São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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PT "limpou" programa de ideologia, diz estudo

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O quarto programa de governo do PT para a Presidência, desde a estréia de Luiz Inácio Lula da Silva em 1989, chegou ao ápice da desideologização do discurso do partido. Não cita nem sequer uma vez a palavra socialismo, palavra de ordem no primeiro programa, de 1989, e citada já poucas vezes no de 1994 e 1998.
"O programa de 2002 é claramente da defesa de um capitalismo humanizado", afirmou o sociólogo Oswaldo Amaral, que defenderá na PUC-SP, no final de agosto, a monografia de mestrado "As Mudanças no PT: Um Estudo dos Programas de Governo de 1989 e 1998".
Um trecho curioso encontrado no programa de 1989 certamente daria mais calafrios no mercado do que a frase "ruptura do atual modelo econômico" das diretrizes de 2002, que foi banida do programa lançado ontem.
O trecho: "Não se salva uma árvore cortando os frutos amargos. É preciso vir às causas, à raiz da árvore. Dentro do sistema capitalista, estamos condenados a ser uma nação periférica e marginal, fornecedora de mão-de-obra barata (...) de juros aos banqueiros internacionais (...). Só através do socialismo haverá condições de deter a sangria dos recursos impostos ao Brasil pelos países ricos."
Em entrevista ao sociólogo, o diretor do Instituto de Cidadania (responsável pelo programa atual), Paulo Vannuchi, justificou a fuga das "ideologias de berço" do PT dizendo: "Na hora em que você vai falar para milhões de brasileiros, você não pode ficar discutindo se vai ser capitalismo ou socialismo. Você tem de dizer é que vai ter escola, sapato etc."
Para Amaral, essa "flexibilização ideológica" conquistada pelo PT ao longo dos últimos 22 anos de existência- traduzida nos programas- é baseada em uma ampliação da base eleitoral e das experiências administrativas do partido
A monografia tem 130 páginas e faz ainda paralelo do programa de governo do PT em 1998 com o programa tucano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso.


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