São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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Palocci reforça ortodoxia e rejeita politização do debate econômico

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) descartou ontem a possibilidade de alterar a condução da economia em razão da crise política e adotou um discurso para afastar sua pasta, a única fortalecida pelo momento atual, do acirramento da disputa entre governo e oposição.
"Problemas no campo político se resolvem no campo político. Problemas no campo econômico se resolvem no campo econômico", disse, em formulação que é menos óbvia do que parece.
Chamadas a defender o governo petista das denúncias de corrupção, entidades como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a UNE (União Nacional dos Estudantes) cobraram anteontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a alteração do modelo econômico de "corte neoliberal".
Uma das preocupações de Palocci é justamente evitar que uma radicalização do PT e seus aliados tradicionais da esquerda se traduza em ataques à sua política ortodoxa de aperto fiscal e monetário.
Na entrevista coletiva concedida ontem para anunciar a meta de 4,5% para a inflação de 2007, o ministro tratou de despolitizar o debate econômico e de evitar o tom agressivo adotado pelo governo e seus aliados, que vêem "golpismo" nas pressões por mais investigações sobre corrupção.
"Se temos hoje uma questão colocada no campo ético, temos que enfrentá-la no campo dos instrumentos que as instituições brasileiras têm", disse Palocci.
Sem o tom exaltado de governistas contra o que chamam de "denuncismo" e campanha anti-PT, o ministro pregou que se deve privilegiar "a boa investigação, a boa informação, a boa apuração e a boa conclusão dos fatos", com o cuidado de não "violar biografias de forma precipitada".
A outra preocupação de Palocci é afirmar, como é obrigatório, que a economia não corre riscos com a crise política, mas sem dar a entender que não tem noção do perigo potencial que as atuais incertezas representam.
O ministro recorreu a eufemismos: "É evidente que temos preocupação com questões que foram colocadas no cenário recente no campo político". Formado em medicina, usou uma analogia para afirmar que seu trabalho na Fazenda será preventivo. "Essa é minha especialidade. Eu me formei em prevenção, não em cirurgia."
Disse que seu trabalho é manter a economia na condição de um organismo saudável, capaz de "atravessar um período de chuvas fortes, ventos uivantes e tormentas que sempre acontecem na vida de todas as pessoas e de todas as sociedades". Negou, porém, que a descrição climática retratasse o presente momento.


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