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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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AJUSTE PETISTA

Para Mantega, Cristovam "deveria olhar mais conjunto do governo"

Lula critica ministro e diz que "dinheiro às vezes é desculpa"

Alan Marques/Folha Imagem
Lula, com a imagem do ministro Cristovam Buarque (Educação) ao fundo, durante cerimônia na CNI


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Planejamento, Guido Mantega, criticaram ontem os ministros que, nos últimos dias, vêm reclamando mais recursos para suas áreas.
Depois de Cristovam Buarque (Educação), que havia pedido prioridade à pasta e mais R$ 5,4 bilhões para 2004, ontem foi a vez de Gilberto Gil divulgar nota reivindicando verba para Cultura.
Para Lula, a educação não depende só de dinheiro -que ele disse ser "desculpa" em alguns momentos-, mas também de "criatividade" e "motivação".
"Não existe no planeta Terra, em nenhum momento da história da humanidade, país que tenha crescido, se desenvolvido e distribuído renda com base no analfabetismo, na má qualidade da educação. [...] Quero dizer que não depende de dinheiro apenas. Dinheiro muitas vezes é necessário, mas muitas vezes é desculpa. Depende muito mais de motivarmos a sociedade brasileira de que determinadas tarefas não são da responsabilidade de um governo."
Em reportagem publicada ontem pela Folha, Cristovam criticou a forma como o governo gasta o dinheiro do Orçamento. "Está se gastando com interesses que não põem a educação em primeiro lugar", disse. Segundo o ministro, o governo não teria forças para "romper com o FMI", mas poderia questionar gastos com publicidade e consultoria.
Durante a solenidade de assinatura de convênio entre a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o Ministério da Educação para alfabetizar 2 milhões de pessoas até 2006, Lula disse que dinheiro não é problema.
"Espero que esse acordo sirva de lição para que outros segmentos da sociedade, para que outras entidades possam assumir o mesmo compromisso. Porque aí vamos descobrir que o dinheiro nunca foi o grande problema deste país. O grande problema é que muitas vezes a miséria e o analfabetismo se transformaram em uma forma eficaz de perpetuação de uma elite no poder", afirmou.
Dirigindo-se a Cristovam, Lula pediu que ele não seja apressado. "Quem tem pressa come cru. A gente não deve se apressar pelos dias. Se a gente começar a contar os dias que faltam para terminar o mandato e querer fazer tudo, termina dando trombada. Daí a pouco a imprensa começa a cobrar que prometeu alfabetizar 20 milhões e só alfabetizou 19,9 milhões. Não se preocupe com isso."

"Situação confortável"
Mantega disse ontem que o Ministério da Educação possui uma situação "mais confortável" que outros ministérios em relação à necessidade de mais recursos orçamentários. "O ministro [Cristovam] está um pouco angustiado", comentou.
Mantega disse que o governo está preparando medidas para reduzir seus gastos. "Mas isso não vai resolver o problema da Educação, que tem um orçamento de vários bilhões", explicou.
O ministro do Planejamento disse que a Educação é uma das pastas que tem recursos garantidos. Segundo ele, houve corte de 15% nos recursos dos ministérios em geral e de só 5% na Educação.
"O ministro [Cristovam] deveria ter uma visão geral e não olhar apenas para o próprio ministério", disse Mantega. O ministro do Planejamento contou que participou de um almoço com seu colega na semana passada e não ouviu as críticas levantadas ontem. "Ele poderia ter reclamado comigo", brincou.
Mantega comentou ainda que Cristovam Buarque já foi governador do Distrito Federal e, portanto, "como administrador" sabe das dificuldades para a obtenção de recursos orçamentários.
Para o ministro do Planejamento, a educação é uma prioridade do governo e isso pode ser verificado nos R$ 2 bilhões destinados ao programa Bolsa-Escola. Cristovam pediu mais R$ 5,4 bilhões para novos projetos em 2004.


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