São Paulo, quinta-feira, 24 de maio de 2001

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INTELECTUAIS

"Fiquei mais assustado", diz Giannotti

DA REPORTAGEM LOCAL

Intelectuais reagiram com preocupação e críticas à avaliação de Fernando Henrique Cardoso, segundo quem a democracia brasileira correria riscos derivados da "leviandade" da imprensa e do "golpismo" da oposição.
"Fiquei mais assustado do que já estava", disse à Folha José Arthur Giannotti, amigo de Fernando Henrique Cardoso e presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
"Ele entrou em pânico. Do seu jeito, parece estar descobrindo o que os seis anos do seu governo provocaram. E agora procura culpar a oposição pelo que fez e deixou de fazer", avaliou o economista Francisco de Oliveira, que se desligou do Cebrap em 95.

Espanto
O professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o cientista político Fábio Wanderley Reis, disse que a entrevista de FHC foi "um espanto e um erro de avaliação".
"É até compreensível que esteja reagindo aos ataques da oposição, mas ele está absolutamente equivocado quando avalia que a democracia corre risco. O presidente parece sofrer por assistir à perda de poder com o fim do seu mandato e o crescimento das oposições", disse Reis.
Na nota que redigiu à Folha, Giannotti relacionou as declarações de FHC com 2002.
"A luta pela sucessão se transforma numa guerra que tenta destruir a especificidade de cada instituição e o caráter de qualquer figura pública. O adversário precisa ser abatido como um criminoso comum", escreve Giannotti. "Se digo 2+2=4, estou errado porque, sendo amigo do presidente, estou tão errado quanto ele, que pôs, não se sabe como, dinheiro em Cayman", disse, referindo-se ironicamente ao dossiê Caribe.
Tanto Giannotti quanto Oliveira citaram a "luta de todos contra todos", do filósofo inglês Thomas Hobbes, (1588-1679).
"Ele [FHC] só tem razão quando aponta um clima de fascismo no país. É verdade. Afinal, foi a sua Presidência, que governa por medidas provisórias, que desorganizou o Estado e criou as condições fascistas de uma luta de todos contra todos", disse Oliveira.

"Destruição da nuance"
Giannotti diz que há hoje no país "uma destruição da nuance, uma fúria contra a inteligência, promovida até mesmo por intelectuais orgânicos ou não, como se o outro fosse o burro, que só pode resultar na guerra de todos contra todos, no destempero verbal e na destruição das instituições democráticas".
"Se afirmo que existe entre a política e a moral uma zona cinzenta de indefinição", disse ainda Giannotti, referindo-se aos ataques que sofreu por seu artigo "Dedo em riste do jornalismo moral", publicado pela Folha no último dia 17, "sou interpretado como se estivesse defendendo a imoralidade na política e elogiando o rouba, mas faz, quando apenas quis dizer que a aplicação de critérios morais aos atos políticos requer procedimentos diferentes, passando pela mediação do público."



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