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SUCESSÃO NO ESCURO
Presidente quer base coesa para evitar investigações e mais desgaste, e adia construção de sucessor
FHC prioriza final tranquilo de mandato
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu que sua
prioridade é acabar bem o mandato, mesmo que tenha de sacrificar a tentativa de eleger o sucessor. A interlocutores, FHC diz que
deve descolar a governabilidade
parlamentar das eleições de 2002,
para não naufragar nas duas.
As disputas regionais entre os
três grandes partidos aliados
-PSDB, PMDB e PFL- pelas
eleições de 2002 só tendem a crescer. Para manter a base, FHC
abortou articulações para tirar o
PMDB do governo e resolveu ser
pragmático com o partido.
Avalia que, sem o PMDB, será
alvo de investigações sobre casos
de corrupção. Isso explodiria o
governo a 18 meses do final. No
Planalto, diz-se que "não dá para
romper com o partido com a CPI
da corrupção na ante-sala". Falta
uma assinatura para abrir a CPI.
Além do escudo anti-investigação, FHC quer do PMDB:
1) Que os governistas da sigla
vençam o governador de Minas,
Itamar Franco, na convenção de 9
de setembro. Pretende repetir o
encontro de 1998, no Itamar foi
impedido de disputar o Planalto.
FHC articulou uma aliança dos
governadores do PMDB com a
cúpula nacional para ganhar a
maioria dos postos de comando
do partido em setembro.
A aproximação foi a saída encontrada para tentar barrar Itamar e impedir a ruptura com o
PMDB caso o presidente do Senado, Jader Barbalho (PA), não resista às acusações de corrupção.
2) Que o PMDB o apóie ao menos até abril de 2002, data-limite
para renúncia de ministros que
queiram disputar as eleições. FHC
avalia que até lá terá superado a
crise energética e a recessão.
Ou seja, num melhor momento,
recuperando popularidade, pode
voltar a sonhar em comandar a
sucessão. Daí ter orientado o ministro José Serra, seu presidenciável favorito, a se mover. Serra almoçou com o presidente do PFL,
Jorge Bornhausen (SC), para tentar diminuir a rejeição do partido.
Há entre os interlocutores de
FHC quem acredite que eleger o
sucessor não significa continuidade administrativa nem manutenção de lealdades. Ele mesmo substituiu Itamar, hoje seu opositor.
A decisão de separar governabilidade e sucessão permite que
FHC tolere críticas do PMDB desde que o partido apóie projetos
como o pacote tributário.
FHC não gosta de comparações
entre seu desgaste político e o que
José Sarney enfrentou em 1989.
"Já acabei com um projeto de
Ulysses e vou acabar com um de
Collor", diz. Acha que ACM tentou repetir Ulysses Guimarães,
deputado do PMDB que tutelou o
governo Sarney após a morte de
Tancredo Neves. FHC se livrou de
ACM antes do fim do mandato.
O "projeto de Collor" seria Itamar. Para FHC, se o governador
conseguir ser candidato ao Planalto com o tempo de TV do
PMDB, vai bombardeá-lo pesadamente na campanha. "O Collor
escorraçou o Sarney, xingando-o
na TV. Não vou deixar isso acontecer comigo", diz a amigos.
Até mesmo deixar Itamar chegar ao segundo turno seria um
atestado do fracasso, crê FHC. Itamar faria o discurso de pai do real
que precisa voltar ao Planalto para consertar os erros do "entreguista" FHC.
(KENNEDY ALENCAR)
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