São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Escutas revelam acordos prévios entre empresas

DA FOLHA RIBEIRÃO
DO ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO

As escutas telefônicas autorizadas pela Justiça revelam supostos acertos prévios entre empresas de lixo da região de Ribeirão Preto (SP) para participação em licitações públicas.
Interceptações de telefonemas de executivos e ex-executivos da Leão Leão, a maior do setor na cidade, foram feitas a pedido do Ministério Público de Ribeirão, que apura suposto esquema de fraudes em disputas por contratos públicos.
Um dos grampeados foi o advogado Rogério Tadeu Buratti, 41, filiado ao PT e implicado no caso Waldomiro Diniz. Foi secretário municipal do atual ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na primeira gestão na Prefeitura de Ribeirão (93-96).
Segundo as transcrições, numa conversa grampeada em 22 de julho último, o diretor comercial da Leão Ambiental, Marcelo Franzine, combina com uma pessoa identificada como "Flávio", executivo da empresa MB Engenharia, estratégia para disputar licitação.
"De qualquer maneira, eu "tô" me propondo a entrar com o preço lá pra cima. Só pra constar", disse "Flávio". "A gente pode fazer, se for o caso, uma composição", propõe Franzine. "Pra gente conversar disso, eu preciso compor o meu preço. E para compor o meu preço, eu preciso do teu preço", disse o executivo da Leão Leão.
Na manhã do dia seguinte, os dois voltam a conversar. Há impasse sobre o preço que Franzine propõe apresentar em acordo com a MB. O concorrente sugere outra saída. "A gente podia compor "pros" outros negócios o contrário (...). De repente, a gente tem como entrar até com a MB, num preço com uma administração menor que a da Leão, e sobra uma margem maior, a gente acerta entre nós. Em vez de ganhar a Leão, ganha a MB, e a gente fica combinado que o físico era mantido, o pessoal da coleta", afirma o empresário.
No mesmo dia, Franzine telefona para seu superior, o presidente da Leão Ambiental, Wilney Barquete, para afirmar que falou com a MB. Frazine narra que, na conversa com o concorrente, foi acertada uma estratégia futura, que poderia envolver uma terceira empresa, a Silcon, com vistas a atingir o mercado do lixo em Campinas.
Segundo o relatório das interceptações telefônicas, enviado ao Judiciário, os acertos cogitavam usar empresas laranjas para mover ações judiciais combinadas de modo a dificultar disputas que fugissem do controle da Leão Leão.
Em 8 de junho, conversa foi gravada entre o vereador José Aprígio de Oliveira (PMDB) e Franzine. O vereador diz ter tido "boa idéia" para tentar garantir à empresa acesso ao contrato -entrar contra a prefeitura com um recurso judicial.
"Vocês entram [com o recurso] aqui mesmo (...). Pode ser até pela Stemag, né? Pra não aparecer a Leão, sei lá", sugere o vereador. A Stemag é parceira da Leão Leão na coleta de lixo em Ribeirão. Procurada, a direção da Stemag não foi localizada, assim como os responsáveis pela MB. (RP e RV)


Texto Anterior: Lixo paulista: SP está fechado para nós, diz empreiteiro
Próximo Texto: Delegado é exonerado após ação contra tucano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.