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JANIO DE FREITAS
As caixas, pretas ou não
A explicação possível para
o destampatório de Luiz
Inácio Lula da Silva contra o Judiciário, à primeira vista motivado pelo desejo de caça aos criminosos, é a dificuldade representada pelos tribunais à caça governamental a direitos dos não criminosos. O governo parece irritadado com opiniões de magistrados e pareceres jurídicos sobre direitos adquiridos.
O Judiciário não é impermeável
à corrupção nem às demais falhas
da ética humana ou administrativa. Ouve-se muito a respeito e
há demonstrações concretas, sob
a forma de inquéritos e punições
decididos pelo próprio Judiciário
contra integrantes seus, inclusive
na alta magistratura. Também é
evidente que falta um sistema de
acompanhamento permanente
de indícios, como o enriquecimento suspeito, que dê melhor
resguardo contra desvios de conduta. E talvez algumas normas
sejam hoje necessárias, sendo
mais citada a proibição formal de
advogados terem causas em tribunais integrados por familiares
seus.
Mas dessas e de outras falhas do
Judiciário não há como chegar a
atribuir-lhe a culpa que o Executivo, ele sim, vem acumulando no
correr dos anos pelo aumento sem
limites da criminalidade social.
Executivo considerando-se o federal, o estadual e o municipal. O
primeiro pela omissão, tão semelhante à conivência, de ações
constantes de repressão ao contrabando de armas, de drogas e
outros. No nível estadual, as polícias e o sistema carcerário dispensam, de tão gritantes, mais palavras. Nos municípios, o desvio de
verbas para fins eleitoreiros e iniciativas agradáveis às classes
mais altas, regra geral nas cidades maiores, produziu e mantém
concentrações de vida em condição subumana, nas quais a criminalidade encontra os meios físicos
para se enfurnar e, à força ou com
compensações, para multiplicar-se.
Em torno dessa obra das três
instâncias do Executivo, envolvendo-a em todos os sentidos, está a responsabilidade da chamada classe dominante, consubstanciada nas políticas econômicas e
anti-sociais que lhe produz mais
riqueza, sempre mais, com o que é
retirado ao restante da população. Tanto é o já sugado às classes
desguarnecidas, que nos últimos
anos esse assalto passou a ser
também à classe média.
Daí a gravidade da política econômica que é a caixa-preta do governo Lula da Silva. A do Judiciário referida no discurso presidencial, supondo-se que consista na
soma das falhas do Judiciário,
não é maior que as muitas do
Executivo em seus três níveis.
Nem que as caixinhas, pretas ou
verdinhas, com que nos últimos
anos foram obtidas as aprovações
parlamentares de emendas constitucionais, privatizações desastrosas, reeleição e inúmeros projetos anti-sociais e antinacionais.
Negação
Citado na entrevista de Maria
da Conceição Tavares, ontem comentada aqui, como integrante
de uma ONG que teria recebido
"em torno de US$ 250 mil do Banco Mundial" para elaborar estudo agora encampado pelo Ministério da Fazenda, o secretário de
Política Econômica, Marcos Lisboa, manda correspondência da
qual destaco os dois itens pertinentes: "1- Nunca fiz pesquisa para o Banco Mundial e nunca recebi verba dessa instituição; 2- Não
sou sócio de qualquer ONG que
tenha recebido recursos do Banco
Mundial para pesquisa sobre focalização de políticas sociais".
O secretário não foi citado nominalmente no artigo aqui publicado. Nem foi usada uma palavra como focalização.
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