São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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CASO JERSEY

É a primeira vez que uma autoridade do país cita o nome do ex-prefeito

Procurador suíço confirma investigação sobre Maluf

ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A GENEBRA

O procurador-geral de Genebra, Bernard Bertossa, confirmou à Folha que existe uma investigação judicial sobre o dinheiro que o ex-prefeito paulistano Paulo Maluf manteve depositado na Suíça e depois transferiu para Jersey, um paraíso fiscal no canal da Mancha.
"Posso confirmar que existe na Suíça uma investigação judicial em relação aos ativos pertencentes ao sr. Maluf e a pessoas próximas a ele. Essa investigação é conduzida em conexão com a investigação existente em Jersey", disse Bertossa.
É a primeira vez que uma autoridade suíça confirma oficialmente que o ex-prefeito está sob investigação no país. Maluf vinha negando a informação, transmitida à imprensa brasileira por promotores de Justiça e procuradores da República brasileiros.
A declaração de Bertossa indica a existência de outra investigação contra Maluf, mas em Jersey. A Folha apurou que as autoridades suíças estão em contato permanente com Jersey a respeito do "Caso Maluf", como elas designam o dossiê número 11087/01, que em quase 400 páginas reúne informações sobre o Citibank da Suíça sobre movimentações financeiras de Maluf em Genebra.
A investigação foi aberta após o Citibank de Genebra ter notificado o Escritório de Informações sobre Lavagem de Dinheiro da Suíça (Money Laudering Reporting Office Switzerland), em Berna, de que o ex-prefeito havia realizado transações suspeitas.
Segundo a Folha apurou, a notificação somente foi feita depois que Maluf, em Jersey, transferiu o dinheiro do Citibank para o Deustche Bank.

Sem acusação
Maluf ainda não foi acusado formalmente na investigação. Para que isso ocorra, é preciso que as autoridades brasileiras provem que o dinheiro foi obtido de maneira ilegal. O juiz de instrução Claude-François Wenger espera que o Ministério Público responda a um pedido de informações sobre a origem do dinheiro (leia texto na pág. A5).
O ex-prefeito paulistano é representado no processo pelo escritório Schellenberg Wittmer. Outro nome que aparece no dossiê é o do HBK Investiments Advisory S.A., um escritório de consultoria de Genebra especializado em administração de bens.
A quebra do sigilo telefônico da família Maluf revelou inúmeras ligações para o Citibank de Genebra, para o escritório Schellenberg Wittmer e para o HBK. Foram 15 ligações dos telefones de Lígia Luttfala Maluf para o banco (332 minutos de conversação), seis ligações dos telefones de Flávio Maluf para o escritório de advocacia (70 minutos) e outras quatro ligações para o HBK (41 minutos).
"Ter dinheiro na Suíça não é crime", disse Bertossa. Sonegação fiscal e evasão de divisas não são crimes previstos pela legislação suíça, que os considera apenas delitos administrativos (leia texto abaixo).
Em sua edição de 10 de junho de 2001, a Folha revelou que as autoridades de Jersey haviam bloqueado pelo menos US$ 200 milhões depositados na ilha em nome de Maluf e de seus familiares e que o dinheiro era proveniente da Suíça.
Em agosto, o Escritório de Informações sobre Lavagem de Dinheiro da Suíça informou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, que Maluf manteve contas no Citibank de Genebra, entre 1985 e 1997, quando transferiu a soma para o mesmo banco em Jersey.
"O Escritório de Lavagem de Dinheiro notificou as autoridades brasileiras sobre as movimentações suspeitas de Maluf", disse o porta-voz do Escritório Federal de Justiça da Suíça, Folco Galli.

"Paolo Maluf"
Maluf é tratado como "Paolo Maluf" tanto na notificação enviada ao Coaf como na investigação judicial de Wenger. "Estamos falando de Maluf, ex-governador do Estado de São Paulo e ex-prefeito da cidade de São Paulo", afirmou Galli. "Maluf será candidato a governador de São Paulo?", perguntou Bertossa.
O português João Esteves Ferreira, que é tradutor juramentado do francês para o português da Justiça de Genebra, afirma que a utilização de "Paolo" no lugar de "Paulo" é um erro bastante frequente entre os suíços.
"É a influência do italiano, uma das línguas oficiais da Suíça. "Paolo" e "Paulo" são exatamente a mesma coisa. É muito comum encontrar São Paulo escrito como "Sao Paolo" ou "San Paolo"."



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