São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Mercadante diz que PT agora está unido

Pré-candidato ao governo paulista afirma que PSDB e DEM estão muito divididos em relação à candidatura de Alckmin

Senador -que terá a sua pré-candidatura ao governo lançada hoje- diz que não adianta explicar caso dos "aloprados" aos adversários

Jorge Araujo/Folha Imagem
O senador Aloizio Mercadante, que será lançado hoje pré-candidato do PT ao governo paulista, durante entrevista na sede do partido, no bairro da Bela Vista

ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O senador Aloizio Mercadante, 55, inicia oficialmente hoje a tarefa de tentar levar o PT pela primeira vez ao governo de São Paulo. É a segunda vez que ele concorre ao cargo. Na primeira, em 2006, sua campanha foi chamuscada pelo escândalo da compra de um dossiê contra seu então rival José Serra (PSDB), o episódio dos "aloprados", como batizou Lula. Apesar de não ter sido o plano A -o PT e Lula apostavam em Ciro Gomes (PSB)-, o senador assume a tarefa com o partido apaziguado. Desta vez, Mercadante aposta suas fichas no desgaste dos tucanos, há 16 anos no poder, e na falta de unanimidade dentro do PSDB em torno de Geraldo Alckmin como candidato ao governo.

 

FOLHA - Por que o sr. quer ser governador?
ALOIZIO MERCADANTE -
Porque eu acho que São Paulo merece muito mais do que tem hoje. É um Estado fantástico, que tem a melhor base industrial do país, os melhores serviços, universidades, centros de tecnologia, tem uma agricultura moderna, a mais produtiva do país. No entanto, nestes 27 anos, tivemos o mesmo grupo se alternando, estão todos juntos novamente, querem trazer de volta alguém que já foi vice-governador e governador por 12 anos, enquanto os problemas fundamentais que são de competência do Estado não evoluíram como deveriam. Ao contrário, estamos assistindo o Brasil com reconhecimento internacional com dinamismo com energia e São Paulo perdendo sua liderança.

FOLHA - O slogan de sua pré-campanha é "São Paulo a favor do Brasil". São Paulo está contra o Brasil?
MERCADANTE -
Acho que São Paulo precisaria estar em sintonia com esse momento extraordinário que foi construído no país. São Paulo sempre foi a locomotiva do país, e hoje não é. Está perdendo a liderança na educação, na segurança, no crescimento econômico, no desenvolvimento. [...] Eu sinto que é um governo que está sendo superado pelos fatos. [...] Eu acho que São Paulo precisa de outro caminho, São Paulo merece muito mais.

FOLHA - A Lula o sr. pediu algo em troca da candidatura, caso perca?
MERCADANTE -
A única condição que eu pus é que eu vou lutar pela vitória e que eu tenho certeza que ele vai se empenhar na nossa candidatura. E ele vai. Isso é o que importa nesse momento, porque nunca tivemos o Lula com o apoio popular que tem hoje. É um cenário muito favorável e acho que a despedida do Lula vai emocionar o Brasil e criar uma sensação de vazio na política e no cenário internacional. Isso vai ser um fator decisivo para a vitória da Dilma e para a nossa vitória.

FOLHA - O sr. viveu muitas dificuldades no Senado, onde teve derrotas. Qual foi o momento mais difícil?
MERCADANTE -
Ser líder do governo numa situação de minoria, como eu fui, tudo foi difícil. Cada projeto que nós aprovamos exigia negociação, mobilização, argumentação. Líder do governo é que nem São Sebastião, cada dia uma flecha.

FOLHA - Em agosto, quando o senhor anunciou sua renúncia "irrevogável" e voltou atrás, foi um deles?
MERCADANTE -
Eu fiquei muito indignado com a situação do Senado, principalmente com aquele capítulo lamentável de atos secretos. A administração pública tem de ser transparente. [...] Eu, me dedicando como me dedicava ao meu mandato, trabalhando como trabalhava para sustentar o governo... Nunca fui da Mesa, nunca quis ir para a Mesa [...] Você vê aquilo tudo... Eu disse "não". Porém todos os senadores do partido e do bloco pediram para eu ficar. E o presidente Lula disse "Mercadante, você tem que ficar na liderança, é essencial para o projeto, para o país". Eu tenho um compromisso com o projeto e, apesar de me sentir muito incomodado com o que aconteceu, achei que era melhor mudar de posição, mas nunca mudar de lado. Meu lado sempre foi o mesmo, ao lado do presidente Lula e ao lado desse projeto que ajudei a construir.

FOLHA - Então o sr. se precipitou no Twitter [onde anunciou a renúncia]?
MERCADANTE -
Não. Eu manifestei meu sentimento, minha vontade, que é essa. A minha indignação. Pelo menos, não fiz o que outros fizeram, foram ao cartório e escreveram que não iam ser candidatos ao governo de São Paulo, que iam continuar até o final do mandato e deixaram o compromisso. Em política, as vezes a gente tem fatos novos que tem que avaliar.

FOLHA - Está preparado para ver o episódio dos "aloprados" voltar?
MERCADANTE -
Têm coisas na vida que para os amigos você não precisa explicar, para os desconhecidos você deve explicar, na vida pública é melhor ter toda a transparência. E para os adversários não adianta explicar. Inclusive para alguns veículos [de comunicação]. Não adianta.

FOLHA - Para atacar o candidato tucano, a candidata do PT terá que falar de São Paulo. Isso o ajuda?
MERCADANTE -
Ajuda o fato de que estamos muito unificados, ampliamos as alianças, e eles estão muito divididos. O governador interino disse que o Alckmin não é o melhor candidato deles. Isso mostra que há uma tensão. Também com [o prefeito da capital, Gilberto] Kassab [DEM] e mesmo para o Senado não há definição.

FOLHA ONLINE
Leia a íntegra da entrevista de Mercadante

www.folha.com.br/1011318


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