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Escutas revelam acordos prévios
entre empresas
DA FOLHA RIBEIRÃO
DO ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO
As escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelam supostos acertos prévios entre
empresas de lixo da região de
Ribeirão Preto (SP) para participação em licitações públicas.
Interceptações de telefonemas de executivos e ex-executivos da Leão Leão, a maior do
setor na cidade, foram feitas a
pedido do Ministério Público
de Ribeirão, que apura suposto
esquema de fraudes em disputas por contratos públicos.
Um dos grampeados foi o advogado Rogério Tadeu Buratti,
41, filiado ao PT e implicado no
caso Waldomiro Diniz. Foi secretário municipal do atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na primeira gestão na
Prefeitura de Ribeirão (93-96).
Segundo as transcrições, numa conversa grampeada em 22
de julho último, o diretor comercial da Leão Ambiental,
Marcelo Franzine, combina
com uma pessoa identificada
como "Flávio", executivo da
empresa MB Engenharia, estratégia para disputar licitação.
"De qualquer maneira, eu "tô"
me propondo a entrar com o
preço lá pra cima. Só pra constar", disse "Flávio". "A gente
pode fazer, se for o caso, uma
composição", propõe Franzine. "Pra gente conversar disso,
eu preciso compor o meu preço. E para compor o meu preço, eu preciso do teu preço",
disse o executivo da Leão Leão.
Na manhã do dia seguinte, os
dois voltam a conversar. Há
impasse sobre o preço que
Franzine propõe apresentar
em acordo com a MB. O concorrente sugere outra saída. "A
gente podia compor "pros" outros negócios o contrário (...).
De repente, a gente tem como
entrar até com a MB, num preço com uma administração
menor que a da Leão, e sobra
uma margem maior, a gente
acerta entre nós. Em vez de ganhar a Leão, ganha a MB, e a
gente fica combinado que o físico era mantido, o pessoal da
coleta", afirma o empresário.
No mesmo dia, Franzine telefona para seu superior, o presidente da Leão Ambiental, Wilney Barquete, para afirmar que
falou com a MB. Frazine narra
que, na conversa com o concorrente, foi acertada uma estratégia futura, que poderia envolver uma terceira empresa, a
Silcon, com vistas a atingir o
mercado do lixo em Campinas.
Segundo o relatório das interceptações telefônicas, enviado ao Judiciário, os acertos cogitavam usar empresas laranjas
para mover ações judiciais
combinadas de modo a dificultar disputas que fugissem do
controle da Leão Leão.
Em 8 de junho, conversa foi
gravada entre o vereador José
Aprígio de Oliveira (PMDB) e
Franzine. O vereador diz ter tido "boa idéia" para tentar garantir à empresa acesso ao contrato -entrar contra a prefeitura com um recurso judicial.
"Vocês entram [com o recurso] aqui mesmo (...). Pode ser
até pela Stemag, né? Pra não
aparecer a Leão, sei lá", sugere
o vereador. A Stemag é parceira da Leão Leão na coleta de lixo em Ribeirão. Procurada, a
direção da Stemag não foi localizada, assim como os responsáveis pela MB.
(RP e RV)
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