São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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"Crise econômica" volta à retórica político-eleitoral

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre todos os elementos lançados pela curiosa entrevista de Ciro Gomes ao portal iG, poucos foram tão curiosos quanto a declaração de que o Brasil vai enfrentar uma crise econômica nos próximos anos.
"Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar essa crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir."
Até Ciro produzir tal análise -até agora não desmentida pelo próprio- ninguém, nem mesmo o mais ferrenho crítico da trajetória fiscal ou cambial do país, ousava dizer que o país caminha para uma crise -dessas, por exemplo que ameaçam ou já quebraram setores públicos de Portugal, Itália, Grécia e Espanha (os "Pigs", no acrônimo em inglês).
No pior cenário do caso brasileiro, verifica-se um aumento descontrolado do gasto público que traz benefícios eleitorais agora, mas que, lá na frente, no próximo governo, exigirá um forte aperto monetário (juros mais altos) e mais aumento da carga tributária.
Ou vislumbra-se um desajuste cambial que reduzirá o ritmo de crescimento do país, levando-o de volta ao modelo voo de galinha, em que a economia cresce num ano e cai em outro.
Crise econômica, porém, estava há tempos longe do léxico da retórica político-eleitoral do país. Tome-se, por exemplo, o trecho do discurso no qual José Serra lançou-se pré-candidato à Presidência. Em sua maior crítica à política econômica, ele disse: "Temos inflação baixa, mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que o crescimento seja sustentado nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infraestrutura, inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do deficit do balanço de pagamentos".
No governo, ninguém quis falar a respeito da declaração de Ciro. Ouvido em off, um ministro afirmou que as contas do governo estão sob controle, assim como o nível cambial.
A maior preocupação de especialistas diz respeito aos sucessivos aportes de recursos do Tesouro ao BNDES. Da maneira como têm sido feitos, eles se resumem a criar dinheiro sem, aparentemente, aumentar a dívida líquida do país.
Seria uma ação "parafiscal" que estaria fragilizando silenciosamente as contas públicas. De junho de 2008 a setembro passado, a dívida bruta do país, que computa esses aportes, passou de 54,8% para 66,5% do PIB. Alguns analistas chegaram a prever que a dívida poderia atingir 70% do PIB.


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