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UNIVERSALIZAÇÃO
Restrição de políticas perpetua
desigualdade, afirma Belluzzo
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, a focalização das políticas sociais "perpetua" uma situação de desigualdade produzida pelo mercado. Para
ele, a focalização pode "desmontar o sistema de direitos e transformá-lo numa sociedade cujas
relações de renda e propriedade
estão cristalizadas, onde quem
nasceu pobre morre pobre".
Ao citar o estado de bem-estar
social europeu, Belluzzo disse que
a restrição das políticas sociais a
parte da sociedade é uma "regressão inimaginável", que levaria ao
"caos social". Abaixo, a entrevista.
Folha - Como o sr. vê o debate a
respeito da aplicação de políticas
sociais universalizadas ou focalizadas no Brasil?
Luiz Gonzaga Belluzzo - São duas
concepções muito distintas. Eu
acho que as políticas universais
são uma conquista obtida no processo de avanço das camadas populares do século 20. São cidadãs,
não procuram graduar os direitos
e têm como propósito estabelecer
critérios universais, independentemente da condição social.
As políticas de focalização visam corrigir uma situação particular -mulheres solteiras ou famílias abaixo de certo nível de
renda, por exemplo-, supondo
que essa situação deve ser considerada como permanente. Focam
em determinadas situações sem
corrigir a posição estrutural do indivíduo na sociedade. Elas concordam com o resultado social
que o mercado produziu. Depois
simplesmente corrigem na margem esse resultado.
Folha - A focalização é uma política neoliberal?
Belluzzo - Ela considera que os
resultados produzidos pelo mercado têm de ser aceitos. Não é essa
a concepção das políticas universais, que supõem solidariedade e
implicam que os gastos com políticas devem ser financiados pelo
conjunto da sociedade.
Folha - As políticas universalizadas são criticadas por seu impacto
fiscal, uma vez que não haveria recursos para atender a todos.
Belluzzo - Isso tem de ser colocado para a sociedade. Temos de levar em conta as restrições fiscais e
orçamentárias. O que não pode é
desmontar o sistema de direitos e
transformá-lo numa sociedade
cujas relações de renda e propriedade estão cristalizadas, onde
quem nasceu pobre morre pobre.
O Brasil fez isso [a universalização] imperfeitamente, mas foi caminhando na direção de moldar
as suas políticas sociais de acordo
com o princípio da universalidade, que, na verdade, apesar de todos os esforços, não conseguiu ser
rompido. Muitas vezes as políticas sociais não corrigem as desigualdades. Agora, a partir daí, fazer a crítica e dizer que é melhor
pegar o dinheiro e só dar para os
pobres, consolidando uma situação de pobreza e de diferença de
renda, vai contra toda a visão do
estado de bem-estar social.
Folha - Defensores da política focalizada dizem que ela é eficaz porque atende os mais necessitados.
Belluzzo - Não. Na verdade, ela
perpetua uma situação de desigualdade que é constituída pelo
mercado. O que aconteceu aqui é
que, ao longo dos últimos anos,
boa parte da classe média se "dessolidarizou". Ela não usa mais ensino público, saúde pública. Isso
tem um impacto na opinião pública, e as pessoas dizem: "Então
desmonta, vamos focalizar". É
um desastre que as elites já patrocinaram aqui ao longo dos anos.
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