São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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BRASIL PROFUNDO

Proprietário da NSAP, que paga ao funcionalismo, diz que empresa não é banco e não tem de checar cadastros

"Gafanhotos" de Roraima possuem CPFs irregulares

ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A BOA VISTA

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os três deputados estaduais que mais indicaram funcionários para receber por procuração os salários pagos pelo governo de Roraima têm entre os seus apadrinhados gente que está em débito com a Receita Federal há até dois anos.
Esses funcionários -chamados de "gafanhotos" por "comerem" a folha de pagamento- outorgaram procuração a pessoas próximas desses deputados. A Folha checou o CPF de 84 funcionários ligados a esses três deputados. Nove estão irregulares. Ou seja: ou seus proprietários não declararam Imposto de Renda em 2000 ou 2001. Há pessoas que se incluem nas duas categorias.
Entre janeiro e julho, os procuradores ligados a esses deputados -Jalser Renier (PFL), Vera Regina (PST) e Sérgio Ferreira (PDT)- receberam R$ 2,8 milhões em salários. O montante foi retirado em 1.353 saques, efetuados no caixa da empresa Norte Serviços de Arrecadação e Pagamentos Ltda (NSAP), que paga ao funcionalismo.
Oscar Maggi, proprietário da NSAP, diz que, como sua empresa não é um banco, não está obrigada a checar a regularidade dos CPFs. Os salários pagos por procuração, entre janeiro e julho, somam R$ 7 milhões. A seguir, trechos da entrevista, feita na sexta.

Folha - Nunca lhe pareceu estranho que 20 pessoas tivessem procuração para receber o salário de outras 319?
Oscar Maggi
- Fui gerente de banco 19 anos [Itaú". No banco é um procedimento normal nomear um procurador para abrir uma conta, movimentar, pagar.

Folha - O sr. sabe que há pessoas que recebem dinheiro por meio da sua empresa que têm CPF cancelado ou pendente de regularização?
Maggi
- Não sei. Se meu sistema fosse como o do Bacen [Banco Central", teria como saber.

Folha - Mas até daqui da Folha posso entrar na página da Receita Federal e saber sua situação. Não é sua obrigação conferir os CPFs de quem recebe salário pela NSAP?
Maggi
- Vamos analisar. Mandam [o governo" para a empresa um disquete que diz: pagar tantos reais para fulano de tal que vem da folha [de pagamento" de número tal. Mandam [o governo" o dinheiro, e eu entrego para a pessoa. A pessoa chega [no caixa da empresa" e diz: sou o fulano de tal, está aqui minha identidade. Você sabe que o CPF não é documento de identidade. Não posso usar isso para identificação, logo não tenho como saber se ele está cadastrado, se pagou imposto de renda. Não tenho como saber isso. Não sou uma agência bancária.

Folha - O sr. já viu as procurações por meio das quais a NSAP paga?
Maggi
- Para que eu iria ler as procurações? Ficam cópias aqui, arquivadas em disquetes. Esse material foi inclusive roubado da empresa. Ou como você acha que isso teria chegado até você? Você está falando de um documento que foi roubado e montado. Se você quer fazer uma matéria imparcial, faça bem feito. Venha aqui que eu te dou toda a documentação da minha empresa e te mostro como funciona. Quero que saia a verdade para quem vai ler seu jornal. Sou leitor da Folha.


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