São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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PT reage a "alerta" do Fundo sobre inflação e admite tensão eleitoral

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O principal assessor econômico de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Guido Mantega, criticou ontem o atual governo por ter sido "ambicioso" demais ao fixar metas de inflação em detrimento do crescimento e admitiu a existência de um fator eleitoral na turbulência dos mercados.
"[O governo] foi ambicioso demais e olhou só para a questão da inflação. Você tem que ter a inflação de acordo com as condições do país, não adianta querer ter uma inflação da Suíça se você não está na Suíça", disse à Folha.
Um governo Lula, segundo ele, buscaria uma política monetária mais "eficiente", em que a necessidade de crescer tivesse mais peso na equação. A atual política teria falhado no controle da inflação e impedido o crescimento.
O comentário de Mantega veio na esteira de crítica feita ontem nos EUA pela diretoria do FMI à idéia de afrouxar um pouco a política monetária brasileira, em nome de maior crescimento.
Mantega refuta a afirmação de que o PT iria "afrouxar" a política monetária. Lula, diz ele, terá como prioridade reverter a situação atual, em que preços administrados pelo governo -energia, combustíveis- acabam tendo impacto desproporcional na taxa de inflação, pelo atrelamento ao dólar.
Ele procurou reafirmar o compromisso do partido com a estabilidade. "Não há conflito entre inflação baixa e crescimento. Quando a economia não cresce, você tem capacidade ociosa e custos fixos mais elevados", disse.
A questão de manter metas de inflação é polêmica no partido desde que surgiu em documento interno em junho do ano passado. A ponto de um dos principais economistas petistas, Ricardo Carneiro, ter sido alijado do núcleo do partido após dar entrevista em que condenava o sistema.
Hoje, o PT aceita o modelo, mas quer conjugá-lo a metas de emprego e crescimento. Ao referir-se à excessiva "ambição" do atual governo, Mantega lembrou que Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a reajustar sua meta de inflação para 2003 -era de 3,25%, passou para 4%.
Mantega reconheceu ainda a existência de um componente eleitoral na recente turbulência no mercado financeiro. Há o receio de alguns investidores de vitória no primeiro turno de Lula.
"O que dá nervosismo ao mercado em parte é a indefinição, o imponderável. Claro que se o candidato dos banqueiros [Serra] estivesse na frente, seria mais tranquilizador [para o mercado]."
A análise destoa em parte do apregoado por Lula, que se esforça para dizer que a instabilidade financeira não tem relação com a eleição e deve-se apenas à vulnerabilidade externa do país.
O assessor petista disse que o fator eleitoral e as condições estruturais da economia "se somam" na explicação para a turbulência.
Ele comparou a atual situação no Brasil com eleições em outros países vencidas pela oposição, também precedidas de tensão nos mercados. "Aconteceu no México, quando se elegeu [Vicente] Fox, na Inglaterra quando se elegeu o [Tony] Blair."


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