|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
CPI atrás de CPI
Mesmo que o propósito do senador Antonio Carlos Magalhães e de seus apoiadores não
seja tão amplo, caso seja aprovada a sua CPI contra o Judiciário ficarão dificultadas as
recusas, por esses e pelos demais governistas, de CPIs muito necessárias, mas impossibilitadas pela incapacidade do
governo para enfrentá-las.
Tráfico de influência em privatizações, emprego de dezenas de bilhões em negócios
exóticos favoráveis a certos
banqueiros, favorecimentos
em grandes contratações do
Sivam, são apenas alguns
exemplos de casos suscetíveis
ao aparecimento, de repente,
de um novo fato que dê a justificação para o pedido de CPI.
É mais ou menos essa, também, a situação daquelas outras CPIs impedidas pelo governo, ainda no primeiro ano
da nova moralidade: a CPI das
empreiteiras, a dos bancos, a
do "financiamento" de campanhas, todas tão temidas, e
não é provável que fosse à toa,
pelas eminências do PSDB.
Da parte do Judiciário, uma
CPI não teria reflexos notáveis
nas primeiras instâncias de
julgamento, onde não há mais
problemas do que em qualquer atividade respeitável.
Mas nas alturas, exatamente
onde se encontram obras e outros gastos de fato assombrosos, é provável pelo menos um
reflexo importante. Qual seja,
no futuro, o de julgamentos
menos influenciáveis por fatores políticos, até mesmo por
injustificável submissão ao interesse do governo, senão só da
fútil vaidade presidencial.
Os últimos anos testemunharam vários episódios desses, alguns bem memorizados
por seus traços escandalosos.
Caso, para não faltar com o
exemplo, da intervenção do
Tribunal Superior do Trabalho na disputa dos petroleiros
com a Petrobrás e, em outro
campo, das idas e vindas do
Supremo Tribunal Federal na
questão dos 28% usurpados
pelo governo ao funcionalismo
federal.
Em alguma medida, os tribunais superiores estão pagando por terem esquecido,
tantas vezes, que são um Poder independente e que, sem a
sua independência na distribuição de justiça, não pode
haver democracia.
²
Apropriação
De volta à discurseira, para
atender à exigência dos novos
planos marqueteiros, Fernando Henrique Cardoso atribuiu-se e ao governo o papel
de liderança na reforma tributária, cuja discussão a Câmara está retomando.
Como diria a brincadeira já
meio esquecida, só faltou o
óleo de peroba. Há quatro
anos e três meses o governo
tem condições de providenciar
a reforma tributária, mas não
o fez. Agora mesmo, quando o
presidente da Câmara, Michel
Temer, decidiu-se a empurrá-la -admirável atitude-,
Fernando Henrique tentou
impor, no lugar daquela, a reforma política. Os marqueteiros palacianos (uma das atividades mais bem remuneradas
do país) querem assuntos que
distraiam da crise a opinião
pública.
Se sair, a reforma tributária
será a primeira verdadeiramente necessária.
²
Curiosidade
Alguns curiosos ouviram
que uma organização instalada no bairro carioca do Jardim Botânico pretende do
BNDES o empréstimo de R$ 2
bilhões, para tratar de problemas que podem tornar-se graves. Desde então, os curiosos
tentam saber mais.
Já constataram que a pretensão não é do próprio Jardim
Botânico, não é do Jockey Club
Brasileiro, não é do boteco Bifinho de Ouro. Os curiosos
continuam pesquisando.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|