São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Governo decide não rebater críticas de Ciro

Deputado foi "injusto" ao dizer que Lula "navega na maionese", afirma Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara

Ataques surpreenderam até o PSB; Roberto Amaral, vice-presidente do partido, que esteve ontem com Lula, diz que vai falar com Ciro

VALDO CRUZ
MARIA CLARA CABRAL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após as críticas e alfinetadas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), classificadas por governistas de "injustas", o presidente Lula vai esperar a "poeira baixar" para, então, buscar atrair seu ex-ministro da Integração Nacional para a campanha de Dilma Rousseff.
Auxiliares de Lula consideraram que as críticas do deputado, que pleiteava ser candidato pelo PSB, estão no "preço" e já eram esperadas diante do processo de isolamento a que ele foi submetido. Ontem, a ordem no governo era não rebater Ciro no mesmo tom.
Agora, o presidente vai aguardar que o PSB anuncie oficialmente, na próxima terça-feira, a esperada decisão de apoiar a candidatura de Dilma e avaliar o melhor momento para convidar Ciro para uma conversa. Antes disso, está descartado qualquer encontro.
Na avaliação de governistas, o roteiro ideal seria Lula ter falado antes com o deputado, na busca de evitar que ele fizesse suas tradicionais críticas em tom agressivo contra o governo e a candidatura de Dilma. Só que ele evitou atender ligações de assessores de Lula que desejavam agendar o encontro. Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), Ciro foi "muito injusto com o PT e com Lula" ao dizer que o presidente "navega na maionese".
"Nós garantimos a ele a possibilidade de sair para o governo de São Paulo, ele não topou. Mas nós não concordamos com a tese de sua candidatura para a Presidência. Ele que tem que arcar com a política dele", disse, para depois afirmar que não queria polemizar. "Acho que a gente não deve responder ao Ciro, ele tem um jeito próprio.
Agora posso dizer que o apoio é importante e continua sendo." O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que a comparação entre candidatos tem de ser feita pelo eleitor, numa referência ao fato de Ciro ter dito que o tucano José Serra é mais preparado do que a petista.
Questionado sobre o assunto, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, limitou-se a cantarolar a música "Gota d'Água", de Chico Buarque, que fala em "pote de mágoa". Lula foi na mesma linha: "Estou mudo".
A atitude de Ciro pegou de surpresa os próprios dirigentes do PSB. Roberto Amaral, vice-presidente, disse que as declarações são "ruins" e que não têm amparo no partido.
Amaral afirmou ainda que no encontro com Ciro foi acertado que a legenda teria uma posição unitária. "Com certeza vou procurá-lo [Ciro]. Essa declaração é uma opinião dele. Somos um partido democrático, quando tomamos uma decisão, ela é obedecida por todos os quadros. Com certeza é ruim, mas não é uma tragédia", disse.
Junto com o governador Eduardo Campos (PE), presidente do PSB, Amaral esteve ontem pela manhã com Lula. "Ele [Lula] nos disse que respeitaria qualquer que fosse nossa decisão", disse Amaral.
Campos preferiu não comentar as declarações.


Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília


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