São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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RENÚNCIA FISCAL
Presidente da montadora diz que empresa continuará fabricando automóveis em São Paulo
Greve na Ford prossegue com protesto

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Metalúrgicos da Ford Ipiranga durante assembléia que decidiu dar continuidade a greve ontem


LÉO GERCHMANN
em São Paulo

DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local

Os metalúrgicos da Ford no bairro paulistano do Ipiranga decidiram ontem permanecer em greve até pelo menos a próxima segunda-feira e estabelecer um cronograma de protestos contra a possível desativação da fábrica, o que significa uma intensificação do movimento.
Os protestos serão realizados em conjunto com os metalúrgicos de São Bernardo, no ABC, e Taubaté, cidades paulistas onde a Ford também tem montadoras.
O sindicato dos metalúrgicos de São Paulo é filiado à Força Sindical e os de São Bernardo e Taubaté são filiados à CUT. A idéia da união das duas centrais, historicamente rivais, é garantir que não haja demissões e que isso seja incluído no contrato do BNDES para financiar a Ford na Bahia.
Os trabalhadores do ABC e Taubaté farão assembléias na terça-feira, mas, mesmo sem entrar em greve, decidiram apoiar os paulistanos. Às 16h de terça, haverá audiência com o governador Mário Covas (PSDB-SP). Um documento conjunto pede uma legislação contra a "guerra fiscal".
A greve foi desencadeada porque a Ford ameaça fechar a fábrica de caminhões no Ipiranga (com 1.450 operários).
A notícia sobre o fechamento da unidade veio a público após a montadora ter conseguido incentivos fiscais de R$ 180 milhões ao ano para instalar uma nova unidade na Bahia.
Ontem, em entrevista à Folha, o presidente da Ford, Antonio Maciel Neto, disse que há um ano a montadora estuda a transferência da unidade do Ipiranga, que fabrica caminhões e picapes, para a região do ABC paulista.
Segundo Maciel, não procedem as especulações de que a Ford teria planos de deixar de produzir automóveis em São Paulo, transferindo toda a operação com carros de passeio para a Bahia.
Segundo Maciel, a Ford investiu US$ 2,5 bilhões em São Paulo entre 1995 e 99 e não pretende ""jogar dinheiro fora" com uma eventual transferência dessas operações.
Mas entre os trabalhadores, a expectativa até ontem era de que a Ford venha efetivamente a deixar de fabricar automóveis no Estado.
"É claro que isso vai acabar ocorrendo. Ficou claro que a Ford não fica aqui. A questão já é de política federal", disse o presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, Carlos Ortiz, que, durante, os discursos na assembléia dos grevistas, exortou os metalúrgicos do ABC a também entrarem em greve. "Está na hora de os companheiros de São Bernardo fazerem a mesma coisa."
A greve na Ford Ipiranga começou na quinta-feira pela manhã. Na tarde de anteontem, a diretoria da empresa tentou acabar com a paralisação assumindo o compromisso de não demitir funcionários até dezembro.
A proposta não foi aceita em assembléia dos funcionários da Ford, que acreditam que a empresa poderá realizar demissões em massa a partir de janeiro do próximo ano.


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