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Para UDR, ministro faz apologia ao crime e avaliza os sem-terra
Declarações de Cassel sobre invasões irritam ruralistas, que apontam viés ideológico em política de reforma agrária
Em entrevista à Folha, ministro afirmou serem compreensíveis algumas invasões, como em casos reconhecidos de grilagem
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA EM PIQUEROBI
Representantes de entidades
ruralistas criticaram a declaração do ministro Guilherme
Cassel (Desenvolvimento
Agrário) na qual, em entrevista
publicada ontem pela Folha,
afirma que algumas invasões
de terra "são, no limite, compreensíveis", citando como
exemplos casos comprovados
de grilagem de terra e de trabalho escravo.
Termos como "besteira" e
"apologia ao crime" foram usados ontem por representantes
de fazendeiros para atacar o
ministro petista.
Sem-terra ligados a José Rainha Jr. e agricultores de sindicatos rurais controlados pela
CUT (Central Única dos Trabalhadores) invadiram 13 fazendas no oeste de São Paulo desde o domingo passado. As invasões geraram troca de farpas
entre os sem-terra, governos
federal e estadual e ruralistas
ao longo da semana.
O presidente da UDR (União
Democrática Ruralista), Luiz
Antônio Nabhan Garcia, 46,
afirmou que a declaração do
ministro é "gravíssima e inaceitável". "Dessa forma ele faz
apologia ao crime, porque invasão é crime em qualquer circunstância", disse Nabhan.
Segundo Leôncio Brito, presidente da comissão de Assuntos Fundiários da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o ministro
traz intranqüilidade a quem
produz. "O direito da propriedade está definido na Constituição", afirmou.
"Não tem sentido um sujeito
na posição de ministro falar
uma besteira dessa", disse João
Bosco Alteiro Leal, presidente
no MNP (Movimento Nacional
de Produtores). "Não existe
meia gravidez. Ou se cumpre a
lei ou não se cumpre."
Para Césario Ramalho, presidente nacional da SRB (Sociedade Rural Brasileira), o ministro Cassel deve se retratar. "Foi
uma infelicidade do ministro
que me traz muita preocupação. A legislação é que deve punir o trabalho escravo, por
exemplo, e não o movimento
social. Espero que o ministro se
retrate", disse.
O presidente da UDR disse
ainda que o atual ministro e o
anterior, Miguel Rosseto
"compartilham com o vandalismo e desrespeito ao Estado
de Direito que o MST pratica".
"Não há compreensão para
qualquer delito. Por isso a reforma agrária não anda. É uma
favelização rural", disse.
Para o ruralista, o posicionamento do ministro "mostra
o vínculo ideológico de quem
comanda a reforma agrária no
país".
A assessoria do ministro
Guilherme Cassel informou
que ele "deixou claro" na entrevista dada à Folha que "é sempre a favor da aplicação da lei".
Já o ex-ministro Miguel Rossetto disse não estar "acompanhando o debate", "por estar
afastado, preparando o congresso do PT".
Colaborou THIAGO REIS, da Agência Folha
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