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GOVERNO SOB PRESSÃO
Petistas vêem "arrogância" nas declarações de FHC; tucanos afirmam que PT não tem autoridade para criticar quem quer "evitar uma crise"
Em notas, PT e PSDB sobem o tom de ataques
DA REPORTAGEM LOCAL
Em notas duras divulgadas ontem, PT e PSDB deram sequência
aos ataques mútuos que haviam
desferido um contra o outro no final de semana, quando ambas as
siglas reuniram suas lideranças.
O PT reagiu às declarações do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que no sábado, havia comparado o governo Lula a um "peru bêbado", durante discurso em São Paulo.
A nota do PT acusa a certa altura o ex-presidente de ter cometido
um ato de "elitismo arrogante",
baseando-se em uma frase que
FHC na verdade não disse e que
foi transcrita incorretamente pela
Folha (leia a seção Erramos). Segundo a edição de anteontem do jornal, FHC teria dito
que "a sertanização" por que passa Brasília "pode atingir a democracia". O PT viu na afirmação
um sinal de preconceito contra o
"povo humilde". FHC, porém, se
referia aos riscos da "centralização" do poder em Brasília.
Momentos antes, defendeu que
seu partido deveria se voltar mais
à vida política local: "Temos de
olhar mais o município, a casa, o
vizinho. Porque olhando lá para
cima, vendo a centralização, vendo essa Brasília que em algum
momento foi chamada de a ilha
dos sonhos, dá uma desilusão
enorme. Isso é sério. Isso é sério e
pode atingir a democracia. E nós
somos democratas. Nós não queremos ver a desmoralização da
classe política", disse Fernando
Henrique.
Na nota que divulgou ontem,
em reação ao documento petista,
o presidente do PSDB, senador
Eduardo Azeredo (MG), nega que
o ex-presidente tenha falado em
"sertanização" (leia as íntegras
das notas à direita).
Metáfora singela
O texto petista repudia a comparação de FHC entre o governo
petista e "um peru bêbado". Para
Genoino, "não se trata apenas de
uma inadequação na boca de um
ex-presidente , nem apenas de arrogância, conduta que o caracteriza desde quando exercia a Presidência". O documento diz que o
ex-presidente "exercitou um
grosseiro ato de provocação explícita ao atual governo".
Durante encontro no sábado,
FHC disse que o país vive um momento "em que todos se olham e
se perguntam: qual é o rumo?". O
próprio Fernando Henrique
completou: "O que vão fazer conosco? Ou vão simplesmente jogar a culpa no passado, derrotados como peru bêbado em dia de
Carnaval".
Na nota de reação tucana, Azeredo defende a metáfora usada
por FHC: "Por singela que seja a
metáfora, ela expressa o que todo
mundo percebe: a agenda legislativa está paralisada, o governo
não sabe como reatar suas conexões no Congresso e não apresenta ao país um horizonte mais promissor", diz o texto.
"A referência à falta de rumo do
governo -constatação óbvia nas
últimas semanas- foi feita por
uma comparação singela aos perus de Natal, aos quais se embriaga e se os põe em um círculo de giz
do qual não saem. A reprodução
pela mídia, referindo-se ao Carnaval, é incorreta", continua a nota do PSDB. O ex-presidente usa,
porém, a expressão "dia de Carnaval", conforme a gravação.
Genoino disse à Folha que
"quem está tonto e perdeu a cabeça" é FHC. "Ele perdeu a noção e o
parâmetro da oposição para virar
uma vivandeira da crise".
A nota do PSDB questionou a
"autoridade" do PT para fazer as
críticas: "Que autoridade tem
quem, em passado recente, gritou
"fora FHC", com o objetivo de desconstituir um Governo democrático, para criticar quem apenas
quer evitar a crise?"
Na nota petista, Genoino afirma: "Parece que o seu objetivo [de
FHC] consiste em insuflar artificialmente uma suposta crise institucional". De acordo com o petista, "não há crise, há um problema
político de agenda, de maioria no
Congresso", que, ainda segundo
Genoino, "o PT está resolvendo".
"Quanto às menções sobre o ex-presidente estar apostando numa
crise institucional, não é certo. Ele
não se referiu à conjuntura, mas
ao notório desligamento entre o
sistema político e os eleitores. O
não-cumprimento, pelo governo,
das promessas do PT acelera a
frustração do eleitorado", diz a
nota tucana.
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