|
Texto Anterior | Índice
RAZÃO DE VOTO
Os últimos atos
MAURO FRANCISCO PAULINO
Após quase um ano de campanha, o eleitor está a duas semanas de seu encontro com as urnas. Ao mesmo tempo em que Lula atinge sua maior taxa histórica
em pesquisas eleitorais do Datafolha no primeiro turno, um terço
do eleitorado mostra-se ainda
com algum grau de indecisão.
Mas o espaço para roubar votos
diminui rapidamente pois, nesse
período, as intenções de voto cristalizam-se a cada dia.
Detalhes de cruzamentos da
pesquisa Datafolha, realizada
quase toda na última sexta-feira,
revelam que, nesse momento, Lula conta com um cenário favorável para vencer já no primeiro
turno, mas a parcela de eleitores
que admite ainda mudar o voto é
suficiente para impedir isso. Da
mesma forma, pode levar qualquer um dos outros três postulantes para o segundo turno. Ou seja,
como aconteceu ao longo de toda
a campanha, o quadro permanece imprevisível.
O percentual dos que afirmam
estar totalmente decididos vinha,
até a pesquisa de 9 de setembro,
estabilizado entre 62% e 64%, saltando para 69% no último dia 20.
São eleitores com maior grau de
decisão, que dificilmente serão
convencidos a trocar de candidato. Estão mais concentrados entre
os homens e os que têm nível superior de escolaridade.
Os eleitores menos decididos
-formados pelos que se mostram
indecisos na estimulada e pelos
que escolhem alguém, mas cogitam mudar o voto- concentram-se, sobretudo, entre os menos escolarizados, entre as mulheres e na região Sul. Formam cerca
de um terço do votantes.
Além da liderança ascendente,
Lula conta também com o eleitorado mais decidido: apenas 20%
dos que pretendem votar nele admitem mudar. Essa taxa sobe para 36% ou 37% entre os eleitores
dos outros candidatos.
Outros fatores que favorecem
Lula neste momento são seu crescimento de 11 pontos entre os
mais escolarizados, de seis pontos
entre as mulheres e de cinco pontos nos municípios até 10 mil eleitores. São movimentos que mostram o grau de dispersão de seus
votos por todas as camadas sociais e geográficas.
Vale atentar que a ascensão de
Lula, nesse período, deveu-se
principalmente à definição de
boa parte das mulheres, onde ganhou cerca de 3 milhões de votos.
Estes estão concentrados entre as
que têm nível superior de escolaridade, onde Lula passou de 39%
para 55%, e entre as que têm renda familiar acima de 10 salários
mínimos, onde passou de 38%
para 51%. Com isso, a campanha
de Lula supera também a dificuldade que apresentava nesse segmento.
Outro fator importante na ascensão de Lula é que, entre os
mais escolarizados, houve uma
transferência direta de eleitores
de Ciro que se decidiram pelo
candidato do PT.
Para acrescentar imprevisibilidade, as últimas investidas dos
candidatos para fixar o voto e
tentar roubar eleitores de outros
serão feitas por meio de novas rodadas de entrevistas na TV em
horário nobre, inclusive no Jornal
Nacional. No horário eleitoral
gratuito, cuja audiência e interesse voltarão a crescer a partir de
agora, serão lançadas as últimas
cartadas. O último debate, a três
dias do pleito, terá ondas de repercussão que chegarão até as filas de votação. Após a troca de
idéias e, possivelmente, de "colas"
nas filas, o eleitor estará, finalmente, sozinho com a urna. Seu
desempenho diante de seis votações diferentes, em ordem ilógica
após o martírio das filas, será o
último momento imprevisível
desta eleição.
MAURO FRANCISCO PAULINO,
diretor-geral do Datafolha, escreve
às terças-feiras nesta coluna
Texto Anterior: SP se divide sobre violência da PM Índice
|