São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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GOIÁS

Papéis revelam que Balestra gastou R$ 3,63 mi, mas só informou R$ 597,37 mil

Deputado do PP usou caixa 2 em 2002

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Planilhas obtidas pela Folha indicam que o deputado federal Roberto Balestra (PP-GO) pode ter gasto pelo menos seis vezes mais do que informou à Justiça Eleitoral na campanha de 2002.
As planilhas revelam, em detalhes, despesas que somam R$ 3,63 milhões. No TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Goiás, Balestra registrou gastos de R$ 597,37 mil. O conflito dos valores indica a existência de um caixa dois.
A contabilidade paralela é assinada por uma das filhas do deputado. Garcita Jacomo Balestra organiza em planilhas a origem e o destino do dinheiro. Ela é mulher de Rogério Simão de Lima, tesoureiro da campanha de Balestra.
Segundo a contabilidade de Garcita, o dinheiro para pagar os produtos e serviços comprados têm duas fontes: a empresa Rio Negro S/A (R$ 1.620.033,56) e "recursos próprios" do candidato (R$ 2.014.183,97). O pacote de "recursos próprios" inclui "doações diversas" (R$ 50,5 mil) e um empréstimo de R$ 1,580 milhão bancado pelos cofres da Rio Negro. Balestra e a Rio Negro, do advogado Neílton Cruvinel Filho, travam uma disputa judicial pelo comando da destilaria Centroálcool.
Procurado, Balestra indicou para falar em seu nome Ademir Lima. Lima disse que é possível haver uma diferença de até 12% entre o total gasto e o declarado ao TRE. Já o dono da Rio Negro, Neílton Cruvinel Filho, disse que a filha do deputado fez um balanço para totalizar o quanto a Rio Negro havia gasto na campanha de Balestra. Segundo ele, do total que a Rio Negro destinou à campanha, R$ 1 milhão seria abatido da dívida e convertido em doação. Assim, o deputado ficaria devendo à Rio Negro R$ 2,2 milhões.
A doação de R$ 1 milhão, destinada à campanha eleitoral de Balestra, consta de contrato em que advogado e deputado acertam repassar um ao outro, mediante condições acertadas em julho de 2003, 50% do controle das empresas Rio Negro e Centroálcool.
O acerto para o caixa eleitoral consta da cláusula 13ŠA do Contrato de Transferência de Ações e Outras Avenças. O dinheiro, conforme o documento que foi arrolado em processo judicial que tramita na Justiça de Goiás, diz: "Dos valores já retirados por Roberto será abatida quantia de R$ 1 milhão, a qual será considerada como doação voluntária da [empresa] Rio Negro S/A para sua campanha a deputado federal".
A contabilidade de Garcita Balestra contempla, além de receitas, despesas não declaradas e também apresentadas com valores subfaturados ao TRE. No bloco das despesas, os serviços do piloto Juarez Fonseca Santos não foram informados. Segundo Garcita, o item custou R$ 48,59 mil.
A empresa para a qual o piloto trabalha, a Aerotec Táxi Aéreo, confirmou ter Balestra entre seus clientes, o que inclui a prestação de serviços na campanha de 2002, segundo a diretora comercial da companhia, Ana Lídia Santos. Quanto à divulgação do valor recebido, isso seria, segundo ela, opção do cliente. O uso de transporte aéreo também foi confirmado pelo tesoureiro e pelo coordenador da campanha de Balestra.
O contraste entre os dados informados ao TRE e a contabilidade de Garcita revela despesas subfaturadas. O documento reservado registra repasses de álcool da Rio Negro para distribuidoras e postos que se transformaram em R$ 652,17 mil revertidos para a campanha. Balestra informou ao TRE ter gasto R$ R$ 70,95 mil com combustíveis e lubrificantes.
Outro exemplo: os serviços da gráfica Moura oficialmente teriam custado R$ 30 mil. Nos registros reservados, chegam a R$ 312,36 mil. Sócio da gráfica, Humberto Moura confirma ter Balestra entre seus clientes, mas nega os valores anotados por Garcita: "Na campanha inteira eu não faturei R$ 100 mil". Balestra está licenciado da Câmara desde abril.


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