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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

Em depoimento na Polícia Federal, Adriana Barreto volta a acusar senador

PF diz fechar cerco a mandante de grampo e decide ouvir ACM

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A advogada Adriana Barreto, ex-namorada do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), afirmou à Polícia Federal e a procuradores Ministério Público que o parlamentar disse a ela ser o mandante dos grampos telefônicos instalados na Bahia.
Com o depoimento de Adriana e de seu marido, o também advogado Plácido Faria, tomados entre a noite de anteontem e a madrugada de ontem em Brasília, a PF diz que o cerco ao mandante dos crimes está fechado.
ACM é o principal suspeito de ter mandado grampear 232 telefones na Bahia, entre eles o do casal e dos deputados Geddel Vieira Lima (PFL-BA) e Nelson Pellegrino (PT-BA), seus desafetos. O senador nega as acusações. Ontem, não quis falar com a Folha sobre os depoimentos.
"Eles [Adriana e Plácido] fortaleceram os indícios que já existiam e canalizaram as investigações para um eventual destinatário. O cerco está se fechando ao mandante", disse o delegado Gesival Gomes de Souza, sem citar nomes, na madrugada de ontem. Os depoimentos, iniciados às 20h de anteontem, terminaram às 3h30, na sede da PF.
Diante das declarações do casal, a PF e o Ministério Público afirmaram pela primeira vez que o senador será convocado para depor, provavelmente após o Carnaval. Como tem foro privilegiado por ser parlamentar, ACM tem a prerrogativa de indicar data e local para ser ouvido pela PF.
Apesar da contundência dos relatos, os primeiros nos quais o nome do senador foi citado no inquérito, o casal não apresentou provas contra ACM.
Souza, no entanto, afirmou que não esperava por provas documentais. "O doutor Plácido trouxe recortes de jornais que ainda não sei se serão utilizados. A importância deles no caso é reforçar indícios", disse.
"Trata-se de um crime de mando. Eu fui grampeado pelo senador Antonio Carlos Magalhães", afirmou Faria ao deixar a PF.
A ex-namorada de ACM se emocionou ao falar, pela primeira vez oficialmente, sobre o caso. Ela chorou e afirmou que estava aliviada por contar tudo. Disse ainda que o senador a avisou que iria grampear Faria e fez comentários que indicavam ter ciência de conversas privadas de seus adversários políticos na Bahia. Adriana não deu entrevistas.
A advogada também contou que o senador havia garantido a ela que não iria grampear seu telefone. Um dos pontos mais importantes de seu depoimento, que está sob sigilo conforme decisão da Justiça, foi que ACM teria dito a ela ser o responsável pela indicação da ex-secretária de Segurança Pública da Bahia Kátia Alves para o comando da pasta.
Esse seria mais um elo entre ACM e as escutas, que foram realizadas no período em que a ex-secretária esteve à frente da Segurança Pública.
Anteontem à noite, o senador Juvêncio Fonseca (PMDB-MS), presidente da Comissão de Ética do Senado, foi impedido por procuradores, de posse de uma liminar da Justiça, de acompanhar o depoimento do casal.
A medida gerou uma crise entre o Judiciário e o Senado. Fonseca recorreu da decisão, que determina sigilo e impede os senadores de acompanharem os depoimentos, e, ontem à tarde, conseguiu uma liminar que derruba a proibição.
Com a nova decisão, o senador pretende assistir hoje depoimentos marcados para Salvador, entre eles o do delegado Valdir Barbosa, que solicitou os grampos, e do assessor da Secretaria da Segurança Pública Alan Farias, que operava as escutas telefônicas, considerados fundamentais para reunir provas contra o mandante.
A ex-secretária Kátia Alves e funcionários da Segurança Pública da equipe chefiada por Farias também poderão ser ouvidos nesta semana. Os servidores executavam as interceptações e cuidavam da transcrição das fitas.
As instituições que investigam o caso a pedido do Ministério da Justiça -Ministério Público Federal, Ministério Público da Bahia e Polícia Federal- estudam indiciar os envolvidos no caso em até quatro crimes: escuta ilegal (os grampos), falsidade ideológica (adulteração de despachos da Justiça), prevaricação e formação de quadrilha (só na central montada para fazer as escutas trabalhavam cinco pessoas). Na quarta, Souza suspenderá as investigações até o final do Carnaval. Ele pedirá novo prazo para concluir o inquérito.


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