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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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Gil fala em "fome de cultura" e é mais um ministro a pedir recursos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, resolveu protestar ontem, a seu estilo, contra a falta de verbas. Percebendo que suas críticas feitas no dia anterior não haviam tido destaque na imprensa, mandou sua assessoria divulgar uma nota, cujo título já dizia tudo: "Descontingenciamento já".
Logo abaixo, na abertura do documento, o ministério avisava: "Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor", fazendo uso de verso da música "Brasil Pandeiro", de Assis Valente.
Segundo a nota, Gilberto Gil não está medindo esforços para conseguir o "descontingenciamento imediato" das verbas do ministério, bloqueadas em 51% do previsto no início do ano.
Engrossando o coro dos ministros descontentes com a equipe econômica, Gilberto Gil diz que "é necessário que haja uma urgente descompressão fazendária para que se acenda uma luz amarela, senão não teremos as condições básicas de cumprir o mínimo das responsabilidades que a cultura brasileira exige".
A nota é permeada de frases de efeito do ministro. Num ponto, por exemplo, fazendo referência ao Fome Zero, o documento transcreve a declaração de Gil: "Temos fome e sede de cultura neste país. Chegou a hora de valorizarmos o alimento espiritual".
Mais à frente, diz que o patrimônio histórico tem importância vital na "nossa cesta básica cultural", acrescentando que ele pode até mesmo representar o nosso "feijão com o arroz do espírito".
Na visão de Gil, a memória cultural brasileira deve passar a ser "ingrediente fundamental no nosso fogão da alma". Segundo ele, "ninguém pensa o presente ou sonha o futuro sem se alimentar da história, do passado".
Segundo o secretário-executivo do ministério, Juca Ferreira, 54, a intenção é dividir o "espólio" que receberam do governo anterior com a sociedade para que a "bomba não estoure no colo".
"Se mantivermos o silêncio, lidaremos com fatos extremamente graves. Sentimos a necessidade de dividir o espólio dos últimos dez anos com a sociedade e com o governo", afirmou.
Gil protestou publicamente durante seminário do programa Monumenta anteontem. A "queixa" ocorreu ao mesmo tempo em que o ministro Cristovam Buarque (Educação) criticava a política orçamentária do governo e pedia mais recursos para sua pasta.
A Folha apurou que a idéia de Gil é pressionar a equipe econômica com apoio da opinião pública. O ministro busca incentivo e amparo no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem mesmo, organizou um jantar de Lula com o cantor Zeca Pagodinho.
De acordo com Ferreira, a maior preocupação do ministério é a conservação do patrimônio histórico, responsabilidade do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Há 25 anos não há concurso para repor funcionários, segundo ele.
A avaliação do ministério é que o governo FHC não tinha política cultural, deixando a cargo de empresas privadas a escolha de que produções receberiam incentivo através da Lei Rouanet. O dispositivo concede benefícios fiscais para pessoas jurídicas que investirem em cultura. (IURI DANTAS)


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