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Empresário dizia que Elma foi assassinada
do enviado especial a Maceió
A convivência com PC Farias durante um ano e quatro meses fez
com que Suzana Marcolino soubesse de muitas informações sobre
a vida do namorado.
Desde janeiro, a Folha conversou com 17 pessoas que a conheceram. Todas, alegando medo, só falaram reservadamente.
A seguir, algumas confidências
de Suzana a pessoas sabidamente
próximas a ela, conforme os relatos ouvidos pela Folha.
1) PC bebia muito. Quanto maior
o consumo de álcool, especialmente uísque, ele ficava mais emotivo e
chorava. Em uma noite, depois de
muitos drinques, disse a Suzana
que sabia que sua mulher, Elma
Farias, não morrera naturalmente,
mas sim assassinada.
Elma morreu em Brasília, no dia
20 de julho de 1994, quando o marido estava preso. As causas da
morte foram edema pulmonar
agudo e insuficiência cardíaca. PC
acreditava que os problemas tinham sido provocados voluntariamente, mas não citou nomes.
Antes de morrer, Elma insistiu
em que ele contasse os segredos
que guardava. "Paulo, você tem
que tocar fogo neste país, entregar
todo mundo", falava ao marido,
conforme ela mesma afirmou em
entrevista. "Esse homem tem sangue frio, sangue de barata", dizia.
Quando o marido foi preso, Elma
atacou Fernando Collor: "O que o
Paulo César fez foi conseguir fundos de empresários para a campanha de Collor. Por que só o Paulo
César? Ele não agiu sozinho. Tem
alguém que mandou, e o chefe
maior foi quem mandou".
A Folha tentou entrevistar a promotora de Justiça Eônia Pereira
Bezerra, irmã de Elma, que não
aceitou. Por telefone, ela disse:
"Não recebo jornalistas, não faço
declarações, principalmente sobre
a morte da minha irmã. Ainda estou muito fragilizada. Sei por que
você me procura, mas vou calar".
Eônia, de acordo com testemunhos diversos, tem relacionamento difícil com os irmãos de PC,
principalmente com o deputado
Augusto Farias (PPB-AL).
Mesmo assim, continua cuidando e morando com os sobrinhos.
Trabalhando em um motel de
Maceió, a Folha encontrou a cozinheira Irene França, que preparou
a última refeição para Elma, em
Brasília, e para PC e Suzana Marcolino, em Maceió.
"A morte da dona Elma é um
mistério", disse Irene, sem manifestar qualquer suposição.
2) No Carnaval de 1996, PC promoveu uma festa em sua casa no
bairro de Mangabeiras, em Maceió. Convidados repararam que
não aparentava o humor habitual.
Indagada sobre o comportamento do namorado, Suzana apontou
para um convidado que ela chamou de "Jorge, um argentino". PC
estava abatido, de acordo com a
namorada, porque tivera uma fortíssima discussão com Jorge por
achar que ele estava sendo trapaceado em negócios comuns.
Investigação da Polícia Federal
posterior à morte de PC revelou
que o argentino Jorge Osvaldo La
Salvia era procurador e um dos
responsáveis pelas operações financeiras do ex-tesoureiro de Fernando Collor no exterior.
Na semana anterior ao assassinato de PC, La Salvia esteve em Maceió. PC Farias nunca teria recuperado a confiança nele.
3) Numa noite, quando estavam
juntos no quarto de PC Farias na
casa de Mangabeiras, Suzana teria
ouvido a seguinte pergunta dele,
pelo telefone, a um interlocutor
não-identificado:
"E aí, o leite chegou?" Depois, segundo a lembrança que uma pessoa próxima a Suzana guarda do
relato dela, PC teria virado para a
namorada e perguntado: "Você sabe o que é leite?"
Suzana Marcolino não respondeu, mas ficou com a impressão de
que se tratava de um eufemismo
para designar alguma droga.
(MM)
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