inimigo número um da saúde
pública. Nunca o fumo havia sofrido tantos ataques.
Mas, mesmo nas fileiras antitabagistas, o ex-ministro encontra
críticos, segundo os quais teria
preferido medidas de impacto às
de maior eficácia, resultando numa política que assusta o fumante
em vez de oferecer tratamento.
Serra tirou o debate sobre o fumo do mundo acadêmico com
cinco medidas de impacto:
1. Baniu a publicidade de cigarro da televisão;
2. Proibiu que os fabricantes patrocinem eventos esportivos e
culturais a partir do próximo ano;
3. Introduziu nos maços, a partir deste mês, imagens que mostram as consequências do fumo;
4. Obrigou os fabricantes a retirar dos maços, a partir deste mês,
termos como "light" e "suave"
por induzirem a idéia de que um
cigarro faz menos mal que outros;
5. Estabeleceu, a partir deste
mês, limites mais baixos para o
teor de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono nos cigarros.
"O Serra teve a sorte de pegar a
sociedade mais madura para a
gravidade do cigarro. Por isso fez
mais do que outros ministros da
Saúde", diz Mario Albanese, da
Adesf (Associação em Defesa da
Saúde do Fumante).
O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que a gestão de Serra foi "positiva", mas faz ressalvas: acha que
o ex-ministro "fez o mais fácil e o
que tem maior visibilidade".
Serra, segundo ele, não adotou a
medida mais eficaz para reduzir o
consumo: o aumento do preço do
cigarro. "O cigarro no Brasil é um
dos mais baratos do mundo, e ele
não quis enfrentar esse lobby."
Faltou também, para o psiquiatra, o Ministério da Saúde oferecer tratamento ao fumantes e
criar um fundo permanente para
campanhas antifumo. Na Califórnia, segundo Laranjeira, de cada
maço vendido, US$ 0,25 vão para
um fundo contra o fumo, que faz
campanhas em escolas e na TV.
O pneumologista Alexandre
Milagres, que estuda cigarro há 25
anos e fez especialização na Universidade de Estrasburgo (França), diz que a omissão maior foi a
de Fernando Henrique Cardoso.
"Uma epidemia que mata 100
mil pessoas ao ano, como é a do
cigarro, deveria ser encampada
pelo próprio presidente. Bill Clinton e Tony Blair fizeram isso", diz.
Só com o aval do presidente,
acredita Milagres, seria possível
editar medida proibindo a venda
de cigarros em qualquer ponto.
A Folha procurou a Souza Cruz,
a Philip Morris e a Abifumo (Associação Brasileira da Indústria
do Fumo) para que comentassem
a gestão Serra, mas nenhuma se
pronunciou. Por meio de nota, a
Philip Morris diz serem "exageradas" as imagens e advertências
que serão impressas nos maços.
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