|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PT reage a "alerta" do Fundo sobre inflação e admite tensão eleitoral
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O principal assessor econômico
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
Guido Mantega, criticou ontem o
atual governo por ter sido "ambicioso" demais ao fixar metas de
inflação em detrimento do crescimento e admitiu a existência de
um fator eleitoral na turbulência
dos mercados.
"[O governo] foi ambicioso demais e olhou só para a questão da
inflação. Você tem que ter a inflação de acordo com as condições
do país, não adianta querer ter
uma inflação da Suíça se você não
está na Suíça", disse à Folha.
Um governo Lula, segundo ele,
buscaria uma política monetária
mais "eficiente", em que a necessidade de crescer tivesse mais peso na equação. A atual política teria falhado no controle da inflação
e impedido o crescimento.
O comentário de Mantega veio
na esteira de crítica feita ontem
nos EUA pela diretoria do FMI à
idéia de afrouxar um pouco a política monetária brasileira, em nome de maior crescimento.
Mantega refuta a afirmação de
que o PT iria "afrouxar" a política
monetária. Lula, diz ele, terá como prioridade reverter a situação
atual, em que preços administrados pelo governo -energia, combustíveis- acabam tendo impacto desproporcional na taxa de inflação, pelo atrelamento ao dólar.
Ele procurou reafirmar o compromisso do partido com a estabilidade. "Não há conflito entre
inflação baixa e crescimento.
Quando a economia não cresce,
você tem capacidade ociosa e custos fixos mais elevados", disse.
A questão de manter metas de
inflação é polêmica no partido
desde que surgiu em documento
interno em junho do ano passado.
A ponto de um dos principais
economistas petistas, Ricardo
Carneiro, ter sido alijado do núcleo do partido após dar entrevista em que condenava o sistema.
Hoje, o PT aceita o modelo, mas
quer conjugá-lo a metas de emprego e crescimento. Ao referir-se
à excessiva "ambição" do atual
governo, Mantega lembrou que
Fernando Henrique Cardoso foi
obrigado a reajustar sua meta de
inflação para 2003 -era de
3,25%, passou para 4%.
Mantega reconheceu ainda a
existência de um componente
eleitoral na recente turbulência
no mercado financeiro. Há o receio de alguns investidores de vitória no primeiro turno de Lula.
"O que dá nervosismo ao mercado em parte é a indefinição, o
imponderável. Claro que se o candidato dos banqueiros [Serra] estivesse na frente, seria mais tranquilizador [para o mercado]."
A análise destoa em parte do
apregoado por Lula, que se esforça para dizer que a instabilidade
financeira não tem relação com a
eleição e deve-se apenas à vulnerabilidade externa do país.
O assessor petista disse que o fator eleitoral e as condições estruturais da economia "se somam"
na explicação para a turbulência.
Ele comparou a atual situação
no Brasil com eleições em outros
países vencidas pela oposição,
também precedidas de tensão nos
mercados. "Aconteceu no México, quando se elegeu [Vicente]
Fox, na Inglaterra quando se elegeu o [Tony] Blair."
Texto Anterior: Calor de Campanha Próximo Texto: Malan volta a cobrar aval dos presidenciáveis Índice
|