|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONFLITO AGRÁRIO
Segundo relatos, presidente afirmou que assentamentos serão feitos da forma possível, não como os sem-terra querem
Lula diz a ruralistas que não permitirá ilegalidades
LEILA SUWWAN
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três semanas depois de receber
o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e causar polêmica ao colocar o boné da
entidade, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva recebeu ontem representantes de 17 entidades ruralistas, aos quais disse, segundo
relatos, que não permitirá ilegalidades e que os assentamentos serão feitos da forma possível, não
como os sem-terra querem.
Além disso, Lula teria dito que a
tensão no campo é fruto de uma
"semente plantada" há algum
tempo e que hoje "os assentamentos estão mais para Canudos
que para Cocamar [cooperativa
considerada padrão no Paraná]".
A falta de infra-estrutura e viabilidade econômica atingiria 70%
dos assentamentos.
"Os assentamentos serão feitos
onde podem ser feitos, não onde
eles [os sem-terra] querem que
sejam feitos", disse Lula, de acordo com Carlos Sperotto, presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul e vice-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil).
A reunião durou duas horas e
foi pautada pela formalidade
-com o MST, a audiência tinha
sido descontraída. No início do
encontro, Lula chegou a recomendar: "Se vocês não sorrirem
[para as fotos], vai parecer que o
clima está muito pesado".
Os participantes disseram que o
assunto do boné do MST não foi
abordado e que não trouxeram
bonés de presente porque respeitam a liturgia do cargo.
Além das entidades -que representam 90% do PIB agropecuário brasileiro, segundo a
CNA-, participaram os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura), José Dirceu (Casa Civil) e
Luiz Dulci (Secretaria Geral).
A UDR (União Democrática
Ruralista) não compareceu e pediu uma audiência exclusiva.
Ainda segundo os relatos, Lula
disse que o governo fará com que
lei seja cumprida pelos dois lados.
Questionada sobre o teor das frases, a assessoria do Planalto não
confirmou nem desmentiu as declarações do presidente relatadas.
"O governo não fará nada fora
da legalidade e não permitirá ilegalidade nem de um lado nem do
outro porque o governo tem que
exigir um processo de legalidade e
de ordem jurídica", disse Lula, segundo Márcio Lopes de Freitas,
presidente da Organização das
Cooperativas Brasileiras.
Os ruralistas, por sua vez, pediram que o governo se esforce
mais para que a lei que exclui da
reforma agrária os invasores de
terra seja mais bem executada.
Para eles, é necessário que as
marchas e as invasões programadas dos sem-terra sejam acompanhadas e os militantes, identificados. Em entrevista no Planalto, o
presidente da CNA, Antonio Ernesto de Salvo, aproveitou para
criticar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto,
que não participou da reunião.
"Se eu fosse presidente, ele não
seria meu ministro. Ele vem de
uma linha filosófica que não quer
a propriedade de maior porte,
voltada para o agronegócio, e sim
a familiar, que abastece a economia interna", disse Salvo, que diz
criticar apenas "uma ou outra declaração infeliz" do ministro.
Quanto à atuação do governo,
disse: "Não acho que o governo
tenha tido ações fortes no campo,
a não ser essas retóricas, simbólicas, um boné aqui e outro acolá".
Salvo afirmou, em tom de brincadeira, que Lula é um produtor rural, pois é um "emérito administrador de pepinos e abacaxis".
Texto Anterior: Publicidade oficial: Agência de Duda sai na frente em licitação Próximo Texto: Sem-terra invadem Conab e engenhos em Pernambuco Índice
|