São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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Governo vence por 272 votos a 172

RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma sessão pontuada por bate-bocas e troca de acusações entre governo e oposição, a Câmara derrubou a proposta de um salário mínimo de R$ 275 aprovada na semana passada pelo Senado e restabeleceu os R$ 260 previstos na medida provisória editada em abril pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O valor de R$ 275 foi derrotado por 272 votos a 172, com quatro abstenções, apesar das previsões de que o governo não conseguiria reunir quórum suficiente devido à comemoração do dia de são João, festejo que tradicionalmente esvazia a Câmara.
A diferença foi de cem votos, folga similar à primeira votação da MP na Câmara, em 2 de junho, quando os R$ 260 passaram por 266 a 167 votos. A MP será promulgada pelo Congresso.
A oposição gastou toda a sessão acusando o governo de abandonar o compromisso histórico com os trabalhadores e usar a máquina pública para se recuperar da derrota sofrida no Senado, quando os R$ 275 foram aprovados por 44 votos a 31. O governo nega que esteja obtendo apoio em troca de favores aos aliados.
"Foi uma vitória eleitoral e uma derrota política. O governo tem uma base forte na Câmara mantida a um custo elevado. Há um fisiologismo muito pesado", disse o deputado Alberto Goldman (SP), vice-líder do PSDB.
A execução orçamentária até o momento tem privilegiado os governistas nas liberações de verbas para emendas parlamentares.
"Isso é discurso de derrotado. O que venceu hoje foi a responsabilidade. Temos que criar confiança para que continuem os investimentos no país. Não podemos gerar suspeitas sobre as contas públicas", afirmou o deputado Professor Luizinho (PT-SP), líder do governo na Casa.
O presidente Lula, que foi avisado do resultado por um telefonema do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), estava em um seminário em Nova York, promovido pelo governo, para atrair investimentos ao país.
O resultado de ontem -que revela uma base governista mais sólida na Câmara do que no Senado- foi fruto de um esforço que envolveu o primeiro escalão do governo e líderes das bancadas aliadas na tentativa de assegurar os votos necessários à aprovação. Lula, ministros e o vice-presidente José Alencar entraram diretamente na articulação.
A estratégia foi tentar virar votos, assegurar um quórum razoável de aliados e trabalhar para que alguns dos contrários aos R$ 260 não aparecessem no plenário. O PMDB e o PL, por influência de Eunício Oliveira (Comunicações) e Alencar, diminuíram o percentual de suas dissidências.
No final das contas, o que equilibrou a rebelião verificada em alguns dos partidos governistas, como PP e PPS, foi a ausência de oposicionistas. Os R$ 260 representam um aumento real -descontada a inflação- de 1,2%.


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