|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GOIÁS
Papéis revelam que Balestra gastou R$ 3,63 mi, mas só informou R$ 597,37 mil
Deputado do PP usou caixa 2 em 2002
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Planilhas obtidas pela Folha indicam que o deputado federal Roberto Balestra (PP-GO) pode ter
gasto pelo menos seis vezes mais
do que informou à Justiça Eleitoral na campanha de 2002.
As planilhas revelam, em detalhes, despesas que somam R$ 3,63
milhões. No TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Goiás, Balestra registrou gastos de R$ 597,37
mil. O conflito dos valores indica
a existência de um caixa dois.
A contabilidade paralela é assinada por uma das filhas do deputado. Garcita Jacomo Balestra organiza em planilhas a origem e o
destino do dinheiro. Ela é mulher
de Rogério Simão de Lima, tesoureiro da campanha de Balestra.
Segundo a contabilidade de
Garcita, o dinheiro para pagar os
produtos e serviços comprados
têm duas fontes: a empresa Rio
Negro S/A (R$ 1.620.033,56) e "recursos próprios" do candidato
(R$ 2.014.183,97). O pacote de "recursos próprios" inclui "doações
diversas" (R$ 50,5 mil) e um empréstimo de R$ 1,580 milhão bancado pelos cofres da Rio Negro.
Balestra e a Rio Negro, do advogado Neílton Cruvinel Filho, travam
uma disputa judicial pelo comando da destilaria Centroálcool.
Procurado, Balestra indicou para falar em seu nome Ademir Lima. Lima disse que é possível haver uma diferença de até 12% entre o total gasto e o declarado ao
TRE. Já o dono da Rio Negro,
Neílton Cruvinel Filho, disse que
a filha do deputado fez um balanço para totalizar o quanto a Rio
Negro havia gasto na campanha
de Balestra. Segundo ele, do total
que a Rio Negro destinou à campanha, R$ 1 milhão seria abatido
da dívida e convertido em doação.
Assim, o deputado ficaria devendo à Rio Negro R$ 2,2 milhões.
A doação de R$ 1 milhão, destinada à campanha eleitoral de Balestra, consta de contrato em que
advogado e deputado acertam repassar um ao outro, mediante
condições acertadas em julho de
2003, 50% do controle das empresas Rio Negro e Centroálcool.
O acerto para o caixa eleitoral
consta da cláusula 13ŠA do Contrato de Transferência de Ações e
Outras Avenças. O dinheiro, conforme o documento que foi arrolado em processo judicial que tramita na Justiça de Goiás, diz: "Dos
valores já retirados por Roberto
será abatida quantia de R$ 1 milhão, a qual será considerada como doação voluntária da [empresa] Rio Negro S/A para sua campanha a deputado federal".
A contabilidade de Garcita Balestra contempla, além de receitas, despesas não declaradas e
também apresentadas com valores subfaturados ao TRE. No bloco das despesas, os serviços do piloto Juarez Fonseca Santos não
foram informados. Segundo Garcita, o item custou R$ 48,59 mil.
A empresa para a qual o piloto
trabalha, a Aerotec Táxi Aéreo,
confirmou ter Balestra entre seus
clientes, o que inclui a prestação
de serviços na campanha de 2002,
segundo a diretora comercial da
companhia, Ana Lídia Santos.
Quanto à divulgação do valor recebido, isso seria, segundo ela,
opção do cliente. O uso de transporte aéreo também foi confirmado pelo tesoureiro e pelo coordenador da campanha de Balestra.
O contraste entre os dados informados ao TRE e a contabilidade de Garcita revela despesas subfaturadas. O documento reservado registra repasses de álcool da
Rio Negro para distribuidoras e
postos que se transformaram em
R$ 652,17 mil revertidos para a
campanha. Balestra informou ao
TRE ter gasto R$ R$ 70,95 mil
com combustíveis e lubrificantes.
Outro exemplo: os serviços da
gráfica Moura oficialmente teriam custado R$ 30 mil. Nos registros reservados, chegam a R$
312,36 mil. Sócio da gráfica, Humberto Moura confirma ter Balestra entre seus clientes, mas nega
os valores anotados por Garcita:
"Na campanha inteira eu não faturei R$ 100 mil". Balestra está licenciado da Câmara desde abril.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Outro lado: Balestra afirma que não cuidou da contabilidade Índice
|