|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÍTICA PÚBLICA
Princípio, que antes era contestado pelo PT, consta da primeira revisão do acordo feita no governo Lula
Acordo com FMI prevê focalização social
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Objeto da mais recente polêmica no governo, a focalização de
programas sociais -conceito pelo qual as verbas públicas devem
privilegiar os mais pobres, em vez
de terem distribuição universal-
já consta das diretrizes fixadas no
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para a administração do país.
O princípio foi incluído nos documentos oficiais dos entendimentos entre o Brasil e o Fundo
em fevereiro, quando foi realizada
a primeira revisão do acordo com
o organismo sob o governo Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em carta ao diretor-gerente do
FMI, Horst Köhler, de 28 de fevereiro, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, dizem que o governo reorganizará os programas sociais
"nos próximos meses", de forma
a torná-los mais focalizados.
"Para coordenar esse programa
social, o governo criou o Ministério de Assistência e Promoção Social, o qual irá avaliar os programas já existentes e procurar formas de integrá-los de modo a evitar duplicidades e focar os benefícios na população mais pobre",
afirma o texto.
Não se trata exatamente de uma
condição imposta pelo acordo, do
tipo que pode interromper os empréstimos do FMI ao país se descumprida. Mas, como qualquer
vírgula incluída em documentos
assinados com o Fundo, não está
ali por acaso -é algo que deve ser
realizado para facilitar negociações posteriores.
O PT sempre associou o princípio de focalização a uma visão
meramente compensatória da
política social, típica dos defensores do Estado mínimo neoliberal.
Em oposição ao conceito, o partido postula o "universalismo", ou
seja, políticas voltadas para a sociedade como um todo, marca do
estado de bem-estar social.
Descompasso
"Além da dispersão e fragmentação que atingem os programas
sociais do governo federal, eles
operam com o princípio da focalização, como se a pobreza fosse residual", prega o programa de
campanha de Lula em 2002.
O programa, coordenado por
ninguém menos que Palocci, defende "uma nova geração de políticas públicas de inclusão social
de caráter universal e sem fragmentação". O ministro lançou recentemente outro documento
-com diretrizes para sua pasta e
outras áreas do governo- em
que a focalização não apenas perde a conotação negativa, mas torna-se um objetivo prioritário.
"O problema fundamental a ser
enfrentado para melhorar o impacto da política governamental
sobre os indicadores sociais é tornar o gasto social mais eficiente,
eficaz e focalizado", diz o texto do
documento "Política Econômica
e Reformas Estruturais".
A reação petista não tardou: em
entrevista à Folha na última segunda, a economista Maria da
Conceição Tavares disse que o
documento "causou mal-estar em
todo mundo" e chamou de "débil
mental" o secretário de Política
Econômica, Marcos Lisboa.
Ainda que não haja um racha
do tipo "focalistas versus universalistas" no governo Lula, é evidente um descompasso de diagnósticos, receitas e discursos para
a política social. Exemplo: numa
reunião com a bancada petista, na
semana retrasada, o ministro José
Graziano (Segurança Alimentar)
rejeitou a focalização: "Não vamos organizar do mais pobre para o menos pobre".
A Fazenda desenvolve sua argumentação à luz dos números do
Orçamento da União. Segundo o
documento de Palocci, os gastos
listados como sociais totalizaram
R$ 213,4 bilhões em 2002, ou 66%
das receitas federais.
"A participação dos gastos com
assistência social, que em geral
apresentam um grau de focalização sobre a população pobre bem
superior aos dos demais programas sociais, é de apenas 1,7% [das
receitas, ou R$ 5,6 bilhões]", afirma o texto.
Texto Anterior: Janio de Freitas: As caixas, pretas ou não Próximo Texto: Universalização: Restrição de políticas perpetua desigualdade, afirma Belluzzo Índice
|