São Paulo, sábado, 24 de junho de 2000


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SÃO PAULO
Ex-prefeito interino afirma que proposta de suborno estaria em torno de US$ 10 mi, mas que não identificou de onde partiu
"Queriam manter o esquema", diz Regis

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-prefeito de São Paulo, Regis de Oliveira (sem partido), afirmou que estaria em torno de US$ 10 milhões a suposta proposta de suborno para indicar o secretário municipal da Saúde durante sua gestão como prefeito interino -entre os dias 26 de maio e 13 de junho.
Regis havia assumido o cargo, por força de liminar da Justiça, que afastou provisoriamente Celso Pitta. O prefeito foi acusado de possível restrição na coleta de provas de processo que o investiga por supostos crimes de improbidade administrativa.
A proposta de suborno teria sido feita a um assessor do prefeito interino na primeira semana de junho. Esse assessor teria sido procurado por um homem que se dizia empresário. A proposta teria sido recusada, segundo Regis, que declara não ter feito uma denúncia formal à época, sob a alegação de falta de provas.
Regis indicou para a Secretaria da Saúde o médico José Aristodemo Pinotti. Entre outras atribuições, o secretário era o responsável pelos pagamentos do PAS (Plano de Atendimento à Saúde), serviço de cooperativas privadas que substituiu o atendimento público hospitalar e ambulatorial.
Regis falou à Folha ontem, por telefone, de Porto Rico, onde descansa em férias. Em encontro no dia 11, no gabinete do prefeito, Pinotti relatou a Regis que recebera oferta de R$ 1,5 milhão por mês para manter a estrutura do PAS. Ouviu como resposta que Regis também recebera proposta de suborno. O ex-prefeito não identificou o grupo que tentou corrompê-lo, mas disse saber quais eram as suas intenções. "Eles queriam manter o seu esquema no PAS."

Folha - O secretário da Saúde de sua gestão, José Aristodemo Pinotti, disse que o sr. sofreu uma tentativa de suborno de US$ 10 milhões de dólares para indicar uma outra pessoa para a secretaria. É verdade?
Regis de Oliveira -
Teve isso, mas eu não quis saber.

Folha - Ele disse que o senhor lhe mostrou uma carta com os nomes que seriam indicados para a secretaria.
Regis
- Não teve carta nenhuma. Havia recados de grupos interessados na continuidade do PAS (Plano de Atendimento à Saúde).

Folha - Quais grupos?
Regis -
Não sei e não quis saber.

Folha - Mas tentativa de suborno é crime.
Regis -
Crime eu teria cometido se aceitasse.

Folha - Mas quem tentou subornar o prefeito cometeu crime.
Regis -
Sim, mas eu descartei, não levei adiante e não tinha provas para fazer uma denúncia.

Folha - E qual seria o interesse desse grupo?
Regis -
Eles queriam manter o atual esquema do PAS, com esses pagamentos absurdos. Achavam que eu ia acabar com aquilo e ia mesmo. Por isso tentaram (o suborno).

Folha - O valor era de US$ 10 milhões?
Regis
- Acho que era isso, não sei.

Folha - Na sua conversa com o dr. Pinotti, ele contou que sofreu uma tentativa de suborno de R$ 1,5 milhão mensais para manter o PAS?
Regis -
Ele me relatou a oferta e juntos concordamos que o melhor a fazer era acabar com o PAS e atingir esse esquema. Estava tudo pronto quando tudo terminou (no dia 13 de junho, dois dias depois da conversa entre Regis e Pinotti, a Justiça reconduziu Pitta).

Folha - O sr. recebeu pressões para indicar outros secretários?
Regis
- Indiquei quem eu quis. Quando esse tipo de coisa chegava no meu ouvido, descartava.



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