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Comissão quer transferir arquivos
DA REPORTAGEM LOCAL
Para facilitar o acesso de familiares a informações sobre os militantes políticos desaparecidos,
Luís Francisco Carvalho Filho,
presidente da Comissão Especial
de Mortos e Desaparecidos Políticos, defende a transferência dos
arquivos da Polícia Federal para o
Arquivo Nacional, órgão encarregado dar proteção especial a documentos históricos.
A proposta atende a uma das
maiores reivindicações dos familiares, que encontram dificuldades em pesquisar dados que ainda
estão sob o controle de órgãos que
atuaram no regime militar.
"O ônus hoje de provar que determinada pessoa foi perseguida e
morta pelo Estado é dos familiares. Mas como fazer isso se não temos acesso a quase nada?", questiona a representante dos familiares da vítimas na comissão, Suzana Keniger Lisboa.
A autorização para a pesquisa
de documentos da Polícia Federal
já existe, mas se mostra praticamente ineficaz quando operacionalizada. Apesar do consentimento do Ministério da Justiça e
de parte do comando da PF, os interessados esbarram na falta de
cooperação em delegacias regionais ou setoriais, que acabam vetando a consulta.
"Levar os documentos para o
Arquivo Nacional seria um sinal
de grande avanço para a história
do país. Há arquivos importantes,
como o de Foz de Iguaçu, de São
Paulo, do Rio de Janeiro, do Paraná, do Rio Grande do Sul. Esses
dados precisam ser facilitados",
disse Carvalho Filho.
Com relação aos documentos
das Forças Armadas, o processo
promete ser mais complicado.
Familiares de desaparecidos políticos que se embrenharam em
órgãos públicos na tentativa de
colher informações sobre seus parentes contam que os militares sequer admitem a existência de arquivos relevantes sobre o passado
recente do país.
Para os familiares, no entanto,
esses documentos podem ajudar
a entender as operações militares
realizadas na época e a relação de
pessoas perseguidas e presas. A
maior parte desses dados permanece sob sigilo, como os relacionados à guerrilha do Araguaia -
ação organizada pelo PC do B entre 1966 e 1972 e desbaratada pelo
Exército entre 1972 e 1974.
"Quanto mais o tempo passa,
mais há pressa em saber o que
aconteceu com essas pessoas",
afirmou o presidente da comissão
de desaparecidos.
Vontade política
O comprometimento do novo
governo na ampliação da lei e nas
reivindicações dos familiares foi a
condição colocada por Carvalho
Filho e por Suzana Lisboa para
permanecerem na comissão dos
desaparecidos. Os dois foram nomeados ainda na gestão do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso e convidados a permanecer no governo de Lula.
"A ampliação da lei é fundamental. Praticamente todos os
novos pedidos [101 serão analisados pelo governo federal] são os
mesmos que foram negados no
governo anterior, justamente
porque não se encaixavam tecnicamente na lei em vigor", afirmou
Carvalho Filho.
Suzana Lisboa, por sua vez, solicitou uma audiência com o presidente Lula -a data não foi definida- para discutir projetos de trabalho para a comissão. "Além da
ampliação da lei, queremos rever
outras questões importantes.
Queremos, por exemplo, que o
ônus da prova seja do Estado, não
mais da família", disse Lisboa.
Na gestão de FHC, 280 familiares de mortos e de desaparecidos
políticos foram indenizados pelo
Estado em valores que oscilam de
R$ 100 mil a R$ 150 mil. Houve 86
pedidos negados.
(LC)
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