|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CPI restringe investigação do "mensalão"
RUBENS VALENTE
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O comando da CPI dos Correios
suspendeu a análise de 81 requerimentos, de um total de 206, apresentados por parlamentares da
oposição. Se aprovados, os pedidos colocariam na berlinda autoridades do governo federal e empresas de publicidade denunciados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por suposto envolvimento no pagamento de "mensalão" a aliados no Congresso.
O presidente da comissão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS),
e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), optaram, até
ontem, por não levar determinados requerimentos à votação no
plenário da comissão. Com isso,
os pedidos não são aprovados
nem desaprovados. Entre os requerimentos sustados, estão os
que pedem os depoimentos do
ex-ministro José Dirceu, do presidente do PT, José Genoino, do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro
Marcelo de Lima e Silva, e do ministro Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional).
Também ainda não aprovadas,
quebras de sigilo bancário, telefônico e fiscal do empresário de publicidade mineiro Marcos Valério
Fernandes de Souza e do tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, poderiam mostrar ou descartar eventuais conexões entre os
diversos personagens do escândalo. Delúbio e Valério são apontados como coordenadores financeiros do esquema, segundo Jefferson. Eles negam.
A oposição também pretende
ouvir, até agora sem sucesso, do
ministro da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz
Gushiken, citado em depoimento
do ex-chefe do departamento dos
Correios, Maurício Marinho, como responsável, junto com a presidência da empresa, pelo contrato de publicidade dos Correios.
"Sobrestar requerimentos é um
expediente conhecido para obstruir os trabalhos e está sendo
usado pela CPI chapa-branca.
Realmente há interesse em blindar alguns setores do governo,
coadjuvantes históricos ou de governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Os requerimentos indicam uma
espécie de "agenda da oposição".
Mostram que os parlamentares
do bloco (12, de um total de 32)
pretendem transformar a CPI dos
Correios, na prática, numa "CPI
do mensalão".
Há requerimentos que apontam
para uma investigação mais profunda sobre o suposto esquema
de propina no Congresso e esquema de caixa dois de apoio financeiro do PT para o PTB.
O senador César Borges (PFL-BA) pediu, até ontem sem sucesso, que o Banco Rural identifique
"todos os saques realizados em
dinheiro nas agências de Belo Horizonte (MG), desde janeiro de
2003, superiores a R$ 100 mil, a
partir das contas da [empresa de
publicidade] SMPB Comunicação, suas coligadas e sócios".
Segundo as denúncias de Jefferson, em 2004 o PT entregou R$ 4
milhões ao PTB em espécie. Ele
sugeriu que o dinheiro veio do
Banco Rural, de contas do publicitário Marcos Valério.
Andamento
O comando da CPI negou que
os requerimentos interrompidos
se traduzem em uma procrastinação. "Estamos seguindo uma ordem lógica, alguns requerimentos
estão sobrestados com o intuito
de esperar o andamento das investigações", disse Delcídio.
O deputado federal Onyx Lorenzoni (PFL-RS) disse que o bloco de oposição recebeu uma promessa da cúpula da CPI, na última terça-feira, de que não haverá
sobrestamentos. "O presidente da
CPI prometeu que na semana que
vem haverá uma nova sessão para
deliberação dos requerimentos
que estão parados", disse.
A assessoria da CPI informou
ontem que os requerimentos não
estão sobrestados, apenas "aguardam uma deliberação" do comando da CPI, o que deveria
ocorrer "em sessões administrativas", cujas datas serão definidas
pelo presidente da comissão.
A CPI do Banestado, iniciada
em 2003 e encerrada em 2005,
também foi marcada por denúncias da oposição ao governo. O
PSDB afirmava que o então relator, deputado José Mentor (PT-SP), indicado para a função pelo
Planalto, estava seguidamente sobrestando requerimentos que tinham alta dose de incômodo para
o governo. O deputado dizia, à
época, que as quebras de sigilo deveriam ocorrer de acordo com o
andamento das apurações.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Escândalo do "mensalão/O publicitário: Valério rompe silêncio e nega acusações Índice
|