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BRASIL PROFUNDO
Proprietário da NSAP, que paga ao funcionalismo, diz que empresa não é banco e não tem de checar cadastros
"Gafanhotos" de Roraima possuem CPFs irregulares
ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A BOA VISTA
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os três deputados estaduais que
mais indicaram funcionários para
receber por procuração os salários pagos pelo governo de Roraima têm entre os seus apadrinhados gente que está em débito com
a Receita Federal há até dois anos.
Esses funcionários -chamados
de "gafanhotos" por "comerem"
a folha de pagamento- outorgaram procuração a pessoas próximas desses deputados. A Folha
checou o CPF de 84 funcionários
ligados a esses três deputados.
Nove estão irregulares. Ou seja:
ou seus proprietários não declararam Imposto de Renda em 2000
ou 2001. Há pessoas que se incluem nas duas categorias.
Entre janeiro e julho, os procuradores ligados a esses deputados
-Jalser Renier (PFL), Vera Regina (PST) e Sérgio Ferreira
(PDT)- receberam R$ 2,8 milhões em salários. O montante foi
retirado em 1.353 saques, efetuados no caixa da empresa Norte
Serviços de Arrecadação e Pagamentos Ltda (NSAP), que paga ao
funcionalismo.
Oscar Maggi, proprietário da
NSAP, diz que, como sua empresa
não é um banco, não está obrigada a checar a regularidade dos
CPFs. Os salários pagos por procuração, entre janeiro e julho, somam R$ 7 milhões. A seguir, trechos da entrevista, feita na sexta.
Folha - Nunca lhe pareceu estranho que 20 pessoas tivessem procuração para receber o salário de
outras 319?
Oscar Maggi - Fui gerente de
banco 19 anos [Itaú". No banco é
um procedimento normal nomear um procurador para abrir
uma conta, movimentar, pagar.
Folha - O sr. sabe que há pessoas
que recebem dinheiro por meio da
sua empresa que têm CPF cancelado ou pendente de regularização?
Maggi - Não sei. Se meu sistema
fosse como o do Bacen [Banco
Central", teria como saber.
Folha - Mas até daqui da Folha
posso entrar na página da Receita
Federal e saber sua situação. Não é
sua obrigação conferir os CPFs de
quem recebe salário pela NSAP?
Maggi - Vamos analisar. Mandam [o governo" para a empresa
um disquete que diz: pagar tantos
reais para fulano de tal que vem
da folha [de pagamento" de número tal. Mandam [o governo" o
dinheiro, e eu entrego para a pessoa. A pessoa chega [no caixa da
empresa" e diz: sou o fulano de tal,
está aqui minha identidade. Você
sabe que o CPF não é documento
de identidade. Não posso usar isso para identificação, logo não tenho como saber se ele está cadastrado, se pagou imposto de renda.
Não tenho como saber isso. Não
sou uma agência bancária.
Folha - O sr. já viu as procurações
por meio das quais a NSAP paga?
Maggi - Para que eu iria ler as
procurações? Ficam cópias aqui,
arquivadas em disquetes. Esse
material foi inclusive roubado da
empresa. Ou como você acha que
isso teria chegado até você? Você
está falando de um documento
que foi roubado e montado. Se
você quer fazer uma matéria imparcial, faça bem feito. Venha
aqui que eu te dou toda a documentação da minha empresa e te
mostro como funciona. Quero
que saia a verdade para quem vai
ler seu jornal. Sou leitor da Folha.
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