São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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Senador do PT leva assessor de acusada a depoimento

Sibá Machado permitiu acesso a reunião da CPI com empresário Darci Vedoin

Serys Slhessarenko (PT), envolvida no escândalo dos sanguessugas, pode ter tido acesso a conversa sigilosa; ela nega interesse no caso

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Sibá Machado (PT-AC), integrante da CPI dos Sanguessugas, levou um assessor da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) para assistir a um depoimento reservado feito aos membros da comissão, em Cuiabá (MT). A senadora é uma das parlamentares apontadas pela família Vedoin como tendo envolvimento no esquema de vendas superfaturadas de ambulâncias a prefeituras.
No dia 11 de julho, membros da CPI estavam em Cuiabá para uma audiência sigilosa com Darci Vedoin, proprietário da Planam, principal empresa da quadrilha dos sanguessugas. Darci e outros integrantes da família Vedoin têm revelado detalhes de como funcionava o esquema de pagamento de propina a parlamentares.
Na audiência, os integrantes da CPI descobriram a presença do assessor de Serys com o senador Sibá Machado. A cena causou constrangimento entre os demais membros da CPI, incluindo o também petista deputado Antonio Carlos Biscaia (RJ), que preside a comissão.
Num primeiro momento, segundo a Folha apurou, Sibá tentou mantê-lo na audiência, dizendo tratar-se de um assessor seu. Após a insistência de Biscaia sobre a impossibilidade de pessoas de fora da CPI assistirem ao depoimento, Sibá admitiu que era um funcionário de Serys. Biscaia, então, exigiu que o assessor deixasse a sala.
Os membros da CPI desconfiaram que poderia ser alguém ligado à senadora porque ela telefonara várias vezes para Sibá ao longo da audiência. E, enquanto esteve em Cuiabá, Sibá circulou em carro da senadora.
Serys confirmou à Folha que cedeu um assessor seu para acompanhar o colega, mas para servi-lo como motorista.
Disse também que telefonou, sim, para Sibá, mas só duas vezes, pois a primeira ligação teria caído. Negou, no entanto, que tenha pedido a Sibá que levasse o assessor à audiência. Ela disse que a pergunta deveria ser feita ao senador.
"Tenho certeza de que a meu pedido não foi [que seu assessor assistiu ao depoimento]. Não tenho o menor interesse no assunto, porque não tenho nada a ver com essa história." Serys acrescentou que não poderia ter interesse no caso se até então -na data do depoimento de Darci à CPI- nenhuma acusação contra ela ou seu genro havia sido divulgada.

Cronologia
Antes de Darci falar à CPI, seu filho, Luiz Antonio Vedoin, apontado pela PF como chefe da quadrilha, já havia feito uma série de denúncias envolvendo uma centena de congressistas, incluindo a senadora Serys.
Se ela ainda não sabia do teor do depoimento de Luiz Antonio quando Darci foi ouvido pela CPI, Sibá Machado já tinha conhecimento das acusações.
O depoimento de Luiz Antonio começou no dia 3 deste mês e se estendeu até o dia 12. Os integrantes da CPI, incluindo Sibá, chegaram a Cuiabá no dia 10, quando tiveram uma conversa com o juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal, responsável pelo depoimento de Luiz Antonio. Naquele mesmo dia, souberam das denúncias envolvendo três senadores, entre os quais, Serys.
Ou seja, um dia antes do depoimento de Darci (dia 11), Sibá já sabia da acusação que atingia a colega. Os outros membros da CPI deixaram Cuiabá na quarta-feira. Sibá ficou para tentar pegar uma cópia da transcrição do depoimento de Darci. Por ordem de Biscaia, porém, ele foi impedido de levar o papel. Um funcionário da CPI foi encarregado de levar o documento. Luiz Antonio não afirmou que pagou propina à senadora.
Ele disse que depositou R$ 35 mil a um genro da parlamentar identificado como Paulo Roberto. Seria uma "comissão" por conta de uma emenda que a senadora teria apresentado, no valor de R$ 700 mil, para compra de ambulâncias que teria beneficiado a quadrilha.
Segundo Luiz Antonio, Paulo Roberto pedira a ele, em 2003, que o ajudasse a saldar "dívidas de campanha" da senadora. Pelo suposto acerto, a parlamentar apresentaria a emenda e, em troca, a Planam pagaria a ele uma propina de 10%.


Colaborou HUDSON CÔRREA , da Agência Folha, em Cuiabá


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