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Política fiscal tem de ser mantida, diz Mishkin
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o governo brasileiro mudar
os rumos da política fiscal, o regime de metas de inflação tende a
entrar em colapso. A opinião é do
economista norte-americano Frederic Mishkin, considerado hoje
um dos maiores especialistas em
política monetária.
Professor da universidade Columbia, em Nova York, Mishkin
tem se dedicado, entre outros assuntos, a pesquisar os regimes de
metas de inflação em países emergentes, como o Brasil.
Em entrevista à Folha, Mishkin
elogiou tanto o ex-presidente do
BC Armínio Fraga como o atual
ocupante do cargo, Henrique
Meirelles. Mas demonstrou preocupação em relação às pressões
que o governo Lula vem sofrendo
para alterar o rumo da política fiscal e passar a "gastar mais".
(EF)
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Folha - Há uma
discussão recente
no Brasil sobre
nosso sistema de
metas de inflação.
Alguns especialistas defendem que
o regime seja mais
flexível...
Frederic Mishkin
- Uma coisa importante de entender é que o Brasil
já tem um regime
bastante flexível.
Em primeiro lugar, vocês têm
uma banda de variação bastante
larga.
Ainda mais importante do que
isso é o fato de
que, quando a
economia é atingida por um choque, o governo está disposto a ajustar meta de curto
prazo, ainda que
nada mude para o
longo prazo.
Um clássico
exemplo foi o que ocorreu no início de 2003, o Brasil foi atingido
por forte choque por causa da
eleição presidencial, o real se desvalorizou e isso provocou uma
forte alta da inflação. Na época, o
BC brasileiro ajustou a meta bastante para cima.
É impressionante o fato de que
isso foi feito pelo Meirelles tão
bem quanto pelo Fraga. Armínio
Fraga foi um ótimo presidente de
Banco Central, mas Meirelles
também tem feito um trabalho
excelente.
Folha - O senhor é a favor de que,
em casos de choques, os países mirem outro ponto da banda da meta
e não o centro?
Mishkin - Você deve usar a faixa
que tem e, se você sofre um choque muito, muito grande deve
ajustar a meta. Foi que o Banco
Central brasileiro fez.
Folha - Existe uma faixa ideal de
inflação para países emergentes?
Mishkin - Na verdade, estou fazendo uma pesquisa sobre isso
agora, mas ainda não tenho essa
resposta. Mas é uma pergunta importante.
Folha - O quão elevada pode ser a
inflação em um país emergente?
Mishkin - Os argumentos são de
que a inflação em países emergentes deveria ser um pouco mais alta
do que nos países desenvolvidos.
Folha - A política monetária perde parte de sua eficiência em países com uma dívida pública interna
elevada, como a brasileira?
Mishkin - Eu acho que a resposta
é, certamente, sim, mas com a seguinte observação: se a política
fiscal sai de controle, o sistema de
metas de inflação não vai funcionar, a política monetária não vai
funcionar.
Então, um elemento-chave em
termos de um controle bem-sucedido da inflação num país como o
Brasil é o que é feito pelo governo
em termos de política fiscal.
Na verdade, o governo Lula tem
sido muito, mas muito melhor do
que o mercado esperava e uma
das razões para o sucesso do governo- que, apesar do choque
inflacionário sofrido em 2002, antes da eleição, conseguiu trazer a inflação de volta para um nível apropriado- foi sua
atitude responsável em termos da
reforma previdenciária etc.
Em países avançados, essa questão da política fiscal não é tão crítica e a política monetária pode fazer
surtir muito mais
efeito por si só,
mas isso não se
aplica ao Brasil e
aos demais países
emergentes. Nesses mercados, a
política monetária
só consegue funcionar com a cooperação das autoridades fiscais.
Folha - A dívida
pública no Brasil
continua subindo
apesar de um alto
superávit fiscal...
Mishkin - Um
dos problemas é
que um país
emergente não pode ter o mesmo
nível de endividamento que os
países avançados e ser capaz de
fazer boas políticas.
Acho que essa é a lição. Uma relação entre dívida e PIB [Produto
Interno Bruto] de 60% ao ano não
parece alta para um país avançado, mas, por outro lado, pode ser
um problema sério para um país
emergente.
Folha - O que o governo brasileiro
pode fazer para melhorar o sistema
de metas?
Mishkin - Em primeiro lugar, o
governo deve continuar perseguindo uma atitude fiscal responsável. Até agora, o governo Lula
tem sido muito bom nisso, mas há
muita pressão para que caminhe
em outra direção.
Dentro do próprio partido de
Lula, há muita pressão para que o
governo gaste muito mais. Acho
que essa é a questão mais importante agora.
O outro ponto é que, até agora,
o regime de metas de inflação ainda não foi institucionalizado no
Brasil, foi instituído por um decreto presidencial no governo anterior. No longo prazo, essa será
uma coisa importante para o governo brasileiro fazer.
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