São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 2007

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Para UDR, ministro faz apologia ao crime e avaliza os sem-terra

Declarações de Cassel sobre invasões irritam ruralistas, que apontam viés ideológico em política de reforma agrária

Em entrevista à Folha, ministro afirmou serem compreensíveis algumas invasões, como em casos reconhecidos de grilagem


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA EM PIQUEROBI

Representantes de entidades ruralistas criticaram a declaração do ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) na qual, em entrevista publicada ontem pela Folha, afirma que algumas invasões de terra "são, no limite, compreensíveis", citando como exemplos casos comprovados de grilagem de terra e de trabalho escravo.
Termos como "besteira" e "apologia ao crime" foram usados ontem por representantes de fazendeiros para atacar o ministro petista.
Sem-terra ligados a José Rainha Jr. e agricultores de sindicatos rurais controlados pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) invadiram 13 fazendas no oeste de São Paulo desde o domingo passado. As invasões geraram troca de farpas entre os sem-terra, governos federal e estadual e ruralistas ao longo da semana.
O presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Luiz Antônio Nabhan Garcia, 46, afirmou que a declaração do ministro é "gravíssima e inaceitável". "Dessa forma ele faz apologia ao crime, porque invasão é crime em qualquer circunstância", disse Nabhan.
Segundo Leôncio Brito, presidente da comissão de Assuntos Fundiários da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o ministro traz intranqüilidade a quem produz. "O direito da propriedade está definido na Constituição", afirmou.
"Não tem sentido um sujeito na posição de ministro falar uma besteira dessa", disse João Bosco Alteiro Leal, presidente no MNP (Movimento Nacional de Produtores). "Não existe meia gravidez. Ou se cumpre a lei ou não se cumpre."
Para Césario Ramalho, presidente nacional da SRB (Sociedade Rural Brasileira), o ministro Cassel deve se retratar. "Foi uma infelicidade do ministro que me traz muita preocupação. A legislação é que deve punir o trabalho escravo, por exemplo, e não o movimento social. Espero que o ministro se retrate", disse.
O presidente da UDR disse ainda que o atual ministro e o anterior, Miguel Rosseto "compartilham com o vandalismo e desrespeito ao Estado de Direito que o MST pratica".
"Não há compreensão para qualquer delito. Por isso a reforma agrária não anda. É uma favelização rural", disse. Para o ruralista, o posicionamento do ministro "mostra o vínculo ideológico de quem comanda a reforma agrária no país".
A assessoria do ministro Guilherme Cassel informou que ele "deixou claro" na entrevista dada à Folha que "é sempre a favor da aplicação da lei".
Já o ex-ministro Miguel Rossetto disse não estar "acompanhando o debate", "por estar afastado, preparando o congresso do PT".


Colaborou THIAGO REIS, da Agência Folha

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