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São Paulo, quinta-feira, 24 de abril de 2003

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PT SOB SUSPEITA

Documentos mostram depósitos de R$ 65 mil em favor de Sérgio Gomes, ligado à Prefeitura de Santo André

Acusado recebeu dinheiro de empresário

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Seis comprovantes bancários obtidos ontem pelo Ministério Público paulista registram depósitos do empresário de ônibus de Santo André Luiz Alberto Gabrilli Filho em uma conta de Sérgio Gomes da Silva, acusado de participar de um esquema de extorsão na prefeitura da cidade.
Os depósitos em dinheiro, feitos em 97 e 98, somam R$ 65 mil. Os comprovantes foram repassados aos promotores pela filha do empresário, Rosângela Gabrilli, que denunciou o suposto esquema de cobrança de propina há um ano.
"Achei os papéis por acaso, durante o feriado de Páscoa, enquanto revirava alguns documentos do meu pai", disse ela.
Gomes da Silva, apesar de nunca ter ocupado um cargo na administração municipal, era amigo do prefeito assassinado Celso Daniel (PT) e, segundo os promotores, exercia uma influência "parda" dentro da prefeitura.
Por meio de seu advogado, Gomes da Silva negou ter recebido qualquer valor da família Gabrilli.
Para os promotores criminais de Santo André, no entanto, os recibos comprovam a acusação do empresário de que tinha de pagar propina à prefeitura petista como forma de garantir o contrato de sua empresa com o município.
A cobrança, segundo a família Gabrilli, só cessou após a morte de Celso Daniel, em janeiro do ano passado -o ex-prefeito era o coordenador de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi substituído, após seu assassinato, por Antonio Palocci Filho, hoje ministro da Fazenda.

Exceção
Segundo Rosângela, os depósitos apresentados ontem são exceções dentro do esquema de propina. Até "encontrar" os recibos, ela vinha afirmando que todos os pagamentos eram repassados pessoalmente em dinheiro ao grupo. "Meu pai era o único que conhecia esses papéis. Ele não me contou porque está muito doente", afirmou a empresária.
Pelos seis comprovantes, os depósitos foram feitos em dinheiro em três datas: 30 de setembro e 30 de outubro de 1997 e 30 de dezembro de 1998. Em cada dia, foram dois depósitos em horários diferentes, todos na mesma conta do banco Banespa, a crédito de "Sérgio Gomes da" (o nome aparece incompleto no registro bancário).
"Não sei o que ocorreu de anormal para que a propina fosse depositada", disse a empresária, que rejeitou a possibilidade de se tratar de um homônimo.
À Promotoria, Rosângela entregou ainda anotações sobre valores de propina e empresas de ônibus da cidade. Os papéis, no entanto, não indicam o autor do texto ou sua origem.
"O importante para o Ministério Público são os recibos bancários. É a prova de que Sérgio Gomes recebeu dinheiro. Agora é ele, que sempre disse não ter ligação com a família Gabrilli, que precisa justificar os seis depósitos em sua conta corrente", afirmou o promotor criminal de Santo André José Reinaldo Carneiro.
A investigação da Promotoria atinge ainda o vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT) -ex-secretário de Serviços Municipais- e o empresário de ônibus Ronan Maria Pinto. Todos foram denunciados (acusados formalmente) por crimes de formação de quadrilha e extorsão, mas a denúncia anda não foi recebida pela Justiça.
Uma parte do dinheiro arrecadado, segundo familiares do prefeito assassinado, serviu para financiar campanhas políticas do PT. O partido sempre negou práticas de atos irregulares.


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