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NO PLANALTO
BC começa a apalpar contas bancárias do M$T
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A s arcas do M$T estão prestes a tomar uma lufada de
ar fresco. Por ordem do juiz Nilton José Falcão, da Justiça Federal
de Teodoro Sampaio (SP), arrombaram-se as porteiras das contas
bancárias da Cocamp, a cooperativa dos assentados da região do
Pontal do Paranapanema. Trata-se de uma das principais vitrines
dos sem-terra no país.
Rompeu-se também o sigilo das
contas dos dirigentes da Cocamp,
entre eles José Rainha Jr., a silhueta mais festejada do M$T depois
da de João Pedro Stedile. O Banco
Central já apalpou alguns extratos, colhidos na rede bancária.
Aguarda-se o fim da colheita para os próximos 15 dias.
Os frutos serão remetidos a
quem os solicitou, o juiz José Falcão. Ele os semeará no inquérito
civil aberto para apurar suspeitas
de desvio de dinheiro público do
programa de reforma agrária.
Até aqui, a principal peça do
processo é uma auditoria que
aponta a prática de malfeitorias
variadas na Cocamp. A inspeção
foi feita no ano passado por técnicos da mesma repartição que ajudou a iluminar os porões da
$udam de Jader Barbalho, a Secretaria Federal de Controle, do
Ministério da Fazenda.
A Polícia Federal conduz as investigações, a pedido do Ministério Público. Os agentes não vêem
a hora de deslizar os olhos pelo
papelório. Tiveram a curiosidade
aguçada no último mês de março,
ao invadir extratos bancários de
Miriam Farias de Oliveira, militante do M$T filiada à Cocamp.
A PF recebeu os segredos bancários de Miriam de fonte anônima.
Verificou-se que a conta da misteriosa militante, aberta na agência
2.718 do Banco do Brasil, sob número 07345, exibia extraordinários índices de produtividade. Em
escassos 20 dias (de 1º a 21 de novembro de 2000), foi irrigada com
R$ 96.753,60. Uma cifra que não
costuma roçar as mãos de um
sem-terra nem em sonho.
Na terminologia do submundo
das transações financeiras duvidosas, Miriam seria uma laranja
do M$T. A PF desconfia que o
movimento dos sem-terra mantenha um laranjal no quintal de algumas cooperativas, adubado
com dinheiro da Viúva. Só na Cocamp, Brasília já enterrou mais
de R$ 4 milhões.
Se confirmadas, as suspeitas
não mancharão apenas a reputação do M$T. Levarão de cambulhada o Incra e o Banco do Brasil,
responsáveis pelo repasse e pela
fiscalização do dinheiro que sustenta as cooperativas.
A quebra de sigilo determinada
pelo juiz José Falcão alcança todo
o período de funcionamento da
Cocamp, desde a sua fundação,
em 28 de dezembro de 1994.
Quanto aos dirigentes, serão perscrutadas as contas não apenas
dos atuais, mas também dos ex-administradores, todos eles vinculados ao M$T.
De mansinho, sem grande alarido, os porões do M$T vêm sendo
expostos à inclemência do sol desde meados do ano passado. Descobriram-se algumas coisas do
arco-da-velha -da utilização de
títulos podres para encobrir fendas no orçamento de uma cooperativa à extorsão de assentados.
Chamados a dar explicações, os
líderes do movimento ora calam,
ora enriquecem a história da
mais importante organização social do país com um palanfrório
oco. Acham-se vítimas de uma
"orquestração" urdida para enxovalhar-lhes a reputação. A
quem se juntam? A personagens
como Jader Barbalho e Eduardo
Jorge, que costumam esgrimir lorotas semelhantes para explicar o
casulo pegajoso de suspeitas que
orna as suas biografias.
São muitos os méritos do M$T.
Enumerá-los seria cansativo e
desnecessário. Seu histórico justifica à saciedade a tese segundo a
qual, não fosse por sua sacrossanta rebeldia, o problema agrário
brasileiro ainda seria um drama
sem rosto. Mas os emee$$etistas,
tão habituados a cobrar dos outros gestos com transparência de
cristal tcheco, ainda hão de se dar
conta de que a boa causa não oferece salvo-conduto para o erro.
Intrigar para não entregar: ao
dar posse ao novo titular da pasta
da Integração Nacional, FHC disse que a escolha do senador Ramez Tebet (PMDB-MS) foi um
aceno à integração partidária. Integrou-se de novo a fome do
PMDB com a vontade que certos
"empresários" têm de comer incentivos fiscais do Norte e do Nordeste. Integração assim já produziu desvios de cerca de R$ 4 bilhões na $udam e na $udene. Às
vésperas de assumir o novo posto,
Tebet, el integrado, mandou para
o arquivo do Conselho de Ética do
Senado pedido de rastreamento
do cheque que teria remunerado
estripulias de uma época em que,
sob Sarney, Jader Barbalho mandava na reforma agrária. O esforço no sentido de evitar uma crise
entre FHC e o PMDB deveria ser
urgentemente contrabalançado
por uma campanha para intrigar
os dois, afastando-os ainda mais.
Não há de ser difícil. A intriga é,
como se sabe, uma especialidade
de Brasília.
Engavetamento Independência
dependente: sensibilizado com
um abaixo-assinado de 57 senadores, FHC acaba de reconduzir
Geraldo Brindeiro, el engavetador, a um novo mandato de dois
anos no posto de procurador-geral da República. Do cruzamento
da independência do Ministério
Público com a conveniência das
assinaturas que pendem do inusitado documento, nascerão 57 potenciais gavetinhas. Somadas às
gavetonas já marmanjas, comporão uma prole e tanto. É mesmo
dura a rotina de um soberano
obrigado a zelar pela própria biografia ao mesmo tempo em que
luta para conservar no fundo dos
armários de Brasília tantos esqueletos colecionados. Quando a
posteridade puder falar livremente sobre os dias que correm, o veredito há de ser denso e implacável.
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