São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2005

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CPI restringe investigação do "mensalão"

RUBENS VALENTE
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O comando da CPI dos Correios suspendeu a análise de 81 requerimentos, de um total de 206, apresentados por parlamentares da oposição. Se aprovados, os pedidos colocariam na berlinda autoridades do governo federal e empresas de publicidade denunciados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por suposto envolvimento no pagamento de "mensalão" a aliados no Congresso.
O presidente da comissão, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), e o relator, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), optaram, até ontem, por não levar determinados requerimentos à votação no plenário da comissão. Com isso, os pedidos não são aprovados nem desaprovados. Entre os requerimentos sustados, estão os que pedem os depoimentos do ex-ministro José Dirceu, do presidente do PT, José Genoino, do diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Mauro Marcelo de Lima e Silva, e do ministro Jorge Félix (Gabinete de Segurança Institucional).
Também ainda não aprovadas, quebras de sigilo bancário, telefônico e fiscal do empresário de publicidade mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza e do tesoureiro nacional do PT, Delúbio Soares, poderiam mostrar ou descartar eventuais conexões entre os diversos personagens do escândalo. Delúbio e Valério são apontados como coordenadores financeiros do esquema, segundo Jefferson. Eles negam.
A oposição também pretende ouvir, até agora sem sucesso, do ministro da Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, citado em depoimento do ex-chefe do departamento dos Correios, Maurício Marinho, como responsável, junto com a presidência da empresa, pelo contrato de publicidade dos Correios.
"Sobrestar requerimentos é um expediente conhecido para obstruir os trabalhos e está sendo usado pela CPI chapa-branca. Realmente há interesse em blindar alguns setores do governo, coadjuvantes históricos ou de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Os requerimentos indicam uma espécie de "agenda da oposição". Mostram que os parlamentares do bloco (12, de um total de 32) pretendem transformar a CPI dos Correios, na prática, numa "CPI do mensalão".
Há requerimentos que apontam para uma investigação mais profunda sobre o suposto esquema de propina no Congresso e esquema de caixa dois de apoio financeiro do PT para o PTB.
O senador César Borges (PFL-BA) pediu, até ontem sem sucesso, que o Banco Rural identifique "todos os saques realizados em dinheiro nas agências de Belo Horizonte (MG), desde janeiro de 2003, superiores a R$ 100 mil, a partir das contas da [empresa de publicidade] SMPB Comunicação, suas coligadas e sócios".
Segundo as denúncias de Jefferson, em 2004 o PT entregou R$ 4 milhões ao PTB em espécie. Ele sugeriu que o dinheiro veio do Banco Rural, de contas do publicitário Marcos Valério.

Andamento
O comando da CPI negou que os requerimentos interrompidos se traduzem em uma procrastinação. "Estamos seguindo uma ordem lógica, alguns requerimentos estão sobrestados com o intuito de esperar o andamento das investigações", disse Delcídio.
O deputado federal Onyx Lorenzoni (PFL-RS) disse que o bloco de oposição recebeu uma promessa da cúpula da CPI, na última terça-feira, de que não haverá sobrestamentos. "O presidente da CPI prometeu que na semana que vem haverá uma nova sessão para deliberação dos requerimentos que estão parados", disse.
A assessoria da CPI informou ontem que os requerimentos não estão sobrestados, apenas "aguardam uma deliberação" do comando da CPI, o que deveria ocorrer "em sessões administrativas", cujas datas serão definidas pelo presidente da comissão.
A CPI do Banestado, iniciada em 2003 e encerrada em 2005, também foi marcada por denúncias da oposição ao governo. O PSDB afirmava que o então relator, deputado José Mentor (PT-SP), indicado para a função pelo Planalto, estava seguidamente sobrestando requerimentos que tinham alta dose de incômodo para o governo. O deputado dizia, à época, que as quebras de sigilo deveriam ocorrer de acordo com o andamento das apurações.


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