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SOMBRA NO PLANALTO
Chefe da Casa Civil critica PSDB, desafia Ministério Público e causa efeito bumerangue
Dirceu faz ataques, provoca nova crise e pede desculpas
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com novos ataques a senadores
e governadores tucanos e ameaça
de "acerto de contas" com o Ministério Público, o ministro José
Dirceu (Casa Civil) provocou um
efeito bumerangue, atraindo contra si uma saraivada de críticas.
Foi alvo de algumas das mais
contundentes investidas da oposição desde o estouro do caso
Waldomiro Diniz, no dia 13 de fevereiro, provocou nota de repúdio de procuradores e promotores e levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a repreendê-lo. À noite, em
nota, o ministro pediu desculpas
apenas aos governadores.
Tudo começou com declarações de Dirceu publicadas ontem
no jornal "O Globo", nas quais
criticou duramente o senador
Tasso Jereissati (PSDB-CE), que
em discurso na semana passada
defendeu o ministro Antonio Palocci (Fazenda) e a condução da
economia. Para Dirceu, no entanto, Tasso tentou desestabilizar o
governo. De acordo com o ministro, no discurso, o tucano insinuou que a gestão do PT tem relações com o crime organizado.
O senador reagiu, dizendo que
Dirceu aparenta "confusão mental", "falta de controle" e "total
falta de serenidade". Recomendou autocrítica, humildade e férias. Jefferson Péres (PDT-AM)
defendeu a sua demissão.
Da tribuna, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), acusou o ministro de envolvimento direto no
escândalo Waldomiro. Ex-assessor de Dirceu na Casa Civil, Waldomiro foi filmado pedindo propina ao empresário do jogo Carlos Cachoeira em 2002. Na época,
presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) no governo
Benedita da Silva (PT). O caso é
investigado pela Polícia Federal e
pelo Ministério Público Federal.
"Vamos acabar com a hipocrisia. Não há um caso Waldomiro.
Ninguém faz aquilo tudo sozinho.
Há, quem sabe, um caso José Dirceu, e é disso que ele tem medo.
[...] O nome de uma CPI teria de
ser outro. O nome do escândalo
teria de ser outro", disse Virgílio.
"Não importa se cometeu dolo.
Quando erra, tem de se afastar do
cargo. Plantou um delinqüente,
um escroque, a 20 metros do gabinete do presidente", disse Péres.
Segundo o texto publicado ontem em "O Globo", Dirceu avaliou que Tasso foi "fraco" por
apoiar uma CPI sobre o caso Waldomiro e que Virgílio é "irresponsável". O PSDB divulgou nota ontem à noite criticando Dirceu.
Tasso disse ter ficado ""preocupado com o estado psicológico"
de Dirceu, que teria demonstrado
estar "fora de controle" em razão
da pressão sofrida nas últimas semanas pelo caso Waldomiro.
Para o senador, a declaração
"mais grave" de Dirceu foi a de
que os governadores Geraldo
Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG)
estão tendo um comportamento
"equilibrado" nessa crise só porque não sobreviveriam um mês
sem a ajuda do governo federal.
Em Minas, Aécio, reagiu afirmando que "ninguém uniu mais
a oposição do que José Dirceu".
Para Alckmin, a polêmica levantada pelo ministro da Casa Civil é
"estéril" e não ajuda o Brasil.
Ministério Público
No texto, Dirceu também diz
que "não vai deixar barato" o que
chamou de "violências legais" do
Ministério Público. "Dirceu está
numa fase infeliz desde que assumiu o governo", afirmou José
Carlos Cosenzo, presidente da Associação Paulista do Ministério
Público. O ministro foi criticado
ainda em nota de entidades de
procuradores.
O presidente Lula não gostou da
repercussão do episódio e chamou Dirceu para uma conversa.
"O atual governo não precisa de
oposição. Nunca vi tão trapalhão.
Tropeça nas próprias pernas. [...]
Agora, quando o incêndio começava a amainar, vem Dirceu jogar
gasolina na fogueira", disse Jefferson Péres. Segundo ele, o ministro
reagiu "com arrogância" a um
discurso que deveria ser "recebido com aplausos" pelo governo.
Tasso, que afirmou ter estranhado as declarações de Dirceu
acusando-o de haver ligado o governo ao crime, disse que sempre
tentou "preservar" o ministro ao
falar sobre o caso. "Estou dizendo
o que todos vimos pelos jornais:
que existe uma comprovação de
ligação de um assessor do sr. ministro com Carlos Cachoeira, tido
como bicheiro. Portanto, ligado
de uma maneira ou de outra ao
crime organizado", afirmou.
Para Virgílio, Dirceu se irritou
porque o discurso de Tasso de
apoio a Palocci teria barrado "um
plano macabro de alguns que
queriam jogar a crise para a área
econômica, na tentativa de livrar
a área política". O senador Sérgio
Guerra (PSDB-PE) disse que "há
um viés autoritário do governo,
no PT e no ministro em especial".
Na tentativa de defender Dirceu, a líder do PT no Senado, Ideli
Salvatti (SC), disse que as declarações do ministro não coincidem
com a prática do governo Lula.
A petista afirmou ficar "aborrecida" ao ver uma reportagem tentar "desmontar" todo o esforço
que o governo Lula teria feito desde o início para construir acordos
e alianças. Acabou criticando Tasso, a quem chamou de "pessoa
absolutamente equilibrada", mas
que também tem, de acordo com
ela, "seus momentos de desequilíbrio" -referindo-se a um bate-boca recente no Senado entre o
tucano e o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Colaboraram a Reportagem Local e a
Agência Folha
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