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São Paulo, segunda-feira, 24 de fevereiro de 2003

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RELIGIÃO X ESTADO

Nova entidade, que inclui políticos petistas, tem como objetivo conquistar mais espaço no governo

Evangélicos criam fórum para pressionar Lula

MARCELO BERABA
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

Insatisfeitos com a pouca participação no governo Lula, religiosos e políticos ligados ao PT, à Igreja Universal do Reino de Deus e ao ex-governador Anthony Garotinho (PSB) formaram o Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp).
O objetivo é pressionar por mais espaço para os evangélicos no governo. Participam da fundação do fórum políticos evangélicos com posições bem distintas, como Marina Silva (ministra do Meio Ambiente) e o senador Paulo Octávio (PFL-DF), amigo do ex-presidente Fernando Collor.
Segundo o deputado Walter Pinheiro (BA), ex-líder do PT na Câmara e da Igreja Batista, os evangélicos ainda não se sentem representados nos conselhos de Segurança Alimentar (Consea) e no de Desenvolvimento Econômico e Social. "O fórum não deve pedir ao governo. Quem pede é mendigo, que fica atrás de migalhas, e o povo evangélico não precisa disso. O fórum tem que dizer o seguinte: "olha, vocês querem contar com a gente? Nós estamos à disposição, mas, se não quiserem, um abraço."
Pinheiro criticou o próprio presidente pela falta de diálogo com os evangélicos. Ele disse que, em 18 de dezembro, numa reunião com a bancada do PT, Lula pediu a ele que marcasse um encontro com líderes evangélicos, mas a reunião nunca ocorreu por falta de espaço na agenda presidencial.
Segundo ele, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, ligou para ele e para o senador Magno Malta (PL-ES), batista, pedindo nomes de evangélicos para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Os nomes, porém, não foram incluídos na conselho. Os indicados foram os pastores Silas Malafaia, da Assembléia de Deus, e Nilson Fanini, presidente da Convenção Batista Brasileira. "Sugerimos os nomes, mas eles não botaram ninguém. Fizeram um papelão. O problema é que [José] Graziano e Frei Betto conduzem aquilo como querem", disse Pinheiro. Graziano é ministro extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome e principal dirigente do Fome Zero. Frei Betto é amigo e conselheiro de Lula.
"Existe uma mão invisível que de toda forma quer nos alijar do processo", afirmou o bispo Robson Rodovalho, presidente do Fenasp e dirigente da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.
A nova entidade pretende atuar de forma similar à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que representa institucionalmente a Igreja Católica.
Seu Conselho Político é presidido pelo senador Malta e tem entre seus onze membros o Bispo Rodrigues (PL-RJ), da Universal, o ex-governador Garotinho, presbiteriano, a ministra Marina Silva, da Assembléia de Deus, o senador Paulo Octávio, da Sara Nossa Terra, os deputados Gilmar Machado (PT-MG) e João Leite (PSB-MG), ambos batistas, além de Pinheiro.
Com a exceção dos petistas, os fundadores da entidade apoiaram Lula apenas no segundo turno. No primeiro, estiveram com Garotinho. Um segmento de evangélicos não-petistas que apoiou Lula desde o primeiro turno não foi convidado para o fórum.
Deste segmento surgiu a primeira reação à entidade. O pastor Levi Correia de Araújo, da Primeira Igreja Batista de Santo André (SP), considera o fórum um equívoco porque deixou de fora os setores que considera mais progressistas dos evangélicos.
"Há [na diretoria do Fenasp] muitas pessoas sérias e bem intencionadas, mas a maioria é fisiológica. O PT e o governo estão fortalecendo setores mais à direita do movimento evangélico. Eles querem falar pelos evangélicos, mas somos diferenciados e não temos papa."


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