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RÉPLICA
Críticas se fazem compreender sem agressividade verbal
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
Construir um argumento com
base em sensações, no "tom", no
que não se escreveu mas quer-se
ver, leva em geral à discriminação
e à ofensa. Não podia ser diferente
na crítica do domingo passado à
entrevista com Iasser Arafat publicada uma semana antes.
Em crítica interna, o ombudsman afirmara que o furo teve um
custo. Após contestação, pediu
desculpas. No domingo, apesar
de defender "contraditórios", não
me ouviu antes de fazer insinuações graves como a de que as
questões a Arafat foram encomendadas, procedimento que
não faz parte de meus métodos de
trabalho. A entrevista é uma conquista profissional, feita em condições desfavoráveis e fruto de
um investimento de ao menos
dois anos. Arafat rejeitava entrevistas desde o início da Intifada.
Quanto ao diário "Le Figaro",
que, como vários jornais estrangeiros, apreciou a reportagem e
negocia sua compra, o entrevistado era outro e havia 36 perguntas.
Seria simplista escolher 11 questões novas e desenvolver uma tese
oposta à do ombudsman.
Em resposta à crítica interna,
explicara o porquê das perguntas.
Por exemplo: "Israel o acusa de
voltar à luta armada". Isso pressupõe que o entrevistado tenha sido
adepto da luta armada, o que não
parece positivo. A agressividade
verbal nem sempre é a melhor estratégia, como revelam entrevistas com Arafat. Críticas se fazem
compreender sem violência.
O material de apoio descreve o
cotidiano do líder palestino objetivamente. Depois de ir ao Oriente
Médio dezenas de vezes e ali viver
alguns anos, parece-me clara a
importância de não perpetuar mitos que um lado tem sobre o outro
-não faltam obras de ficção.
Texto à parte trouxe não apenas
a posição do governo mas também a da sociedade israelense. A
afirmação de Israel de que Arafat
provocou a Intifada para obter
concessões no processo de paz
vem em destaque aí e no segundo
parágrafo da entrevista ["...rechaça a acusação de Israel de que ele
organizou o levante"".
A cronologia destacou fatos negativos como o de que, em 1967,
"o Fatah [fundado por Arafat" intensifica ataques contra Israel,
apoiado por grupos palestinos".
"Por que não mencionar, então,
o fato conhecido de que Arafat,
antes de abraçar a causa palestina,
foi um rico especulador imobiliário no Kuait?", perguntara o ombudsman na crítica interna. Porque nas cinco biografias de Arafat
(uma israelense, uma árabe, uma
norte-americana e duas européias) que consulto para o livro
que estou a escrever, não há menção sobre isso. De qualquer modo, ainda que tivesse sido especulador, Arafat "abraçou a causa"
bem antes de ir, em 1957, ao
Kuait. Em 1948, com 16 anos,
apresentou-se como voluntário
para os confrontos israelo-árabes.
As declarações de Arafat causam incômodo a alguns, mas são
parte do diálogo. Como diz o pacifista israelense Yehezkel Landau, o respeito à diferença passa
pelo fim do estranhamento.
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