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"Quero dar uma sepultura digna para eles", diz mãe de desaparecidos
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Mãe de três guerrilheiros mortos no Araguaia, Julieta Petit da
Silva, 83, disse que comprou, em
meados dos anos 90, o jazigo da
família onde espera sepultá-los.
Quase 30 anos após o final da
guerrilha, apenas os restos mortais da professora Maria Lúcia Petit da Silva, que havia desaparecido em 1972, aos 22 anos, estão sepultados no local, após terem sido
reconhecidos pela Unicamp.
Faltam ainda Jaime, desaparecido aos 29 anos, e Lúcio Petit da
Silva, desaparecido aos 31 anos.
"Já tenho a Maria Lúcia, mas
ainda faltam o Lúcio e o Jaime. Só
quero dar uma sepultura digna
para eles. É o mínimo que posso
fazer. Eu já comprei o jazigo dos
dois no cemitério, em Bauru, junto da Maria Lúcia", disse.
Segundo ela, à dor da perda dos
três filhos se soma a angústia pela
falta de informações sobre as circunstâncias, datas e locais em que
as mortes ocorreram, especialmente no caso de Lúcio.
"Agora, finalmente, eles vão nos
informar onde estão meus filhos?
Que bom que seria. Eles têm que
explicar como foi que eles morreram, onde, quando, qual o motivo. Essas dúvidas não me saem da
cabeça."
A mãe dos irmãos Petit é uma
das autoras da ação que motivou
a quebra do sigilo das informações militares e que pode obrigar
a União localizar os restos mortais
dos desaparecidos.
Informada da decisão da Justiça
pela Folha, Julieta Petit da Silva ficou emocionada. A entrevista teve que ser interrompida porque
ela chorou ao falar dos filhos mortos e da possibilidade de sepultá-los.
Ela falou à Folha ontem, por telefone, de sua casa, em Presidente
Prudente (SP).
Folha - A decisão da Justiça Federal quebra o sigilo militar sobre as
operações do Exército...
Petit da Silva -Agora, finalmente, eles vão nos informar onde estão meus filhos? Que bom que seria. Eles têm que explicar como foi
que eles morreram, onde, quando, qual o motivo. Essas dúvidas
não me saem da cabeça.
Folha - Há quantos anos a senhora aguarda?
Petit da Silva - Até 1975 eu mantive as esperanças de encontrar
meus filhos vivos. Depois, me disseram que não adiantava mais,
que eles estavam mortos.
Folha - E luta pelos corpos...
Petit da Silva - Já tenho a Maria
Lúcia, mas ainda faltam o Lúcio e
o Jaime. Só quero dar uma sepultura digna para eles. É o mínimo
que posso fazer. Eu já comprei o
jazigo dos dois no cemitério, em
Bauru, junto da Maria Lúcia. Minha filha Laura tem ido para o
Araguaia em busca de informações, mas eu não estou muito satisfeita de ela ficar indo para lá.
Quem sabe isso acabe agora.
Folha - A senhora se lembra de
quando a luta começou?
Petit da Silva -Acho que já faz
muito tempo. O Genoino [José
Genoino, presidente nacional do
PT e ex-guerrilheiro do Araguaia]
ainda era moço.
Folha - Como foi a emoção quando a sra. pôde sepultar sua filha
Maria Lúcia?
Petit da Silva - Foi uma alegria
muito grande. Reconforta a gente.
Mas o que aconteceu é muito triste. Nunca mais terei eles comigo
de novo. Ontem [anteontem] foi
meu aniversário de 83 anos...
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