São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NO ESCURO

Presidente quer base coesa para evitar investigações e mais desgaste, e adia construção de sucessor

FHC prioriza final tranquilo de mandato

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu que sua prioridade é acabar bem o mandato, mesmo que tenha de sacrificar a tentativa de eleger o sucessor. A interlocutores, FHC diz que deve descolar a governabilidade parlamentar das eleições de 2002, para não naufragar nas duas.
As disputas regionais entre os três grandes partidos aliados -PSDB, PMDB e PFL- pelas eleições de 2002 só tendem a crescer. Para manter a base, FHC abortou articulações para tirar o PMDB do governo e resolveu ser pragmático com o partido.
Avalia que, sem o PMDB, será alvo de investigações sobre casos de corrupção. Isso explodiria o governo a 18 meses do final. No Planalto, diz-se que "não dá para romper com o partido com a CPI da corrupção na ante-sala". Falta uma assinatura para abrir a CPI.
Além do escudo anti-investigação, FHC quer do PMDB:
1) Que os governistas da sigla vençam o governador de Minas, Itamar Franco, na convenção de 9 de setembro. Pretende repetir o encontro de 1998, no Itamar foi impedido de disputar o Planalto.
FHC articulou uma aliança dos governadores do PMDB com a cúpula nacional para ganhar a maioria dos postos de comando do partido em setembro.
A aproximação foi a saída encontrada para tentar barrar Itamar e impedir a ruptura com o PMDB caso o presidente do Senado, Jader Barbalho (PA), não resista às acusações de corrupção.
2) Que o PMDB o apóie ao menos até abril de 2002, data-limite para renúncia de ministros que queiram disputar as eleições. FHC avalia que até lá terá superado a crise energética e a recessão.
Ou seja, num melhor momento, recuperando popularidade, pode voltar a sonhar em comandar a sucessão. Daí ter orientado o ministro José Serra, seu presidenciável favorito, a se mover. Serra almoçou com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), para tentar diminuir a rejeição do partido.
Há entre os interlocutores de FHC quem acredite que eleger o sucessor não significa continuidade administrativa nem manutenção de lealdades. Ele mesmo substituiu Itamar, hoje seu opositor.
A decisão de separar governabilidade e sucessão permite que FHC tolere críticas do PMDB desde que o partido apóie projetos como o pacote tributário.
FHC não gosta de comparações entre seu desgaste político e o que José Sarney enfrentou em 1989.
"Já acabei com um projeto de Ulysses e vou acabar com um de Collor", diz. Acha que ACM tentou repetir Ulysses Guimarães, deputado do PMDB que tutelou o governo Sarney após a morte de Tancredo Neves. FHC se livrou de ACM antes do fim do mandato.
O "projeto de Collor" seria Itamar. Para FHC, se o governador conseguir ser candidato ao Planalto com o tempo de TV do PMDB, vai bombardeá-lo pesadamente na campanha. "O Collor escorraçou o Sarney, xingando-o na TV. Não vou deixar isso acontecer comigo", diz a amigos.
Até mesmo deixar Itamar chegar ao segundo turno seria um atestado do fracasso, crê FHC. Itamar faria o discurso de pai do real que precisa voltar ao Planalto para consertar os erros do "entreguista" FHC. (KENNEDY ALENCAR)




Texto Anterior: Tempo na TV atenua a divisão no partido
Próximo Texto: Ciro teme histeria moralista na campanha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.