São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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SALÁRIO PETISTA

Oposição faz protestos e ironiza o novo mínimo

Alan Marques/Folha Imagem
Wladimir Costa (PMDB) mostra pacote com R$ 13 mil em dinheiro


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A sessão de ontem na Câmara para a definição do salário mínimo foi palco de protestos e encenações e terminou em correria.
Um deputado manuseou quase R$ 13 mil em dinheiro. Outros ergueram cartazes contra e a favor do valor do mínimo e cantaram samba. Um minicaixão branco foi levado como crítica aos partidos governistas. Pauderney Avelino (PFL-AM) comprou alimentos por R$ 15 para simbolizar a diferença entre os valores de R$ 260 e R$ 275. Ao final, deputados nordestinos saíram correndo do plenário para conseguir embarcar e participar das festas de são João.
Logo depois do início da sessão, por volta das 8h30, Cláudio Cajado (PFL-BA) deu o recado na tribuna: "Espero ainda hoje [ontem] à noite estar na Bahia para a festa de são João". A sessão abriu às 8h, justamente para que os congressistas pudessem votar e viajar.
Quando o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), autorizou a votação, por volta das 12h40, a correria foi grande, sobretudo entre os baianos, com vôo marcado para Salvador às 13h40. Votaram rapidamente e saíram em disparada pela Casa.
"Vou para a festa de são João no interior do Estado", disse, no corredor que liga o plenário aos gabinetes, o ofegante e apressado Nelson Pellegrino (PT-BA), pré-candidato à Prefeitura de Salvador.
Já o vice-presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), teve de se contentar com a festa junina do senador José Jorge (PFL-PE), em Brasília. "Não foi possível [vôos extras]", disse. A presidência da Casa chegou a sondar as companhias aéreas sobre decolagens extras para o Nordeste.
Wladimir Costa (PMDB-PA) foi o protagonista de um bate-boca com João Paulo. Primeiro, com um adesivo de R$ 275 colado na testa, desfilou pelo plenário. Depois, sacou do bolso quase R$ 13 mil. "Vejam a diferença, o salário do deputado depositado hoje na conta ao lado do salário mínimo." O presidente da Câmara se irritou: "Não vamos permitir atos ofensivos". Costa retrucou: "Não estou ofendendo ninguém. O desrespeito é o valor do mínimo."
Na votação, a oposição cantou o samba "Vou Festejar", chamando os governistas de traidores. Entoavam os dois últimos versos: "Você pagou com traição/A quem sempre lhe deu a mão". O mesmo refrão havia sido cantado na véspera por brizolistas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no velório de Leonel Brizola.
Ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicentinho (PT-SP) disse que foi duro votar contra o mínimo de R$ 275. Afirmou que ficará satisfeito se, em até dez anos, o valor de compra do mínimo for recomposto.
Vicentinho disse que esperava mais de um governo do PT, mas que é fiel a Lula. Ele não compareceu à primeira votação por estar em missão oficial na Alemanha. "Sou leal ao presidente Lula. A situação é difícil, mas confio que vamos ter momentos melhores."

Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília

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