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BAHIAGATE
Em depoimento na Polícia Federal, Adriana Barreto volta a acusar senador
PF diz fechar cerco a mandante de grampo e decide ouvir ACM
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A advogada Adriana Barreto,
ex-namorada do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA),
afirmou à Polícia Federal e a procuradores Ministério Público que
o parlamentar disse a ela ser o
mandante dos grampos telefônicos instalados na Bahia.
Com o depoimento de Adriana
e de seu marido, o também advogado Plácido Faria, tomados entre a noite de anteontem e a madrugada de ontem em Brasília, a
PF diz que o cerco ao mandante
dos crimes está fechado.
ACM é o principal suspeito de
ter mandado grampear 232 telefones na Bahia, entre eles o do casal e dos deputados Geddel Vieira
Lima (PFL-BA) e Nelson Pellegrino (PT-BA), seus desafetos. O senador nega as acusações. Ontem,
não quis falar com a Folha sobre
os depoimentos.
"Eles [Adriana e Plácido] fortaleceram os indícios que já existiam e canalizaram as investigações para um eventual destinatário. O cerco está se fechando ao
mandante", disse o delegado Gesival Gomes de Souza, sem citar
nomes, na madrugada de ontem.
Os depoimentos, iniciados às 20h
de anteontem, terminaram às
3h30, na sede da PF.
Diante das declarações do casal,
a PF e o Ministério Público afirmaram pela primeira vez que o
senador será convocado para depor, provavelmente após o Carnaval. Como tem foro privilegiado por ser parlamentar, ACM tem
a prerrogativa de indicar data e local para ser ouvido pela PF.
Apesar da contundência dos relatos, os primeiros nos quais o nome do senador foi citado no inquérito, o casal não apresentou
provas contra ACM.
Souza, no entanto, afirmou que
não esperava por provas documentais. "O doutor Plácido trouxe recortes de jornais que ainda
não sei se serão utilizados. A importância deles no caso é reforçar
indícios", disse.
"Trata-se de um crime de mando. Eu fui grampeado pelo senador Antonio Carlos Magalhães",
afirmou Faria ao deixar a PF.
A ex-namorada de ACM se
emocionou ao falar, pela primeira
vez oficialmente, sobre o caso. Ela
chorou e afirmou que estava aliviada por contar tudo. Disse ainda que o senador a avisou que iria
grampear Faria e fez comentários
que indicavam ter ciência de conversas privadas de seus adversários políticos na Bahia. Adriana
não deu entrevistas.
A advogada também contou
que o senador havia garantido a
ela que não iria grampear seu telefone. Um dos pontos mais importantes de seu depoimento, que está sob sigilo conforme decisão da
Justiça, foi que ACM teria dito a
ela ser o responsável pela indicação da ex-secretária de Segurança
Pública da Bahia Kátia Alves para
o comando da pasta.
Esse seria mais um elo entre
ACM e as escutas, que foram realizadas no período em que a ex-secretária esteve à frente da Segurança Pública.
Anteontem à noite, o senador
Juvêncio Fonseca (PMDB-MS),
presidente da Comissão de Ética
do Senado, foi impedido por procuradores, de posse de uma liminar da Justiça, de acompanhar o
depoimento do casal.
A medida gerou uma crise entre
o Judiciário e o Senado. Fonseca
recorreu da decisão, que determina sigilo e impede os senadores de
acompanharem os depoimentos,
e, ontem à tarde, conseguiu uma
liminar que derruba a proibição.
Com a nova decisão, o senador
pretende assistir hoje depoimentos marcados para Salvador, entre
eles o do delegado Valdir Barbosa, que solicitou os grampos, e do
assessor da Secretaria da Segurança Pública Alan Farias, que operava as escutas telefônicas, considerados fundamentais para reunir
provas contra o mandante.
A ex-secretária Kátia Alves e
funcionários da Segurança Pública da equipe chefiada por Farias
também poderão ser ouvidos nesta semana. Os servidores executavam as interceptações e cuidavam
da transcrição das fitas.
As instituições que investigam o
caso a pedido do Ministério da
Justiça -Ministério Público Federal, Ministério Público da Bahia
e Polícia Federal- estudam indiciar os envolvidos no caso em até
quatro crimes: escuta ilegal (os
grampos), falsidade ideológica
(adulteração de despachos da Justiça), prevaricação e formação de
quadrilha (só na central montada
para fazer as escutas trabalhavam
cinco pessoas). Na quarta, Souza
suspenderá as investigações até o
final do Carnaval. Ele pedirá novo
prazo para concluir o inquérito.
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