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"Crise econômica" volta à retórica político-eleitoral
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Entre todos os elementos
lançados pela curiosa entrevista de Ciro Gomes ao portal iG,
poucos foram tão curiosos
quanto a declaração de que o
Brasil vai enfrentar uma crise
econômica nos próximos anos.
"Em 2011 ou 2012, o Brasil
vai enfrentar uma crise fiscal,
uma crise cambial. Como o PT,
apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar essa crise? Dilma não aguenta. Serra tem
mais chances de conseguir."
Até Ciro produzir tal análise
-até agora não desmentida pelo próprio- ninguém, nem
mesmo o mais ferrenho crítico
da trajetória fiscal ou cambial
do país, ousava dizer que o país
caminha para uma crise -dessas, por exemplo que ameaçam
ou já quebraram setores públicos de Portugal, Itália, Grécia e
Espanha (os "Pigs", no acrônimo em inglês).
No pior cenário do caso brasileiro, verifica-se um aumento
descontrolado do gasto público
que traz benefícios eleitorais
agora, mas que, lá na frente, no
próximo governo, exigirá um
forte aperto monetário (juros
mais altos) e mais aumento da
carga tributária.
Ou vislumbra-se um desajuste cambial que reduzirá o ritmo
de crescimento do país, levando-o de volta ao modelo voo de
galinha, em que a economia
cresce num ano e cai em outro.
Crise econômica, porém, estava há tempos longe do léxico
da retórica político-eleitoral do
país. Tome-se, por exemplo, o
trecho do discurso no qual José
Serra lançou-se pré-candidato
à Presidência. Em sua maior
crítica à política econômica, ele
disse: "Temos inflação baixa,
mais crédito e reservas elevadas, o que é bom, mas para que
o crescimento seja sustentado
nos próximos anos não podemos ter uma combinação perversa de falta de infraestrutura,
inadequações da política macroeconômica, aumento da rigidez fiscal e vertiginoso crescimento do deficit do balanço de
pagamentos".
No governo, ninguém quis
falar a respeito da declaração
de Ciro. Ouvido em off, um ministro afirmou que as contas do
governo estão sob controle, assim como o nível cambial.
A maior preocupação de especialistas diz respeito aos sucessivos aportes de recursos do
Tesouro ao BNDES. Da maneira como têm sido feitos, eles se
resumem a criar dinheiro sem,
aparentemente, aumentar a dívida líquida do país.
Seria uma ação "parafiscal"
que estaria fragilizando silenciosamente as contas públicas.
De junho de 2008 a setembro
passado, a dívida bruta do país,
que computa esses aportes,
passou de 54,8% para 66,5% do
PIB. Alguns analistas chegaram
a prever que a dívida poderia
atingir 70% do PIB.
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