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Para Arestis, só política monetária não basta
DA REPORTAGEM LOCAL
A manutenção de taxas baixas
de inflação independe da adoção
de um sistema de metas. Na avaliação de Philip Arestis, especialista em macroeconomia e finanças
internacionais da Universidade
de Cambridge, o mundo já vive
uma era de inflação baixa obtida,
em grande medida, por países
que jamais adotaram o modelo.
Para o economista britânico, a
obstinação em perseguir um teto
para a inflação pode desviar a
atenção dos governos, especialmente o dos países emergentes,
de outras questões importantes
como políticas de crescimento,
programas de distribuição de renda e de geração de empregos.
Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.
(CC)
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Folha - O senhor
argumenta no seu
artigo "Metas de
inflação: uma
abordagem crítica" que esse sistema é inútil. Por
quê?
Philip Arestis - O
alvo e as expectativas de taxas de
inflação constituem elementos
fundamentais do
sistema de metas
de inflação. Consequentemente, a
previsão da taxa
que será atingida
no ano desempenha um fator de
destaque nesse
modelo.
O problema é
que isso pode
acarretar um grave erro, já que há
grandes margens
para erros. Outra
falha é que o sistema não consegue
lidar com problemas que exercem
grande impacto
na inflação, como
altas elevadas nos preços do petróleo e outras crises externas sobre as quais as políticas monetárias dos bancos centrais não têm
efeito. Nesses momentos, um
banco central focado em perseguir a meta de inflação pode acabar aprofundando uma recessão.
Folha - No Brasil, instrumentos
de política monetária como mudanças das taxas de juros e o sistema de metas de inflação têm sido a
base da gestão econômica. Quais
as suas objeções no caso brasileiro?
Arestis - Não quero acusar ninguém nem ser rude com o governo brasileiro, mas, honestamente,
não acredito que o sistema de metas de inflação funcione, especialmente no Brasil, onde há tantos
objetivos para serem cumpridos:
crescimento econômico, distribuição de renda, elevação do padrão de vida e equilíbrio do balanço de pagamentos.
De forma genérica, digo que,
para cumprir todos esses objetivos, não é possível visar em apenas um objetivo -controlar a inflação- e usar apenas uma arma
-controle das taxas de juros.
Achamos que esse é o modo errado de fazer política econômica.
Folha - Qual seria a alternativa?
Arestis - Os partidários do sistema de metas de inflação, em geral,
colocam o uso de políticas fiscais
em segundo plano. Eles acreditam que o governo deve apenas
equilibrar os livros e as contas.
Em suma, acreditam que o governo deve evitar déficits. Achamos
que isso não está certo, porque
acreditamos que é importante
usar a política fiscal para estimular a atividade econômica e elevar
o nível de vida da população.
Claro que é preciso haver preocupação com déficits, mas isso é
bem diferente de dizer que a adoção de políticas fiscais deva ser
completamente ignorada. Só política monetária não é suficiente.
No nosso trabalho, mostramos
que mudanças na taxa de juros
não têm impacto poderoso na inflação. Alguns dirão que pouco
importa o tamanho do impacto
de mudanças na taxa de juros,
pois o importante
é que o resultado é
previsível. Mas vimos que eles não
são previsíveis.
Folha - Mas é possível abandonar o
modelo de metas
sem causar uma
explosão inflacionária no Brasil? Como mudar o paradigma da política
monetária?
Arestis - O Brasil
não precisa se
preocupar com a
volta de elevados
níveis de inflação,
que, obviamente,
não são desejados.
O problema da inflação não é mais
tão grave como
costumava ser.
Nós defendemos
uma mudança no
paradigma. Por
que não estabelecer uma meta de
emprego em vez
de uma meta de
inflação? Por
exemplo, acredito
que a política fiscal poderia ser usada para estimular a economia até que ela atinja
um determinado nível de emprego. É claro que entendemos que
há quem se preocupe com o fato
de a política fiscal ser usada com
fins eleitorais, mas por que não
pensar em formular regras? As regras poderiam ser adaptadas para
resolver problemas específicos.
Folha - Mas o senhor não concorda que nos países, inclusive no Brasil, as metas têm ajudado a controlar a inflação?
Arestis - Eu vejo que no Brasil as
coisas não têm sido tão bem-sucedidas assim. Nos primeiros dois
anos, a inflação ficou dentro da
meta, mas acredito que desde
2002, a inflação tem escapado do
alvo e parece que esse também será o caso em 2004.
Folha - Mas e na Suécia, na Inglaterra...
Arestis - Hoje mais de 40 países
usam as metas de inflação. De fato, parece que nesses países o modelo é bem-sucedido, afinal a inflação tem sido debelada nos últimos 15 anos. Mas, numa análise
mais profunda, vemos que, no
mesmo período, países que não
adotaram o sistema também tiveram inflação baixa.
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