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Gravações colocam Roriz sob suspeita
Diálogo entre o senador do PMDB e o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) insinua negociação para partilha de R$ 2,2 mi
Abertura de inquérito contra o ex-governador do DF deve ser decidida pelo procurador-geral da República nos próximos dias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Conversas gravadas em 13 de
março último, com autorização
judicial, registraram o senador
e ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB)
supostamente combinando a
partilha de dinheiro. O caso
chegou ao procurador-geral da
República, Antonio Fernando
de Souza, que irá decidir se requisita ao Supremo Tribunal
Federal a abertura de inquérito
criminal contra Roriz.
São dois diálogos entre o ex-governador (1998-2006) e o ex-presidente do BRB (Banco de
Brasília) Tarcísio Franklin de
Moura, gravados pela Polícia
Civil do DF na Operação Aquarela. A operação resultou na
prisão de 19 pessoas em Brasília
e em São Paulo, inclusive Moura, por suspeita de desvio de
R$ 50 milhões do BRB.
Em uma das conversas, Moura avisa a Roriz que já está com
o dinheiro, pergunta para onde
levar o montante e sugere entregar o dinheiro na casa de Roriz. O senador diz: "O dinheiro é
de muita gente". Moura afirma:
"Ahã. Pois é. O problema é que
tinha de centralizar em um lugar e fazer [supostamente a
partilha]. Porque depósito
mesmo é só um, de 200 e poucos mil. E como é que entrega
os outros? Não tem jeito. Tinha
que entregar num lugar, pra naquele lugar dividir. Eu imaginei
que podia levar para lá [casa de
Roriz]." O senador rejeita a sugestão: "Não convém, não."
Em outro diálogo, eles aparentemente acertam fazer a
partilha no escritório do empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê,
presidente do conselho de administração da companhia aérea Gol. Moura indaga: "Por
que a gente não leva lá para o
escritório do Nenê?" Roriz responde: "É pra isso mesmo".
Moura prossegue: "E, de lá, sai
cada um com o seu". Roriz afirma: "An, então "tá" ótimo. Nós
pensamos a mesma coisa".
No mesmo dia, segundo relatório do Conselho de Controle
de Atividades Financeiras,
houve um saque de R$ 2,231
milhões em uma agência do
BRB em nome de Constantino,
que afirma não possuir conta
nesse banco. Contrariando
normas bancárias, segundo a
apuração, Moura teria autorizado a compensação do cheque, de uma agência do Banco
do Brasil em Taguatinga (DF),
emitido pela Agrícola Xingu.
Roriz tem dito a interlocutores estar disposto a prestar esclarecimentos, mas que aguardará a eventual abertura do inquérito. Por meio de assessores, confirmou ter recebido R$
300 mil do empresário, como
empréstimo pessoal para pagar
uma compra de gado nelore
que havia negociado com a Universidade de Marília (SP).
No final da tarde do ontem, a
Gol divulgou nota em que confirma a entrega do cheque de
Constantino para Roriz. O texto explica que os R$ 2,2 milhões
se referiam à venda de uma fazenda do empresário e, feita a
compensação do cheque, Roriz
devolveu R$ 1,9 milhão. A diferença de R$ 300 mil seria o empréstimo ao senador.
Procurado pela Folha, por
meio de sua assessoria de imprensa, o procurador-geral Antonio Fernando de Souza disse
que não se manifestaria porque
a apuração está sob sigilo.
(RENATA GIRALDI E SILVANA DE FREITAS)
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