São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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Ministério Público aponta "interesse pessoal contrariado"

SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Oito associações de classe do Ministério Público acusaram ontem o ministro José Dirceu (Casa Civil) de ameaçar retaliações contra a instituição por "interesse pessoal contrariado" e sugeriu que ele deixe de lado "sentimentos menores como rancor, egoísmo e vaidade".
"Melhor proveito a nação teria se o centro das atenções de tão alta personalidade da República se direcionasse à expansão e ao aperfeiçoamento das instituições democráticas, em vez de retaliá-las, desautorizá-las e expô-las, ao menor interesse pessoal contrariado", afirmam as entidades em nota à imprensa.
"As grandes personagens da história que se firmaram como sujeitos do bem somente lá chegaram quando conseguiram separar, da forma devida, seus desideratos [suas aspirações] particulares dos anseios maiores da população, deixando de lado sentimentos menores como rancor, egoísmo e vaidade", prosseguem.
Na nota, as oito entidades, que representam promotores de Justiça e procuradores do trabalho, disseram que, antes de assumir o governo, Dirceu sempre os apoiou contra ataques desse tipo à instituição. Elas consideraram graves as declarações do ministro publicadas no jornal "O Globo".
"Eu quero colocar os pingos nos is nesse negócio do Ministério Público no Brasil. Não deixar isso barato, não. O Ministério Público vem fazendo violências legais a todo momento e continua", disse Dirceu e citou o caso do assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André, e as apurações do caso Walmomiro Diniz, ex-assessor da Presidência.
"Causa a todos nós enorme estranheza o volume de agravos que a instituição passou a sofrer justamente da parte de um dos principais líderes do partido que, antes de chegar ao poder, sempre se serviu do trabalho desenvolvido pelo Ministério Público", diz a nota.
O presidente da Associação Paulista do Ministério Público, José Carlos Cosenzo, chamou Dirceu de "oportunista". "No passado, Dirceu e o PT usaram o Ministério Público para chegar ao poder. Hoje o objetivo deles é enfraquecer o órgão. Ele está sendo oportunista", afirmou Cosenzo.
A nota comenta o desgaste sofrido pelo governo em razão das suspeitas contra o ex-assessor de Dirceu Waldomiro Diniz. "Tal imagem de descrédito deve-se, em muito, às atitudes protagonizadas por sua excelência e às alianças pouco convencionais de sua assessoria mais imediata."
O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Nicolao Dino, defendeu o procurador Marcelo Serra Azul, que apura o caso Waldomiro Diniz em Brasília.
Dino disse que em tese não há ilegalidade na requisição por Serra Azul de disquete que contém o registro da entrada de Waldomiro na sede da Caixa Econômica Federal em março de 2003.
"Não podemos imaginar retaliações por força do cumprimento da lei", afirmou Nicolao Dino, baseado na Lei Orgânica do Ministério Público.
As oito associações que assinam a nota são: do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Nacional dos Procuradores do Trabalho, do Ministério Público de Rondônia, Tocantinense do Ministério Público, Mato-Grossense do Ministério Público, do Ministério Público do Estado do Acre, Sul-Mato-Grossense do Ministério Público e do Ministério Público do Estado do Pará.


Colaborou a Reportagem Local


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