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Palocci reforça ortodoxia e rejeita politização do debate econômico
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) descartou ontem a
possibilidade de alterar a condução da economia em razão da crise política e adotou um discurso
para afastar sua pasta, a única fortalecida pelo momento atual, do
acirramento da disputa entre governo e oposição.
"Problemas no campo político
se resolvem no campo político.
Problemas no campo econômico
se resolvem no campo econômico", disse, em formulação que é
menos óbvia do que parece.
Chamadas a defender o governo petista das denúncias de corrupção, entidades como a CUT
(Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a
UNE (União Nacional dos Estudantes) cobraram anteontem do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva a alteração do modelo econômico de "corte neoliberal".
Uma das preocupações de Palocci é justamente evitar que uma
radicalização do PT e seus aliados
tradicionais da esquerda se traduza em ataques à sua política ortodoxa de aperto fiscal e monetário.
Na entrevista coletiva concedida ontem para anunciar a meta de
4,5% para a inflação de 2007, o
ministro tratou de despolitizar o
debate econômico e de evitar o
tom agressivo adotado pelo governo e seus aliados, que vêem
"golpismo" nas pressões por mais
investigações sobre corrupção.
"Se temos hoje uma questão colocada no campo ético, temos que
enfrentá-la no campo dos instrumentos que as instituições brasileiras têm", disse Palocci.
Sem o tom exaltado de governistas contra o que chamam de
"denuncismo" e campanha anti-PT, o ministro pregou que se deve
privilegiar "a boa investigação, a
boa informação, a boa apuração e
a boa conclusão dos fatos", com o
cuidado de não "violar biografias
de forma precipitada".
A outra preocupação de Palocci
é afirmar, como é obrigatório, que
a economia não corre riscos com
a crise política, mas sem dar a entender que não tem noção do perigo potencial que as atuais incertezas representam.
O ministro recorreu a eufemismos: "É evidente que temos preocupação com questões que foram
colocadas no cenário recente no
campo político". Formado em
medicina, usou uma analogia para afirmar que seu trabalho na Fazenda será preventivo. "Essa é minha especialidade. Eu me formei
em prevenção, não em cirurgia."
Disse que seu trabalho é manter
a economia na condição de um
organismo saudável, capaz de
"atravessar um período de chuvas
fortes, ventos uivantes e tormentas que sempre acontecem na vida
de todas as pessoas e de todas as
sociedades". Negou, porém, que a
descrição climática retratasse o
presente momento.
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