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Gil fala em "fome de cultura" e é
mais um ministro a pedir recursos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Cultura, Gilberto
Gil, resolveu protestar ontem, a
seu estilo, contra a falta de verbas.
Percebendo que suas críticas feitas no dia anterior não haviam tido destaque na imprensa, mandou sua assessoria divulgar uma
nota, cujo título já dizia tudo:
"Descontingenciamento já".
Logo abaixo, na abertura do documento, o ministério avisava:
"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor", fazendo
uso de verso da música "Brasil
Pandeiro", de Assis Valente.
Segundo a nota, Gilberto Gil
não está medindo esforços para
conseguir o "descontingenciamento imediato" das verbas do
ministério, bloqueadas em 51%
do previsto no início do ano.
Engrossando o coro dos ministros descontentes com a equipe
econômica, Gilberto Gil diz que "é
necessário que haja uma urgente
descompressão fazendária para
que se acenda uma luz amarela,
senão não teremos as condições
básicas de cumprir o mínimo das
responsabilidades que a cultura
brasileira exige".
A nota é permeada de frases de
efeito do ministro. Num ponto,
por exemplo, fazendo referência
ao Fome Zero, o documento
transcreve a declaração de Gil:
"Temos fome e sede de cultura
neste país. Chegou a hora de valorizarmos o alimento espiritual".
Mais à frente, diz que o patrimônio histórico tem importância
vital na "nossa cesta básica cultural", acrescentando que ele pode
até mesmo representar o nosso
"feijão com o arroz do espírito".
Na visão de Gil, a memória cultural brasileira deve passar a ser
"ingrediente fundamental no
nosso fogão da alma". Segundo
ele, "ninguém pensa o presente
ou sonha o futuro sem se alimentar da história, do passado".
Segundo o secretário-executivo
do ministério, Juca Ferreira, 54, a
intenção é dividir o "espólio" que
receberam do governo anterior
com a sociedade para que a
"bomba não estoure no colo".
"Se mantivermos o silêncio, lidaremos com fatos extremamente graves. Sentimos a necessidade
de dividir o espólio dos últimos
dez anos com a sociedade e com o
governo", afirmou.
Gil protestou publicamente durante seminário do programa
Monumenta anteontem. A "queixa" ocorreu ao mesmo tempo em
que o ministro Cristovam Buarque (Educação) criticava a política orçamentária do governo e pedia mais recursos para sua pasta.
A Folha apurou que a idéia de
Gil é pressionar a equipe econômica com apoio da opinião pública. O ministro busca incentivo e
amparo no presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Ontem mesmo, organizou um jantar de Lula com o
cantor Zeca Pagodinho.
De acordo com Ferreira, a
maior preocupação do ministério
é a conservação do patrimônio
histórico, responsabilidade do
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
Há 25 anos não há concurso para
repor funcionários, segundo ele.
A avaliação do ministério é que
o governo FHC não tinha política
cultural, deixando a cargo de empresas privadas a escolha de que
produções receberiam incentivo
através da Lei Rouanet. O dispositivo concede benefícios fiscais para pessoas jurídicas que investirem em cultura.
(IURI DANTAS)
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