São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 2002

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RAZÃO DE VOTO

Os últimos atos

MAURO FRANCISCO PAULINO

Após quase um ano de campanha, o eleitor está a duas semanas de seu encontro com as urnas. Ao mesmo tempo em que Lula atinge sua maior taxa histórica em pesquisas eleitorais do Datafolha no primeiro turno, um terço do eleitorado mostra-se ainda com algum grau de indecisão. Mas o espaço para roubar votos diminui rapidamente pois, nesse período, as intenções de voto cristalizam-se a cada dia.
Detalhes de cruzamentos da pesquisa Datafolha, realizada quase toda na última sexta-feira, revelam que, nesse momento, Lula conta com um cenário favorável para vencer já no primeiro turno, mas a parcela de eleitores que admite ainda mudar o voto é suficiente para impedir isso. Da mesma forma, pode levar qualquer um dos outros três postulantes para o segundo turno. Ou seja, como aconteceu ao longo de toda a campanha, o quadro permanece imprevisível.
O percentual dos que afirmam estar totalmente decididos vinha, até a pesquisa de 9 de setembro, estabilizado entre 62% e 64%, saltando para 69% no último dia 20. São eleitores com maior grau de decisão, que dificilmente serão convencidos a trocar de candidato. Estão mais concentrados entre os homens e os que têm nível superior de escolaridade.
Os eleitores menos decididos -formados pelos que se mostram indecisos na estimulada e pelos que escolhem alguém, mas cogitam mudar o voto- concentram-se, sobretudo, entre os menos escolarizados, entre as mulheres e na região Sul. Formam cerca de um terço do votantes.
Além da liderança ascendente, Lula conta também com o eleitorado mais decidido: apenas 20% dos que pretendem votar nele admitem mudar. Essa taxa sobe para 36% ou 37% entre os eleitores dos outros candidatos.
Outros fatores que favorecem Lula neste momento são seu crescimento de 11 pontos entre os mais escolarizados, de seis pontos entre as mulheres e de cinco pontos nos municípios até 10 mil eleitores. São movimentos que mostram o grau de dispersão de seus votos por todas as camadas sociais e geográficas.
Vale atentar que a ascensão de Lula, nesse período, deveu-se principalmente à definição de boa parte das mulheres, onde ganhou cerca de 3 milhões de votos. Estes estão concentrados entre as que têm nível superior de escolaridade, onde Lula passou de 39% para 55%, e entre as que têm renda familiar acima de 10 salários mínimos, onde passou de 38% para 51%. Com isso, a campanha de Lula supera também a dificuldade que apresentava nesse segmento.
Outro fator importante na ascensão de Lula é que, entre os mais escolarizados, houve uma transferência direta de eleitores de Ciro que se decidiram pelo candidato do PT.
Para acrescentar imprevisibilidade, as últimas investidas dos candidatos para fixar o voto e tentar roubar eleitores de outros serão feitas por meio de novas rodadas de entrevistas na TV em horário nobre, inclusive no Jornal Nacional. No horário eleitoral gratuito, cuja audiência e interesse voltarão a crescer a partir de agora, serão lançadas as últimas cartadas. O último debate, a três dias do pleito, terá ondas de repercussão que chegarão até as filas de votação. Após a troca de idéias e, possivelmente, de "colas" nas filas, o eleitor estará, finalmente, sozinho com a urna. Seu desempenho diante de seis votações diferentes, em ordem ilógica após o martírio das filas, será o último momento imprevisível desta eleição.


MAURO FRANCISCO PAULINO, diretor-geral do Datafolha, escreve às terças-feiras nesta coluna



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